Apito arco-íris: Pioneiros LGBTQIA+ no Brasil foram os árbitros
Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, desde 2018, é editor de Esportes. Trabalhou na cobertura das copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Cidades do O POVO. Assinou coluna sobre cultura pop no Buchicho, sobre cinema no Vida&Arte e, atualmente, assumiu espaço sobre diversidade sexual e, agora, escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO. Twitter: @andrebloc
Apito arco-íris: Pioneiros LGBTQIA+ no Brasil foram os árbitros
Homossexualidade masculina no futebol é tabu mesmo em 2022. Mas na década de 1980, três árbitros enfrentaram o preconceito dentro de campo
Xingar o árbitro — ou a mãe dele — é um dos esportes favoritos do brasileiro. E, conforme qualquer mulher ou pessoa LGBTQIA+ sabe, o machismo e a homofobia costumam ser a linguagem usada na arquibancada contra os inimigos.
Como a memória nacional é curta e centralizada no eixo Sul-Sudeste, muitos nem sequer sabem sobre Jamerson Michel da Costa, o Messi, ex-goleiro potiguar e até hoje o único homem homossexual assumido do futebol profissional brasileiro. Um pioneiro ao sair do armário enquanto jogava pelo Palmeira-RN. Décadas antes dele, porém, outros fizeram história nos campos nacionais.
Jorge Emiliano dos Santos é um nome que talvez passe batido. Mas muitos lembram do juiz "Margarida", o mais famoso do trio das décadas de 1980 e 1990. Além dele, houve ainda Valter Senra, o "Bianca", e o cearense Paulino Rodrigues da Silva, o "Borboleta". Em comum, além da sexualidade, os apelidos jocosos, entre a infantilidade de termos considerados delicados ao machismo de nome feminino.
O contexto de árbitros é semelhante ao dos jogadores no que há de negativo no futebol. E completamente oposto no que há de bom. A cobrança, o ódio, a violência e os xingamentos ao que os apitadores são expostos é parecido ao que é oferecido aos atletas. Mas os homens do apito nunca serão alvo de idolatria, ao contrário dos homens da bola. Talvez o pioneirismo surja justamente disso. O rancor contra quem comanda as regras do jogo é meio que algo enraizado na cultura futebolística.
Conforme mencionei na coluna passada, dois árbitros escoceses se assumiram, décadas depois dos pioneiros nacionais. E certamente Craig Napier e Lloyd Wilson receberam muito mais apoio do que Jorge Emiliano, Valter e Paulino. Porque o sentido do mundo é o progresso. Há, inclusive, uma árbitra trans, a israelense Sapir Berman.
São milhares de árbitros no mundo. Certamente centenas são gays. Algumas dezenas deles no Brasil, arrisco dizer. Eles têm o direito de se assumir ou de seguir no armário, a depender do que julgarem mais importante. A nós, resta aceitar, apoiar e só xingar quando ele errar contra o nosso time. Mas sem atacar minorias ou mães, por favor.
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