Quanto mais gente melhor: o futebol fora do armário
Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, desde 2018, é editor de Esportes. Trabalhou na cobertura das copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Cidades do O POVO. Assinou coluna sobre cultura pop no Buchicho, sobre cinema no Vida&Arte e, atualmente, assumiu espaço sobre diversidade sexual e, agora, escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO. Twitter: @andrebloc
Quanto mais gente melhor: o futebol fora do armário
Um jogador inglês e dois árbitros escoceses se assumiram homossexuais recentemente. O Reino Unido, pioneiro com Justin Fashanu, ressurge no contexto LGBTQIA+
Jake Daniels, atacante inglês do Blackpool, resolveu se assumir gay aos 17 anos. Segundo o atleta, ele estava cansado de mentir a vida inteira. O que é curioso, porque ele nem sequer deixou a adolescência ainda. A revelação do jovem jogador foi recebida com apoio do time, torcedores e atletas de relevância internacional — algo incrível para uma promessa de um time de segunda divisão inglesa. A repercussão positiva é a maior novidade no contexto LGBTQIA+ da Inglaterra.
O primeiro a sair do armário dentro do futebol também veio da Inglaterra. Era 1990, e Jake Daniels só nasceria 15 anos depois de Justin Fashanu sair do armário. E sete anos após o pioneiro da causa LGBTQIA+ perder a batalha contra o preconceito. Entre a morte de Fashanu e a declaração de Daniel, nenhum homem se assumiu gay no futebol inglês.
Houve, porém, uma carta não assinada de um atleta da Premier League em 2020. Ele chamava a situação, o medo, o armário, de pesadelo. Mas não tinha coragem de dar o próximo passo. O que é compreensível diante da trágica histórica de Fashanu, que, quando se assumiu, jogava no futebol semi-profissional, apesar de ter sido considerado uma grande promessa no início da carreira.
A gente perde a perspectiva do quanto evoluímos. Fashanu era xingado antes mesmo de se assumir — diz-se que ele gostava de festas e frequentava boates gays abertamente. Daniels foi exaltado pelo príncipe William, segundo na linha da sucessão do trono britânico. Temos de comemorar.
E parece que algo mudou na água (na cerveja?) do Reino Unido. Na semana passada, os árbitros Craig Napier e Lloyd Wilson também se assumiram gays. E antes deles houve ainda o Josh Cavallo, para indicar que os ventos da mudança parecem soprar em toda Commonwealth.
Algumas notícias deixam a gente naquela sensação de que o progresso é um caminho inevitável. A política joga uma pá de cal no otimismo a cada semana, mas foram muitos passos dados.
Estima-se que sejam 5 mil jogadores profissionais homens no futebol inglês. Certamente Daniels não é o único gay. No Brasil, o número de atletas é o dobro. Não quero crer que todos eles sejam heterossexuais.
A luta só acaba quando o armário deixar de ser necessário. Daniels, Napier e Wilson, bem-vindos ao lado arco-íris. Que vocês sejam exemplos.
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