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Novo clipe de Lady Gaga é o melhor filme do Tim Burton em muito tempo?
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Arthur Gadelha é crítico de cinema do O POVO, ex-presidente da Aceccine e membro da Abraccine. Acompanha as estreias nacionais e os passos do cinema cearense, cobrindo eventos internacionais como Cannes, Gramado, Globo de Ouro e Oscar. Nessa coluna, propõe uma escrita mais imersiva com análises e reflexões pessoais, trazendo também bastidores de filmes, festivais e premiações, além de refletir sobre o papel da crítica de arte no mundo

Arthur Gadelha arte e cultura

Novo clipe de Lady Gaga é o melhor filme do Tim Burton em muito tempo?

Bem… esse não é, necessariamente, um elogio
Lady Gaga e Tim Burton no set de
Foto: Reprodução/Netflix Lady Gaga e Tim Burton no set de "Wandinha"

Quando Lady Gaga foi anunciada no elenco de “Wandinha”, série popular da Netflix, especulou-se o óbvio: será que ela perderia a oportunidade de gravar um clipe com Tim Burton, produtor e diretor da série? A irreverência estética da cantora combina com pouquíssimos cineastas, como Baz Luhrmann e Yorgos Lanthimos, e Tim Burton definitivamente sempre foi um deles.

Dito e feito. Nesta quarta-feira, 3, a parte final da temporada foi lançada junto com a canção “The Dead Dance” (A Dança dos Mortos), originalmente escrita para seu álbum “Mayhem” e adaptada para a produção.

Quando o clipe abre com imagens em preto e branco numa sequência de bonecas macabras penduradas nas árvores, a certeza está posta: este é mesmo um filme de Tim Burton. É algo que ele faria em “A Noiva Cadáver” (2005) ou “Edward Mãos de Tesoura” (1990), principalmente quando elas sorriem para a câmera.

O curta-metragem foi filmado na chamada Ilha das Bonecas, em Xochimilco, México. O proprietário da pequena floresta foi tornando o lugar macabro ao pendurar centenas de bonecas ao longo do século XX, alimentando a lenda de que eram garotas que morreram afogadas. Burton e Gaga pegam essa mitologia emprestada para contar a história de quando uma dessas bonecas ganha vida… e dança.

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A simplicidade dramatúrgica do clipe, que basicamente filma a cantora caminhando pela ilha como um frankenstein recém-acordado, vem dividindo as reações de fãs na internet, mas eu fiquei pensando em outra coisa: com 4m46s, esse talvez seja o melhor filme do Tim Burton em muito tempo. Mas bem… isso não é, necessariamente, um elogio. Há quanto tempo Tim Burton não faz um grande filme?

Há um certo lamento coletivo em torno dessa percepção porque Burton foi um dos diretores mais criativos no cruzamento entre o cinema fantástico e o mercado mainstream.

Foi vanguardista na produção de animações stop motions e na consolidação de uma identidade visual única em torno do horror e da comédia. Como esquecer o mundo dos mortos de “Noiva Cadáver”, povoado por caveiras e insetos, que é muito mais colorido, divertido e confortável do que o mundo dos vivos?

Burton emprestou sua irreverência para sucessos consolidados como “Batman”, “Planeta dos Macacos”, e até “Alice no País das Maravilhas”. De repente, sua revolução estacionou.

Eu simpatizo bastante com “Beetlejuice 2” (2024), estrelado por Michael Keaton e Catherine O'Hara, ainda mais divertidos do que no episódio anterior, mas ele tem uma energia ainda muito limitada à sua nostalgia.

O último grande filme dele, eu suponho que seja “Sweeney Todd” (2007), adaptação de uma peça fúnebre sobre um barbeiro canibal. Até ali ele tinha um forte impulso na criação de imagens e histórias, interessado em fazer algo que ninguém mais faria sequer parecido. Virou repeteco.

Filmes como “Sombras da Noite” (2012), “O Lar das Crianças Peculiares” (2016) e “Dumbo” (2019) são tão frágeis que soam alguém na busca de imitá-lo.

Não há nada especial em “The Dead Dance” diante do que já fez Burton ou mesmo Gaga. Ela tem clipes mais estranhos como “Born This Way” (2011) e ele mesmo já dirigiu dois clipes macabros do The Killers.

Mesmo assim há um frescor cativante, especialmente pela música ser brincalhona e o vínculo com uma série adolescente fazer o projeto soar apenas despretensioso. Me fez lembrar daquele Burton que se bastava à diversão - ele ainda está entre nós?

Veja o clipe abaixo

Foto do Arthur Gadelha

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