Fábrica de automóvel começa com SKD ou CKD? Diferença é grande!
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Boris Feldman é mineiro, formado em Engenharia e Comunicação. Foi engenheiro da fábrica de peças para motores Metal Leve e editor de diversos cadernos de automóveis. Escreve a coluna sobre o setor automotivo no O POVO e em diversos outros jornais pelo país. Também possui quadro sobre veículos na rádio O POVO/CBN
Fábrica de automóvel começa com SKD ou CKD? Diferença é grande!
Chinesa que anuncia início de produção pode estar fabricando de fato um automóvel, ou só no faz de conta...
Foto: Pexels/Artem Podrez
Imagem ilustrativa de apoio
A produção de um automóvel é um longo e complexo processo. Envolve a fabricação de milhares de peças fundidas, usinadas ou estampadas. Organizar um outro tanto vindas de fornecedores. Os processos de manufatura: ordenar, pintar e agregar milhares de componentes em operações de montagem, fixação ou solda.
Até chegar ao fim da linha e pronto para a concessionária, são dezenas de ações paralelas com fornecedores diretos e indiretos, sistemistas, controles, serviços terceirizados, etc.
Aliás, por motivos quase incompreensíveis, a palavra “montadora” passou recentemente a denominar uma fábrica de automóveis. Só mesmo quem nunca entrou numa fábrica e viu tremer o chão ao lado de uma prensa de estampagem de 30 toneladas...
Outra questão que se coloca, principalmente em relação às marcas estrangeiras recém-chegadas: a localização de componentes. Ou seja, a linha de montagem é abastecida com que percentual de peças produzidas no País ou importadas?
A rigor, 100% de componentes nacionais é praticamente impossível na produção de qualquer automóvel, principalmente com o advento da eletrônica. Os três principais materiais utilizados por um fabricante são o aço, o alumínio e o plástico.
O primeiro é um bom exemplo de commodity que tem preço internacional variável. Agravado pela variação cambial. E o novo presidente norte-americano ainda decidiu desequilibrar o mundo sem perceber que elevar tarifas não favorece país nenhum. Mas faz tremer os executivos do setor.
Quando uma empresa estrangeira decide instalar uma fábrica no País, há uma longa série de fatores adicionais que interferem no custo final do produto.
No caso do automóvel, que paga impostos absurdos mesmo produzido localmente, as contas são ainda mais complexas. Selecionar as empresas fabricantes de peças. Contratar uma equipe de engenharia para adequar o modelo às condições locais. Outra para destrinchar o emaranhado de leis trabalhistas, a maioria inexistente em outros países. Uma gigantesca logística.
As dezenas de tributações que exigem – no Brasil - uma equipe especializada às vezes maior que a área comercial. E os subsídios concedidos pelos governos federal e estadual para atraí-la. As diversas equipes de centenas de funcionários para cada etapa da produção.
O início desta operação compreende várias fases. Em geral, a primeira é a pura montagem de componentes que desembarcam de navio da matriz. O carro vem completamente desmontado e os operários o montam de volta, como num Lego. É a operação chamada CKD, ou “Completely Knocked Down”. Mas, muitos componentes vão sendo substituídos por outros produzidos localmente.
Começando por rodas, pneus, baterias, faróis, limpadores de parabrisa, e outros encaixados na carroceria. Numa segunda fase a carroceria é pintada e vidros, retrovisores, volante, frisos, grade, parachoques, paineis e bancos já são produzidos localmente.
As etapas vão se sucedendo e cresce o volume de componentes produzidos pela própria fábrica ou por terceiros, até que o carro esteja nacionalizado. O percentual de peças nacionais vai crescendo até atingir de 70% a 90%, o que varia em relação ao grau de sofisticação do modelo: quanto mais eletrônica e sofisticação, maior o percentual de importados.
Mas além do regime CKD, existe também o SKD, ou “Semi Knocked Down”. Nele, o automóvel chega parcialmente montado, e cabe à “fábrica” apenas apertar porcas e parafusos. Enche o tanque (ou carrega a bateria). Faz de conta que produz ...
O tema entrou nesses dias em evidência pelo número de chinesas que desembarcaram anunciando fabricação local. Entre as que já confirmaram datas, a GWM é um bom exemplo de fábrica que inicia suas operações no regime chamado CKD: desde o início ela vai aplicar vários componentes já nacionalizados e até a carroceria será pintada nas instalações que adquiriu da Mercedes-Benz, em Iracemápolis (SP).
Este regime da GWM define o início real de uma fábrica, pois sua equipe vai lidar na linha com os mesmos componentes que virão num futuro próximo, já produzidos na fábrica ou por terceiros. Executando portanto as mesmas operações necessárias para a montagem do automóvel, de para-choque a para-choque.
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