Estagiou como produtor na Rádio O POVO/CBN e repórter do portal de notícias O POVO. Na editoria de Política, atuou como estagiário e, desde janeiro de 2019, é repórter. Cobriu as eleições de 2018 e 2020. Participou da quarta fase do Projeto Comprova. A coluna é dedicada principalmente ao acompanhamento e análise do fenômeno da desinformação e das fake news. Como elas influenciam o cenário político e quais conteúdos fraudulentos têm mais repercussão
A disputa entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) pela Presidência da República, na etapa em que se encontra, atende às mais realistas e óbvias expectativas que foram criadas sobre o modo como cada um exploraria o aspecto emocional da consciência dos brasileiros, sempre determinante em períodos eleitorais, sobretudo quando se quer desgastar um adversário na parte decisiva de uma campanha. O que se esperava?
O uso eleitoreiro da fé, a partir daquela lógica maniqueísta de apontar que o "lado de lá" está aliado ao Satanás enquanto o "de cá", aos anjos divinos. A visita do então deputado federal Bolsonaro a uma loja maçônica, lá em 2017, esquentou os ânimos de apoiadores e opositores, já que tem forte entrada em segmentos evangélicos, ainda que se considere católico.
Em País de maioria católica e população crescentemente evangélica e neopentecostal, cristãos de vários matizes associam a comunidade maçônica ao satanismo ou coisa parecida com isso. Há um potencial de causar danos ao presidente que ainda não é possível de aferir. Prejudicando ou não a candidatura, é falso dizer que Bolsonaro é satanista com base em sua presença em uma loja maçônica. Você, leitor, possivelmente conhece algum maçom e não sabe.
Como em 2018, os holofotes inicialmente se voltam para questões morais e saem daquelas relevantes para quem vai comer e quem vai passar fome, quem vai ter uma serviço digno de saúde e quem vai esperar ou quem vai trabalhar e quem vai ter porta batida na cara. Bolsonaro tem pouco a apresentar de concreto, por isso opta por travar a batalha no campo simbólico. Lula escolhe ser genérico sobre como pretende conduzir a economia do País, apelando ao sentimento positivo que gerou em camadas expressivas da população.
O líder petista foi alvo de campanhas mentirosas envolvendo a religião durante todas as eleições para presidente das quais participou - 1989, 1994, 1998, 2002, 2006 e 2022. A tônicas das ações dos adversários de Lula e do PT é de que, se vitorioso, novo governo petista perseguiria cristãos, fecharia igrejas católicas e evangélicas, ignorando que um dos pilares sobre os quais o PT se ergue é, justamente, a Igreja Católica. A aversão à religião vista no marxismo clássico não foi preponderante no partido, tampouco marcou as ações dos governos Lula e Dilma.
Em uma peça publicada nas redes sociais do PT, alguns esclarecimentos sobre o tema foram feitos. Um deles, curioso, dizia que Lula nunca teve interlocução com o demônio. Sintomático dos tempos que atravessamos e da qualidade da discussão. É preciso dizer: puxada para as profundezas pelo que se convencionou chamar de bolsonarismo.
À coluna, Rodrigo Prando, cientista político do Instituto Mackenzie, cita que em 2018 a fabricação de mentiras estava fortemente concentrada no lado de Bolsonaro. Em 2022, há melhor distribuição. Ele projeta que o segundo turno deve ser inundado por toda sorte de fake news, com direito até mesmo a terias da conspiração.
O equívoco de André Janones
É digna de nota a atuação do deputado federal André Janones (Avante) como um dos entusiastas da campanha de Lula nas redes sociais. Tão deslumbrado quanto equivocado, leva ao pé da letra a tese absolutamente discutível - eu diria que errada - de que as armas utilizadas pelo bolsonarismo devem se voltar contra o atual presidente. Uma passada de vista pelas redes dele basta para ver, inclusive, como alguns posts têm tom espalhafatoso muito similar aos do bolsonarismo. Sem qualquer compromisso com a precisão dos fatos, ainda que para dá-los um sentido favorável às pretensões do PT.
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