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PT esmaga aliança com PDT; e agora, Camilo?
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O jornalista Carlos Mazza já foi repórter de Política, repórter investigativo, coordenou o núcleo de jornalismo de dados do O POVO e atualmente é colunista de Política

Carlos Mazza política

PT esmaga aliança com PDT; e agora, Camilo?

Tipo Análise
Escolha de Luizianne simboliza bem mais que um simples veto a uma aliança com o PDT (Foto: fábio lima)
Foto: fábio lima Escolha de Luizianne simboliza bem mais que um simples veto a uma aliança com o PDT

Após semanas de muitas interrogações e espera pelo governador Camilo Santana, o diretório do Partido dos Trabalhadores em Fortaleza decidiu bater o martelo e confirmar pré-candidatura da deputada federal Luizianne Lins à Prefeitura de Fortaleza. Na prática, a decisão torna bastante improvável uma composição entre PT e PDT na Capital, um ponto que é de extremo interesse do governador. Só resta saber, no entanto, qual será a opinião dele, petista com o cargo mais importante no Estado, sobre a resolução do partido.

No início de junho, Camilo chegou a exonerar o assessor de Articulação Política do governo, Nelson Martins (PT), dentro do prazo para a disputa deste ano. O gesto foi visto como sinal claro do interesse do governador em uma possível aproximação entre petistas e pedetistas, com possibilidade de lançamento do ex-deputado, aliado de longa data dos irmãos Cid e Ciro Gomes (PDT), como candidato tanto a prefeito ou como vice em uma chapa com o PDT.

A medida foi recebida com surpresa por líderes petistas locais, que não foram comunicados antes da decisão de Camilo nem tinham tido qualquer conversa neste sentido com ele. Na época, dirigentes do partido até suspenderam discussões sobre o assunto, na espera por uma aproximação maior do governador no debate. O convite para conversar, no entanto, ainda não ocorreu. Com Luizianne confirmada como pré-candidata, o mais provável é que nunca ocorra.

O perfil da candidata

A escolha da deputada e ex-prefeita por dois mandatos simboliza bem mais que um simples veto a uma aliança com o PDT no primeiro turno. Petista que nunca teve grandes relações com os Ferreira Gomes (vale lembrar que, em 2008, Ciro apoiou Patrícia Saboya contra a reeleição de Luizianne), a ex-prefeita nunca escondeu ter profundas desavenças com o Roberto Cláudio (PDT) e sua gestão.

Durante todo o governo do pedetista, vereadores diretamente ligados à deputada comandaram a oposição do prefeito na Câmara Municipal. Mesmo com nomes firmes na oposição pelo Pros, sob o comando do também pré-candidato de oposição Capitão Wagner, era o "núcleo Luizianne" que muitas vezes polarizava com a base aliada nos debates do Legislativo. A coisa tem componentes claros de ressentimento pela eleição de 2012, quando Roberto Cláudio desbancou o candidato da deputada, o hoje deputado Elmano de Freitas, em disputa acirrada e com muita pouca diplomacia entre ambas as partes.

Tendo tudo isso em vista, parece pouco provável que a candidatura de Luizianne tenha uma postura de "poupar" críticas ao prefeito durante a campanha, algo que é defendido por petistas próximos de Camilo Santana. Mais do que só disputar com o bolsonarismo (hoje, representado na figura de Wagner), a ex-prefeita entra na corrida eleitoral com o objetivo claro de colocar o legado de suas gestões contra o das administrações de Roberto Cláudio. Na possibilidade de um segundo turno sem Luizianne, entre candidatos do PDT e do Pros, há até a chance de que a petista "lave as mãos" e não apoie ninguém.

Afinal de contas, o que fizeram Cid e Ciro Gomes por Haddad (PT) no segundo turno de 2018?

E agora, Camilo?

A interrogação maior segue sendo a postura do governador nessa história toda. Até agora, Camilo tem feito muito pouco no sentido de sentar à mesa com petistas e dialogar montagem de chapas. Questionado sobre o tema, ainda segue a velha estratégia dos Ferreira Gomes de adiar o assunto para o limite dos prazos da Justiça Eleitoral.

Com uma forte dívida de lealdade com os Ferreira Gomes e a perspectiva de uma disputa acirrada do clã contra Capitão Wagner, também parece improvável que o governador queira repetir o que fez em 2016, quando se manteve neutro no primeiro turno entre a candidatura de Roberto Cláudio e de Luizianne. Em polarização que teve até retroescavadeira, é lógico que o governador vai querer se envolver.

Mesmo definida pelo diretório municipal, a pré-candidatura de Luizianne não foi homologada em convenção partidária e pode ser revista a qualquer momento. Agora, para que isso aconteça, Camilo tem que se pronunciar.

 

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