Logo O POVO+
Bolsonaro mal olhou para Jati; ainda bem
Foto de Carlos Mazza
clique para exibir bio do colunista

O jornalista Carlos Mazza já foi repórter de Política, repórter investigativo, coordenou o núcleo de jornalismo de dados do O POVO e atualmente é colunista de Política

Carlos Mazza política

Bolsonaro mal olhou para Jati; ainda bem

Tipo Análise
Bolsonaro durante inauguração de trecho do canal da transposição do Rio São Francisco, em 26 de junho de 2020 (Foto: Alan Santos/PR)
Foto: Alan Santos/PR Bolsonaro durante inauguração de trecho do canal da transposição do Rio São Francisco, em 26 de junho de 2020

Acidente que provocou a evacuação de duas mil pessoas em Jati, na semana passada, foi um escândalo. É só pesar os fatos: como uma obra federal de grande porte como a da transposição do rio São Francisco, que durou doze anos entre quatro presidentes, sofre um baque ainda nos primeiros testes? Empresa e governo podem jurar que o pior já passou, mas como ficam os 8 mil habitantes do município? Difícil imaginar quem consiga dormir com tranquilidade com a sombra de 29,2 milhões de metros cúbicos de água pairando logo acima.

Do lado positivo da coisa, se é que existe algum, cabe destacar a pronta e eficiente resposta do poder público no incidente. Poucas horas após constatado o vazamento de uma das adutoras da obra, técnicos do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) e da Defesa Civil já estavam no local. Na manhã seguinte, o ministro Rogério Marinho (MDR) e o governador Camilo Santana (PT) já estavam em Jati, organizando o auxílio às famílias atingidas. Nesse contexto, cooperação entre governos estadual e federal foi essencial para diminuir o pânico.

E é essa união que chama a atenção para outro fato peculiar: o silêncio de Jair Bolsonaro sobre o caso. Menos de um mês antes, o presidente esteve em Penaforte, município vizinho, para inaugurar trecho da mesma obra de transposição. Na ocasião, fez grande evento, acionou comportas e tirou fotos apontando para o céu. O gesto foi tentativa óbvia de Bolsonaro em garantir parcela de paternidade da obra, que teve só cerca de 5% de sua totalidade executada pelo atual governo. Na hora que a barragem de Jati ameaçou romper, no entanto, fez silêncio.

Política tem hora

Mas aí fica a questão: será que não foi melhor assim? Até agora, o presidente tem se mostrado mais eficaz em apontar dedos e tensionar o ambiente político, algo que faz com maestria desde o início da gestão. Ingredientes que muito pouco fariam para ajudar as famílias sob o risco de uma catástrofe em Jati. A própria enxurrada de fake news sem pé nem cabeça que circulou na semana passada, apontando que o acidente teria sido um ato de sabotagem a bomba tocado pela esquerda, já sinaliza o quão turvo é o ambiente político em torno do presidente.

Com a questão política fora da equação, a prioridade ficou - graças a Deus - com consertar o estrago e garantir a segurança das vítimas. Quase impossível imaginar o mesmo cenário caso Bolsonaro tivesse viajado a Jati.

 

Ceará ditador

O senador Eduardo Girão (Podemos-CE) subiu o tom sobre a Lei das Fake News do Ceará, aprovada em abril pela Assembleia Legislativa do Estado. Para o parlamentar, a legislação, criada para punir a disseminação de informações falsas com interesses políticos ou econômicos, é uma lei de "mordaça" que remete a "uma grande ditadura".

"É uma lei da censura, da mordaça, para intimidar o cidadão cearense que quer criticar político. Querem tirar das pessoas o direito de falar o que se pensa (...) estamos vendo uma arbitrariedade, uma escalada ditatorial em nosso estado, inclusive com a participação de integrantes do parlamento", diz. É importante, no entanto, destacar: A legislação, que não gerou grandes repercussões até agora, fala do uso político de informações falsas. De mentira. Algo que é sempre bom separar de opiniões.

 

Reta final

O cenário da eleição já tem data para ser definido em Fortaleza: 12 de setembro. Nesta data, será realizada convenção que oficializará nome do PDT, partido do prefeito Roberto Cláudio, para a disputa. Nesse sentido, chama atenção crescente mobilização tocada por setores do PT da Capital, como o deputado estadual Acrísio Sena, de olho em fazer a pré-candidata petista, Luizianne Lins, desistir da disputa. Na última semana, manifesto pregando união entre petistas e pedetistas ganhou adesão de parlamentares e ex-parlamentares de Fortaleza. Luizianne, no entanto, reafirma que candidatura já teve o martelo batido.

 

Foto do Carlos Mazza

Política é imprevisível, mas um texto sobre política que conta o que você precisa saber, não. Então, Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?