Em um evento sem a presença do governador do Ceará, Camilo Santana (PT), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) inaugurou as obras do eixo norte da transposição das águas do rio São Francisco, no trecho do canal que corta o município de Penaforte (552 km de Fortaleza), extremo Sul do estado.
Acompanhado de aliados, entre deputados federais e estaduais cearenses, além de ministros do Governo, Bolsonaro acionou as comportas em Pernambuco, que liberaram água para o reservatório de Jati (CE). De Penaforte, o fluxo seguirá por pelo menos dois meses antes de chegar ao Cinturão das Águas.
Ao todo, a obra, iniciada em 2007 e ainda não totalmente encerrada, custará R$ 12 bilhões e beneficiará 11 milhões de pessoas da região. O orçamento inicial era de R$ 4,5 bilhões. Controverso, o projeto capta água do São Francisco e os leva até bacias não perenes.
Na primeira visita ao Ceará depois das eleições de 2018, Bolsonaro disse que punha "fim a uma novela", referindo-se ao tempo de execução da obra. Iniciada no segundo mandato do ex-presidente Lula (PT), a intervenção atravessaria ainda os governos Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB), no qual atingiu 97% de conclusão, o mesmo percentual de hoje.
"Foi uma recomendação desde o início do governo que não deixaríamos nenhuma obra parada, e isso faz parte do compromisso nosso", disse Bolsonaro à emissora de TV estatal - o presidente não falou com jornalistas de outros veículos de imprensa, tampouco fez pronunciamento.
O ex-militar chegou ao Ceará por volta das 10 horas. Após desembarcar no aeroporto de Juazeiro do Norte, cidade caririense que está sob lockdown por causa da Covid-19, Bolsonaro sobrevoou canteiro de obras da ferrovia Transnordestina. Só então se dirigiu a Penaforte.
A comitiva era formada pelos ministros Tereza Cristina (Agricultura), Augusto Heleno (Segurança Institucional), Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) e Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional).
Único a falar com a imprensa, Marinho afirmou que há uma orientação no Planalto para "retomar essas obras" paradas e que "o mais importante neste momento é administrar para o conjunto dos brasileiros, independentemente da questão política de quem quer que seja".
Sobre a ausência de gestores estaduais, como os governadores Camilo e Paulo Câmara (PSB), de Pernambuco, o ministro assegurou que foi pessoalmente convidar os chefes de Executivo a participarem do evento de ontem.
"Os governadores foram visitados por mim pessoalmente. Na segunda estive com o governador de Pernambuco, na terça com o da Paraíba, na quarta com a governadora do Rio Grande do Norte e ontem (quinta) com o governador do Ceará", afirmou.
Emissário de Bolsonaro, Marinho admitiu que foi "convidar e tratar de obras hídricas importantes para os estados, mostrando a postura republicana do presidente".
Por nota, Camilo informou ontem que "só após superarmos este grave momento de pandemia deverei voltar ao local da transposição, para ver de perto as águas do São Francisco, já no nosso Cinturão das Águas, por onde seguirão para garantir segurança hídrica para a população cearense".
Hoje é um dia importante para o nosso Ceará: a chegada das águas do São Francisco, uma obra de imensa relevância para nosso estado. Que foi concebida e tocada no Governo Lula, com apoio do ex-ministro Ciro, e continuada pelos Governos Dilma, Temer e, agora, Jair Bolsonaro (Cont.)
— Camilo Santana (@CamiloSantanaCE) June 26, 2020
O petista lembrou ainda que a transposição "foi concebida e tocada no Governo Lula, com apoio do ex-ministro Ciro, e continuada pelos governos Dilma, Temer e, agora, Jair Bolsonaro".