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O povo dono de si
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Caroliny Braga é jornalista, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Ceará (UFC), pesquisadora em Mídias e Práticas Socioculturais. Dedicada ao estudo de meios e processos comunicacionais, há duas décadas, tem sido atenta à coisa de dar cabimento a histórias, à coisa de comer pelos ouvidos, à coisa perigosa e saliente que é contar

O povo dono de si

Cases protagonizados por mulheres e homens à proa de suas famílias, pela rapaziada "que segue em frente e segura o rojão", por um pessoal que vai com receio, mas vai
A ilustração é uma representação dos movimentos, do ir-se. Diz sobre dinâmica, sobre ser dona e dono de si (Foto: Ilustração de Alíria Aiara)
Foto: Ilustração de Alíria Aiara A ilustração é uma representação dos movimentos, do ir-se. Diz sobre dinâmica, sobre ser dona e dono de si

A comunicação é minha morada. A comunicação social! A comunicação muito propriamente no social. Até aqui, vivi missões profissionais e acadêmicas rentes às comunidades. Rentes e imersas em variados nichos populares, nas periferias. E tais territórios… Digo, as pessoas engenhosas de tais territórios tomaram minha atenção.

Hoje, sou preenchida pelos mais diversos enredos da vida real, por casos que contam sobre enfrentar e vencer contratempos da desigualdade social. Cases protagonizados por mulheres e homens à proa de suas famílias, pela rapaziada “que segue em frente e segura o rojão”. Uma turma que faz acontecer com visão organicamente estratégica. Um pessoal que vai com receio, mas vai, um povo dono de si.

A cada história que escuto, a certeza da importância de tornar evidente a cultura da periferia. A convicção sobre ser básico tornar claro que só se trata economia da periferia com olhar rigoroso à classe, etnia, moradia, educação. Tratar sobre a periferia pede prudência. A periferia empreende ao nascer de cada filha e filho. Empreende sobretudo por necessidade, não por querer. Os movimentos dos pequenos empreendedores periféricos não são retilíneos, em sua maioria. São trajetos com contornos, esquinas tortas, mas com a turma pagando pra ver.

E que não pareça, sob viés algum, que essa coluna é lugar pra romance. Vencer pelo cansaço não é bonito. Nem legal. Ter que trabalhar por três turnos, reinventar caminhos, o tempo inteiro, tá errado. Pobreza perpassa condição financeira, impacta nas mais diversas extensões da vida. Pular fora da pobreza não tem relação exclusiva e pura com obstinação e entusiasmo pessoal.

Essa coluna vai - sim - contar movimentos estratégicos, dizer da sagacidade duma gente que tem modificado a economia de suas famílias, de suas comunidades periféricas. Mas essa coluna irá no dorso, sem desprezar fatores estruturais e a necessidade das iniciativas públicas inclusivas.

Vai trazer luz a histórias de superação como a de Fátima Régis que, beirando a maioridade civil, saiu de Apodi, Rio Grande do Norte, no rumo da capital cearense. A ideia da potiguar era dar à família que pretendia constituir uma vida menos dura do que a enfrentada por ela, seus irmãos, sua mãe e seu pai. Adianto que houve barreiras, e que teve também o jogo de cintura e a consciência social dela.

Antecipo, ainda, que há risco notável de a lição de Fatinha e de outras trabalhadoras e trabalhadores também tomarem sua atenção… É que a economia tocada pela periferia tem um quê de vanguarda frequente. De reformulação coletiva. De lutas e avanços. Dum povo dono de si.

Feitos a mãos

É intencional ter pintura feita à mão ilustrando o pontapé deste espaço. A economia da periferia também é assim: feita a mãos, com mãos a obra. Os traços afetivos e firmes são da doutora em comunicação e mestra em artes Alíria Aiara. Ela, que tem fascínio pela rotina das pessoas e por contar histórias, presenteia a coluna com uma de suas obras. Uma arte com energia dinâmica, que performa, muito prontamente, o ir-se, que diz - também - sobre ser dona e dono de si.

Até já!

Na quarta-feira (16/4), a gente se encontra de novo - graças à Fatinha e seu case de dois gumes.

Foto do Caroliny Braga

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