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Um olhar urgente para as mães solo
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Reitora da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern), é graduada em Ciência da Computação, mestrado em Engenharia Elétrica, pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), doutora em Engenharia Elétrica e da Computação, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e Pós-Doutorado, no Massachusetts Institute of Technology (MIT/EUA)

Um olhar urgente para as mães solo

O fenômeno cresce, mas ainda encontra respostas insuficientes nas políticas públicas. Mais da metade dessas famílias vive abaixo da linha da pobreza, segundo o IBGE, e entre mulheres negras o índice chega a 64,4%
Mães solteiras têm prioridade para receber cestas básicas. (Foto: Divulgação/Cufa-CE)
Foto: Divulgação/Cufa-CE Mães solteiras têm prioridade para receber cestas básicas.

Sete em cada dez mulheres brasileiras são mães, e mais da metade cria os filhos de forma independente, sem a presença ou ajuda do outro genitor. A Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostra que, em dez anos, o número de domicílios chefiados por mães solo cresceu 17,8%, passando de 9,6 milhões para 11,3 milhões. Essa estatística representa histórias de esforço diário, escolhas difíceis e sobrecarga silenciosa.

O fenômeno cresce, mas ainda encontra respostas insuficientes nas políticas públicas. Mais da metade dessas famílias vive abaixo da linha da pobreza, segundo o IBGE, e entre mulheres negras o índice chega a 64,4%.

A desigualdade engloba vários aspectos, como renda, moradia digna, trabalho formal, educação, saúde, lazer, entre outros. Na educação superior, esses desafios não são diferentes: muitas mães universitárias tentam conciliar a responsabilidade da maternidade com os estudos, porém sem o suporte necessário.

Das 11 milhões de mães solo no Brasil, 1,3 milhão é formado por universitárias, e um quarto delas é composto por negras. Elas conciliam maternidade, trabalho e vida acadêmica, muitas vezes à custa do próprio descanso e da saúde mental. Sonhos interrompidos significam menos oportunidades de mobilidade social e de construir um futuro mais seguro para os filhos.

É essencial garantir bolsas permanência, criar estruturas de acolhimento e fortalecer programas de assistência estudantil que integrem cuidado, estudo e vida familiar, entre outras políticas de apoio que podem evitar a evasão dessas estudantes.

A ausência do outro responsável pela criança agrava a situação: 47% das mães solo não recebem pensão alimentícia, e 27% não têm qualquer compartilhamento da guarda ou dos cuidados. O peso da criação recai quase exclusivamente sobre elas. Garantir apoio às mães hoje também é investir na formação de meninos e meninas mais conscientes e igualitários, que poderão, no futuro, transformar a sociedade e equilibrar responsabilidades.

É urgente ampliar creches e escolas de tempo integral, fortalecer a cobrança de pensão alimentícia e incentivar a corresponsabilidade do outro genitor, a começar pelo reconhecimento da paternidade. As defensorias públicas de todo o país estão realizando o mutirão "Meu pai tem nome", com o objetivo de enfrentar um dos maiores desafios da infância no Brasil: a ausência paterna.

Mães solo não podem permanecer invisíveis. Além de um direito, garantir seu acesso e permanência na universidade é um investimento no futuro delas, de seus filhos e da sociedade. E, nesse caminho, a sororidade e o apoio mútuo entre mulheres se mostram aliados indispensáveis para que a educação se torne verdadeiramente transformadora, libertadora e emancipadora.

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