Oscar 2021: "O Som do Silêncio" apresenta drama sutil sobre baterista que perde a audição
João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.
Oscar 2021: "O Som do Silêncio" apresenta drama sutil sobre baterista que perde a audição
Longa do Prime Video, "O Som do Silêncio" acompanha a forma com que um músico de metal lida com uma repentina surdez. Drama sutil e independente surpreendeu com seis indicações ao Oscar
Ruben (Riz Ahmed) e Lou (Olivia Cooke) dividem a vida pessoal e profissional. O que os une é não apenas o afeto, mas também o metal. Casal de músicos, eles viajam pelos Estados Unidos em turnês do projeto que levam em conjunto. A realidade construída pelos dois, porém, é rompida por uma surpreendente sensação que acomete Ruben: repentinamente, ele passa a não conseguir mais ouvir. É esse o ponto de partida do drama "O Som do Silêncio", longa de estreia do diretor Darius Marder. A produção, original do Prime Video, está indicada a seis Oscars em 2021.
Estabelecendo o contexto principal de maneira direta, o filme se dedica ao longo das duas horas de duração a acompanhar o intenso processo pelo qual Ruben passa depois da perda da audição, das ações práticas aos sentimentos íntimos. Inicialmente confuso, o protagonista busca por soluções de maneira quase desesperada, tendo que lidar com dificuldades mais subjetivas, como a não aceitação e a necessidade de adaptação à nova condição, e também mais práticas, como a busca por um possíveltratamento.
O ponto de virada da narrativa e para o qual "O Som do Silêncio" dedica mais tempo e desenvolvimento se dá quando Ruben se soma a uma comunidade surda comandada por Joe (Paul Raci), um veterano da guerra do Vietnã que perdeu a audição em combate.
No local, pessoas surdas vivem de forma afastada da sociedade ouvinte, estabelecendo outra lógica não somente de comunicação, mas de vida e possibilidades. É neste contexto que o protagonista precisa lidar de forma mais direta e desarmada com a própria surdez e os mistos sentimentos do processo.
A chegada de Ruben na comunidade é marcada pela necessidade daquele "forasteiro" de viver um processo de adaptação à lógica do local. Na comunidade, ele precisa aprender linguagem de sinais, aproxima-se de outros moradores, passa a se integrar às atividades promovidas naquele coletivo.
Para além do acompanhamento do percurso do protagonista, o núcleo da comunidade ganha profundidade e relevo narrativos pela presença de Joe. Personagem coadjuvante da trama, ele tem importância simbólica na jornada de Ruben, além de também trazer questões próprias que se somam ao aspectoemocional do longa.
Em especial, vale destacar a delicada e repleta de humanidade performance do intérprete de Joe, Paul Raci. Alguns dados extra-filme, sobre a biografia do artista, adicionam ainda mais beleza à representação: o ator de 73 anos não é surdo na vida real, mas é filho de pais surdos e, por isso, ligado à comunidade, sendo inclusive membro de uma banda que se apresenta em linguagem de sinais. Marcado por sutileza, o trabalho dele no filme foi, felizmente, reconhecido pelo Oscar.
Ainda que se debruce em especial na situação do protagonista e nos sentimentos íntimos dele, "O Som do Silêncio" também dedica olhar especial, justamente, às relações entre Ruben e as pessoas que o rodeiam nessa jornada. Não somente Joe, com quem tem trocas honestas e de acolhimento, mas também Lou, companheira da qual acaba se afastando quando vai morar na comunidade, mas figura central para ele.
Estruturando-se dramaturgicamente de uma forma que se distancia de uma abordagem "edificante" mais conciliatória e rasa, "O Som do Silêncio" propõe resoluções até mesmo arriscadas, construindo e desconstruindo ideias, certezas e relações.
Melhor Filme Apesar de não ser um dos principais favoritos da disputa, a simples presença do filme na categoria já pode ser considerada uma vitória - ideia que se repete em outras das indicações
Melhor Ator Com o franco favoritismo de Chadwick Boseman (“A Voz Suprema do Blues”), Riz Ahmed deve parar na indicação. No entanto, em outro ano, a disputa poderia facilmente ser entre ele e Anthony Hopkins (“Meu Pai”), por exemplo
Melhor Ator Coadjuvante Mais um caso de "a indicação é a vitória", já que o sutil trabalho de Paul Raci conseguiu garantir reconhecimento na categoria, mas não teve tração ao longo da temporada
Melhor Roteiro Original Darius Marder dirige e escreve o longa, sendo estreante na posição de cineasta, mas não na de roteirista. Mesmo que tenha perdido indicação em Direção, foi reconhecido pelo roteiro direto e econômico
Melhor Edição A presença de um longa indicado a Melhor Filme na categoria de Melhor Edição, por dados históricos, é um sinal de mais chances na disputa pelo grande prêmio. A falta de indicação em Direção, porém, é o “pé no freio” para a produção
Melhor Som Vitória mais provável do longa, que tem em “Soul”, também ligado à música, o principal competidor. No entanto, a forma com que “O Som do Silêncio” elabora a ausência de escuta do personagem na camada sonora da obra deve prevalecer.
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