Oscar 2021: Com Anthony Hopkins, "Meu Pai" mergulha na subjetividade do envelhecimento
João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.
Oscar 2021: Com Anthony Hopkins, "Meu Pai" mergulha na subjetividade do envelhecimento
Indicado a seis Oscars, drama familiar "Meu Pai" apresenta trama de
envelhecimento assumindo o ponto de vista do idoso, interpretado por Anthony Hopkins
O cenário no qual se passa a maior parte do longa “Meu Pai”, dirigido e escrito por Florian Zeller, é um amplo apartamento em Londres com inúmeros cômodos, corredores e objetos que os compõem: móveis, estantes, arranjos, livros, decorações, discos. Há, também, muitos quadros nas paredes. Um deles é especial para Anthony (Anthony Hopkins), tendo sido pintado por uma de suas filhas, Lucy, que não vê há meses por ela estar… “viajando pelo mundo, eu acho”, arrisca, sem certeza. Já a relação com Anne (Olivia Colman), a primogênita, é de proximidade, já que ela visita muito o pai - ou será que mora com ele? Estruturando-se como um labirinto de memórias e incertezas, o drama mergulha na subjetividade de um processo de envelhecimento.
O protagonista é um homem com mais de 80 anos que vive com aparente saúde e recursos no tal amplo apartamento. No entanto, a estrutura do cotidiano dele é constantemente ameaçada pela vontade de Anne de contratar uma cuidadora, ideia que ele renega. Quando a filha anuncia que irá sair do país, Anthony precisa lidar com o fato.
Ainda que o filme inicie acompanhando Anne e engrene por uma questão que a envolve, a opção aqui é escapar da abordagem mais comum, frequente e óbvia de uma trama do tipo. Ao invés de observar as consequências e impactos de um processo de envelhecimento pelo entorno, “Meu Pai” assume o ponto de vista subjetivo de quem envelhece, desenrolando-se a partir do fluxo de memórias e confusões mentais pelo qual Anthony passa.
A partir da escolha por materializar a partir do cinema um processo subjetivo como esse, o longa cria um caminho quase labiríntico, onde diálogos se repetem, personagens se mesclam e lembranças se confundem. A locação e a forma como ela é filmada auxiliam a concretizar estes aspectos, trazendo em si uma ideia de confusão, múltiplas possibilidades, fluxo.
Os já citados objetos que compõem os espaços do filme também despontam como elementos de relevo para a construção dessa atmosfera fronteiriça, concretizando pesos dramáticos a partir de suas ausências ou presenças - num diálogo intertextual, é possível lembrar dos versos “Na parede da memória / Essa lembrança é o quadro que dói mais”, de Belchior, a partir da relação de Anthony com o tal quadro pintado por Lucy.
Ao pensar o modo como o filme explora os espaços e objetos, vale se atentar à origem teatral do texto da obra: “Meu Pai” é a adaptação de uma peça de autoria do próprio diretor e roteirista. Alguns elementos identificam essa relação, como a forma de encenação do longa, mas as possibilidades da linguagem cinematográfica - como a expansão do cenário, a direção de arte e a edição - aprofundam, na forma, a manifesta sensação de fragmentação que norteia o texto.
Apesar desse caráter menos direto e objetivo que o filme tem, ele não deixa de ser sóbrio, sutil, com nuances. “Meu Pai” não atenua de forma alguma o processo de fragilidade do envelhecimento, mas também não pesa a mão na representação da jornada de Anthony. Muito deste equilíbrio está, naturalmente, na condução do filme, mas vale destacar os trabalhos de Anthony Hopkins, o guia por essa jornada tão desafiadora, e de Olivia Colman, que imprime humanidade a cada momento, seja de afeto ou de dor.
Meu Pai
Quando: compra disponível a partir da sexta, 9; aluguel, a partir do dia 28
Onde: disponível para compra no Now, iTunes e Google Play; o aluguel será possível nas três plataformas citadas e também na Sky Play e na Vivo Play
Indicações comentadas
MELHOR FILME
A presença de "Meu Pai" na principal disputa demonstrou o apoio que o filme encontrou nos votantes da Academia, mas o longa está numa posição distante dos considerados principais competidores, como "Nomadland", "Bela Vingança" e "Minari".
MELHOR ATOR
Aos 83 anos, Anthony Hopkins detém o recorde de indicado mais velho da história da categoria. As chances de vitória para ele poderiam estar mais próximas se a disputa não contasse com a presença de Chadwick Boseman, de "A Voz Suprema do Blues".
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
A disputa está em aberto na mais imprevisível categoria deste Oscar. Olivia Colman tem a seu favor não só a delicada interpretação, mas o apreço da indústria. Entre os contras, está a recente vitória na categoria de Melhor Atriz, por "A Favorita", em 2019.
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
Entre os indicados da categoria, "Nomadland" detém o franco favoritismo. A vitória de "Meu Pai" pode ser uma possível surpresa, mas a mais plausível seria o êxito de "Fita de Cinema Seguinte de Borat".
MELHOR EDIÇÃO
A indicação na categoria técnica reconhece o preciso trabalho de edição do longa, elemento essencial para a concretização da sensação de labirinto da obra. Os competidores, aqui, são todos indicados também a Melhor Filme.
MELHOR DIREÇÃO DE ARTE
Entre as grandiosidades das produções de época "A Voz Suprema do Blues", "Mank" e "Relatos do Mundo" e do blockbuster de ficção científica "Tenet", está também reconhecida a sutileza da direção de arte de "Meu Pai". A disputa tende a privilegiar o primeiro grupo.
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