
Danilo Fontenelle Sampaio é formado em Direito pela UFC, mestre em Direito pela mesma Universidade e doutor em Direito pela PUC/SP. É professor universitário, juiz federal da 11ª vara e escritor de livros jurídicos e infanto-juvenis
Danilo Fontenelle Sampaio é formado em Direito pela UFC, mestre em Direito pela mesma Universidade e doutor em Direito pela PUC/SP. É professor universitário, juiz federal da 11ª vara e escritor de livros jurídicos e infanto-juvenis
Semana passada, fui convidado a participar de um evento em uma faculdade em uma cidade próxima. Tudo correu como esperado: organização impecável, temas atuais e a delicadeza dos envolvidos. Era o reflexo do coordenador, um ex-aluno do mestrado que sempre brilhou. O reitor, orgulhoso, mostrou fotos antigas. "Antes era tudo mato", falou. "E diziam que eu estava louco. Ensino de excelência no interior? Pois olhe agora: ônibus cheios de estudantes das cidades vizinhas".
Posso até dizer que, atualmente, quem quer fazer um curso superior de qualidade não precisa mais se deslocar para a nossa Capital. Basta encontrar uma faculdade que alie simplicidade com objetividade, sem modismos pedagógicos nem supervalorização da tecnologia, mas com muita dedicação dos professores, estudo claro, incentivo constante e sinceridade de propósitos.
Por falar em sinceridade, posso dizer que fiquei hospedado em um hotel cujos proprietários são de uma franqueza ímpar. Sem dúvida, é um hotel muito bom, daqueles onde os funcionários tratam você como se fosse de casa. Quarto amplo, cama macia, banheiro brilhando de limpo — tudo nos conformes, como se diz. Mas o que me chamou mais a atenção foi um aviso pregado logo atrás da porta do quarto.
Fiquei imaginando o que teria sido necessário para a fixação de advertências tão explícitas como aquelas. Será que algum dia o hotel foi locado para a Convenção Anual de serial killers? Quem sabe hospedou uma horda de pilotos de motocross que dormiram com suas motos na cama. Ou talvez tenha recebido o I Encontro de Cleptomaníacos não anônimos.
Fiquei também imaginando: aquele hotel já foi palco de concursos de churrasqueiros? Ou de uma convenção de oleiros descuidados? Quem sabe recebeu pintores ensandecidos em busca da tela perfeita, sem descartar a hipótese de vampiros terem dormido na mesma cama em que agora eu repousava minha cabeça. É que o anúncio era claro e está lá para quem quiser ver:
“Será feita uma vistoria no quarto após o checkout. Se houver excesso de sujeiras (manchas, gordura, sangue, tinta, barro, etc.), será cobrada multa, e o extravio de objetos será somado às despesas, bem como o valor do dano causado ou do objeto extraviado”.
Observe que os proprietários são compreensivos. Eles aceitam que os hóspedes deixem o quarto sujo; só não pode haver “excesso” de gordura, sangue (sangue!), tinta, barro etc. Voltei a viagem toda pensando: o que seria considerado “excesso” disso tudo? E, mais intrigante, o que significaria o “etc.”?
O que mais pode entrar nessa lista de preocupações? Marcas de garra de lobisomem? Penas de anjo caído? Sussurros de fantasmas ainda presos no ar-condicionado? Restos de poções mágicas derramadas na pia? Vestígios de batalhas entre ninjas invisíveis? Sinais de tentáculos? Rastros de poções de invisibilidade? Receitas mágicas anotadas na parede do banheiro? Respingos de lua cheia ou pegadas de alienígenas?
Será que o “extravio” — para não dizer furto — se refere a algum portal disfarçado no frigobar ou ao espelho que, na verdade, responde quem é a mais bela da cidade?
Seja como for, é um alívio saber que, ao menos, o “excesso” tem limite. Porque, como todos sabem, um pouquinho de ectoplasma na cortina ou um vestígio de encantamento na escrivaninha são perfeitamente aceitáveis... desde que você pague o preço justo.
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