
Danilo Fontenelle Sampaio é formado em Direito pela UFC, mestre em Direito pela mesma Universidade e doutor em Direito pela PUC/SP. É professor universitário, juiz federal da 11ª vara e escritor de livros jurídicos e infanto-juvenis
Danilo Fontenelle Sampaio é formado em Direito pela UFC, mestre em Direito pela mesma Universidade e doutor em Direito pela PUC/SP. É professor universitário, juiz federal da 11ª vara e escritor de livros jurídicos e infanto-juvenis
Tem gente que cresce, constitui família, fica de cabelo branco, mas não perde a molecagem. Podem até se apresentar como médicos respeitáveis, escritores eruditos, advogados famosos, engenheiros criativos, gênios da TI ou qualquer outra profissão, mas, no fundo, não ultrapassaram de todo a 5ª série.
Ninguém sabe ao certo por que essas características os acompanham a vida inteira. O certo é que tem gente assim mesmo, engraçada por natureza, com piadinhas na ponta da língua, subversiva diante da sisudez de alguns e claramente avessa a se levar a sério.
O Machista normal, aquele amigo que não se considera nem um ogro nem um Fiuk, é desses. E, ainda mais sendo cearense, aí é que a irreverência come solta — e com farinha. “É quase um esporte”, ele confirma.
“Sou daqueles que buzina e acena para qualquer carro que vejo saindo de motel, só pra ficarem imaginando que foram reconhecidos".
“Tenho um colega de trabalho metido a besta que batizou o filho de Noah. Eu finjo me confundir e sempre pergunto pelo ‘Nóia’, só pra ver o sujeito ficar repetindo ‘Nóá, Nóáaaa’".
“Quando era novinho, não resisti. Eu tinha uns dezoito anos e era minha primeira entrevista de emprego. A moça perguntou minha escolaridade e meu endereço. Eu morava na rua Índio Tibiriçá, e ela pediu para soletrar. É claro que comecei com ‘I, de iscola’".
“Um dia desses, no supermercado, a mocinha que embalava as compras, já com o carrinho cheio, perguntou onde eu estava, referindo-se ao estacionamento externo ou interno do supermercado. Respondi: ‘Estou aqui. O carro é que está lá fora’”.
“Um colega de firma tinha muito ciúme de um carro antigo e vivia dizendo que não o venderia por valor algum. Quis tirar a prova: coloquei um anúncio com o telefone dele, oferecendo o carro por um preço baixíssimo. Foram semanas vendo-o gritar ao telefone: ‘Não vendo! Não vendo!’ — como se fosse um pregão invertido”.
Já me disse que uma vez levou tão a sério essa arte de ser gaiato que ficou horas em silêncio, só pra provocar o pessoal da roda, que estranhou: “Ué, tá doente?” — Ele respondeu: “Não, só tô deixando espaço pro ego de vocês respirarem”.
E o mais curioso é que, com toda essa tiração de onda, ele é respeitado. Talvez porque todo mundo saiba que, por trás da palhaçada, mora um olhar atento, que enxerga as vaidades humanas com a precisão de quem nunca se leva a sério, mas sabe exatamente onde o sapato alheio aperta.
"Rapaz, a vida é pesada demais pra viver sem uma boa presepada por semana", ele me diz, tomando um café como se estivesse filosofando em pé de chinelo.
Certa vez, a brincadeira tomou o inconsciente e, mesmo sem querer, ele acabou fazendo uma graça inoportuna. No velório de um parente distante, cochichou no ouvido da viúva: “Meus espasmos”, em vez de “Meus pêsames”. Tive que morder o lábio pra não rir alto entre os prantos alheios. Jurou que não fez de propósito, mas isso lhe rendeu beliscões da esposa pelo resto da semana.
E assim ele vai, driblando a sisudez da vida com seu arsenal de piadinhas improvisadas e um senso de humor que não envelhece. A idade avança, sim, mas a molecagem é imune ao tempo — talvez até seja o segredo de sua juventude permanente.
Porque tem gente que passa pela vida com gravata, currículo e pose — e tem gente como o Machista, que passa rindo e ainda faz todo mundo rir junto, mesmo sem querer.
No fim das contas, ele é desses raros que entendem: ser adulto não é deixar de ser criança, é só aprender a esconder melhor a traquinagem. E ele esconde mal de propósito — só pra garantir que o mundo continue rindo um pouco, mesmo nos dias mais sérios.
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