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O tempo, assim como algumas pessoas em nossas vidas
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Danilo Fontenelle Sampaio é formado em Direito pela UFC, mestre em Direito pela mesma Universidade e doutor em Direito pela PUC/SP. É professor universitário, juiz federal da 11ª vara e escritor de livros jurídicos e infanto-juvenis

O tempo, assim como algumas pessoas em nossas vidas

Nessa época de maturidade, pouco nos importa os títulos, o prestígio, nem as badalações ou folguedos. Festas, convescotes, aproximações com interesses, e terror dos terrores, networking e seus disfarces de amizade nos dão náuseas
Raios de Sol refletem no mar da orla fortalezense  (Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Raios de Sol refletem no mar da orla fortalezense

O tempo passa. De um jeito ou de outro, ele surge e desaparece. Deixa marcas, cicatrizes ou feridas, assim como algumas pessoas em nossas vidas.

Quando a gente é criança, o tempo custa a passar e a hora do recreio parece que se dissolve nos ponteiros que nunca andam.

No tempo de namoro, uma sexta-feira sem ver a amada significa uma semana inteira esperando o novo encontro, e para a paixão isso vale uma eternidade. Só depois de um tempo é que o amor chega, como algumas pessoas em nossas vidas.

Com os primeiros cabelos brancos, o tempo se apressa. Agora anda veloz. Corre como stories de Instagram: some em 24 horas e deixa só um vestígio do que foi.

Parece que sempre tem algo a fazer em outro canto. Compromissos. Nem fica para o cafezinho. Consome horas, dias, semanas e meses como quem tem fome do mundo. E não adianta mandar mensagem depois — o tempo também visualiza e não responde. Mal aparece, já foi embora, assim como algumas pessoas em nossas vidas.

De repente a gente percebe que já viveu mais do que viverá. E o tempo muda. Agora ele fica e pesa. Fala de prioridades, nos faz pensar sobre o que é importante. Temos que escolher até as leituras, porque já não há mais tempo para tudo. E ele fica ainda mais especial, assim como algumas pessoas em nossas vidas.

Riqueza não significa mais ter carros caros, apartamentos com vista para o mar nem casas na serra ou de praia. Luxo mesmo é ter tempo. Tempo para se fazer o que gosta e preencher os vazios. Tempo bom é tempo de qualidade. Aquele que nos fala à alma, assim como algumas pessoas em nossas vidas.

Nessa época de maturidade, pouco nos importa os títulos, o prestígio, nem as badalações ou folguedos. Festas, convescotes, aproximações com interesses, e terror dos terrores, networking e seus disfarces de amizade nos dão náuseas. Temos ojeriza a máscaras de civilidade e educação que escondem preconceitos e prepotência. Preferimos a sinceridade do simples, assim como algumas pessoas em nossas vidas.

Dizem que quanto mais papéis vivermos, melhor o nosso emocional e mental. Nada de nos cristalizarmos. O lance é andar, conversar, fazer amizades e ter atividades variadas. Garantem que a convivência enriquece, a interação traz criatividade, o humor melhora, a pressão se estabiliza e até a pele rejuvenesce.

Pode até ser que seja verdade, mas temos pouco tempo para isso tudo. Quem sabe seja melhor deixar para lá essa busca constante de aprimoramento e aproveitar o que temos, assim como algumas pessoas em nossas vidas.

Tem gente que se surpreende. “Mas você só fica em casa?”. Particularmente não sou dos mais medrosos, nem me assusto com notícias da violência cada vez mais crescente. Também não me considero totalmente antissocial. Um pouco, com certeza, mas não totalmente.

Mas, sair pra quê? Agora que o tempo é curto e já nos falta paciência para filas, barulho, motoristas impacientes parando em fila dupla, flanelinhas abusados e preços caros, o melhor é dar valor ao que temos em casa, assim como algumas pessoas em nossas vidas.

E é por isso que, hoje em dia, sair só quando o tempo — ou alguma pessoa rara — realmente valem a viagem. Como algumas pessoas em nossas vidas, o tempo vira respiração e flui. Nem percebemos passar.

Talvez porque com elas o tempo não corre, não pesa, não se gasta. Ele apenas sussurra: "fica". Talvez porque com elas não passamos — permanecemos nós mesmos. E esses encontros sim, mudam tudo. Como o tempo e algumas pessoas em nossas vidas.

Foto do Danilo Fontenelle

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