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Por entre sonhos, decisões e riscos
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Danilo Fontenelle Sampaio é formado em Direito pela UFC, mestre em Direito pela mesma Universidade e doutor em Direito pela PUC/SP. É professor universitário, juiz federal da 11ª vara e escritor de livros jurídicos e infanto-juvenis

Por entre sonhos, decisões e riscos

Porque sonhar exige uma dose de loucura, sim, mas decidir… ah, decidir exige coragem
Imagem ilustrativa de apoio. ParaTodosVerem: um homem olhando para o céu, uma lua e uma casa flutuante (Foto: Ilustração gerada pelo ChatGPT)
Foto: Ilustração gerada pelo ChatGPT Imagem ilustrativa de apoio. ParaTodosVerem: um homem olhando para o céu, uma lua e uma casa flutuante

Dizem que os sonhos que valem mesmo a pena são os sonhos loucos. Quanto mais improváveis, quanto mais ousados, quanto mais duvidosos… quanto mais louco o desejo, melhor. Podem ser qualquer um dos seus devaneios insanos, suas fantasias desmedidas ou suas ambições extravagantes.

Se esse sonho maluco teima em permanecer na sua cabeça, dia e noite, noite e dia; se você vive criando imagens dele se realizando; se você sorri só de imaginar, então você está no caminho certo.

Claro que, para ser um sonho que vale a pena, muito provavelmente ele trará uma realidade bem diferente da organização estoica com que você leva a vida. Certamente contrastará com tudo que está organizado, arrumado, sob controle e ajustado. Por imposição de sua própria natureza, a ordem não será mantida, as coisas não estarão mais sob seu total controle e até sua rotina será desalinhada.

E nada mais estará nos conformes, redondinho, no esquema e tudo certinho. A incerteza será companheira constante e uma insegurança que há muito você não sentia se fará presente. E pode ser que contrarie a imagem que você sempre gostou de passar para os outros e, quem sabe, encontre resistências onde esperava apoio. “Você está desperdiçando sua vida”, dirão.

Há que se tentar compreender. O sonho é seu. Não é de mais ninguém. É só você que, de vez em quando, se percebe imaginando essa nova realidade tão desejada. É só você que dorme e acorda pensando nela. É só você que acredita que pode acontecer.

Dizem que tudo é possível. E que, se Deus permitiu que você sonhasse, é porque é possível realizar. Concordo. Só não dá para confundir sonho com delírio. Todo sonho é possível, mas desde que se pague o preço. Certamente o preço é alto demais para querer ser campeão olímpico de natação aos 60, mas, quem sabe, ser campeão master em campeonatos locais traga uma satisfação bem próxima. Até para sonhar loucuras é preciso ter bom senso.

Dizem também que as escolhas mais temerosas são as que precisam ser feitas. Quanto mais difíceis, quanto mais complicadas, quanto mais angustiante se fizer o dilema, quanto mais penosa seja a resolução, mais necessárias elas são. E é nesse exato ponto, na beira desse abismo, que a maioria para.

Porque sonhar exige uma dose de loucura, sim, mas decidir… ah, decidir exige coragem. Abrir mão do conforto de um salário fixo para inaugurar uma cafeteria pequena, com cheiro de pão fresco e paredes cobertas de livros antigos.

Trocar a segurança de um relacionamento morno pela chance incerta — porém arrebatadora — de um amor verdadeiro.

Largar a cidade grande, com todos os seus trilhos previsíveis, para plantar girassóis no interior e ver o pôr do sol sem pressa.

Tudo isso é como abandonar a sombra fresca de uma árvore conhecida e seguir a trilha aberta entre espinhos e flores, sem saber se encontrará abrigo — mas com a certeza de que só quem caminha descobre novas paisagens.

Sim, o coração vai oscilar entre a euforia e o medo. Sim, haverá noites insones e manhãs de dúvida. E alguns sonhos não resistirão às análises mais racionais. Mas aquele sonho louco persistirá, exigindo sua decisão sobre uma nova vida.

Então, talvez não seja sobre desistir de sonhos, mas sobre deixar morrer aqueles que nunca tiveram coragem suficiente para se transformar em planos. O que fica, o que persiste, o que insiste… ah, isso merece ser vivido.

Alguns vão chamar de imprudência, outros de teimosia, mas só você saberá que é, na verdade, um pacto silencioso com aquilo que te faz vivo. Afinal, os sonhos loucos não são atalhos para longe da vida.

Eles são as frestas por onde a vida verdadeira entra, desobedecendo a lógica, escapando pela rachadura do esperado, florescendo onde só parecia haver concreto.

E aí, enfim, você vai entender: não são os sonhos loucos que te afastam da vida… são eles que te aproximam de quem você nasceu para ser.

Foto do Danilo Fontenelle

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