Davi Rocha é um gamer inveterado e professor universitário com uma pitada de publicitário. Sua paixão por videogame o leva a tentar desvendar as camadas mais profundas das narrativas interativas e mecânicas dos jogos atuais. Com uma análise apurada e uma abordagem que une teoria e prática, apenas aborda os principais lançamentos, mas também conecta pontos interessantes entre a cultura pop e estratégias de marketing e comunicação
A edição de 2025 da Brasil Game Show (BGS) deixou em mim uma sensação não muito boa. Estive presente em todos os dias de mais uma edição do evento que, durante anos, foi sinônimo de celebração máxima da cultura gamer no país.
Mas desta vez, ao caminhar pelos corredores do novo espaço no Distrito Anhembi, ficou claro que algo se perdeu pelo caminho.
A feira segue viva, ainda atrai público e mantém certo charme, mas é inegável que, com o passar dos anos, a BGS tem perdido força como vitrine do que vem por aí no calendário gamer e como um evento de fato relevante da indústria dos jogos eletrônicos.
A mudança de local, do Expo Center Norte para o Anhembi, parecia promissora no papel: um espaço mais moderno, bem iluminado e com promessa de melhor estrutura. Na prática, a feira ocupou dois dos três pavilhões — um deles servindo apenas como área de espera coberta.
O resultado foi um evento que, mesmo organizado e com circulação fluida, passou a impressão de ser menor e mais modesto do que antes. A grandiosidade que marcava as edições pré-pandemia deu lugar a uma BGS contida, quase tímida.
No centro do pavilhão, a Nintendo assumiu sozinha o papel de protagonista. Seu estande foi o mais concorrido e bem montado, trazendo 14 jogos — entre eles Donkey Kong Bananza, Hades 2, EA FC 26 e Hollow Knight: Silksong, além de versões de Zelda: Tears of the Kingdom e Super Mario Party Jamboree rodando no Switch 2.
A “Big N” foi a única fabricante de consoles com presença expressiva. PlayStation limitou-se a uma instalação promocional de Ghost of Yotei — seu principal título exclusivo do 2º semestre — e ao concerto PlayStation: The Concert, enquanto Xbox sequer montou estande próprio.
A SEGA apareceu discretamente, com Sonic Racing Crossworlds e algumas ativações fotográficas. A Arc System Works marcou presença com Guilty Gear Strive traduzido e o inédito Double Dragon Revive, um dos raros jogos ainda não lançados disponíveis para o público.
Capcom, Konami e Square Enix estiveram por lá, mas sem o peso de grandes anúncios. Resident Evil Survivor Unit e eFootball preencheram o espaço que outrora seria ocupado por demonstrações aguardadas de títulos inéditos.
Houve, claro, pontos altos. A Área Indie finalmente ganhou fôlego, com jogos brasileiros promissores como Hellclock, A.I.L.A. e Tupi: The Legend of Arariboia. E alguns estandes, como o da Devolver e da Supercell, mostraram criatividade e bom humor. Mas, ao percorrer a feira, a sensação constante era de vazio — não apenas físico, mas simbólico.
Marcas como Bandai Namco, Ubisoft, Twitch e YouTube, que já foram pilares da BGS, estavam ausentes. O evento, que antes funcionava como um espelho do mercado global, hoje parece um mosaico irregular de patrocinadores, influenciadores e ativações genéricas.
Os problemas de organização reforçaram essa impressão negativa e preocupante do atual estado da Brasil Game Show.
O episódio caótico do meet & greet com Hideo Kojima, marcado por filas desordenadas, alegações de falsificação de pulseiras e desinformação, sintetizou o descompasso entre ambição e execução. Houve falhas também no acesso à imprensa e em coletivas mal geridas, o que comprometeu a experiência de quem cobre profissionalmente o evento.
Ao final do evento, concluí a cobertura da BGS 2025 com a certeza de que ela ainda tem valor — como ponto de encontro, como celebração coletiva, como memória afetiva. Mas sua relevância como feira de games, como palco de novidades e tendência, precisa ser revista.
A BGS precisa decidir se quer continuar sendo uma convenção de cultura pop com jogos ou se pretende recuperar o papel de referência que um dia teve no calendário global dos games. Se não fizer essa escolha, corre o risco de se tornar apenas uma lembrança nostálgica.
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