Repórter especial e cronista do O POVO. Vencedor de mais de 40 prêmios de jornalismo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. É também autor de teatro e de literatura infantil, com mais de dez publicações.
Fortaleza é surpreendente até na pandemia da Covid-19. Terá um cemitério em formato de pirâmides no mar e um prédio de luxo com vaga para carro no próprio apartamento
Fortaleza é mesmo um disparate ou uma ilha de oportunidades. Irão construir um cemitério, em forma de pirâmides, para os que desejam levar consigo bens inseparáveis. A ideia, ouvi uns ricos prospectando, será levar um ou dois carros da coleção de raros e até elefantes inestimáveis.
É sério. Provavelmente, quando o aquecimento global acabar com tudo, um dia e daqui a 201 anos, um arqueólogo do reinício do mundo descobrirá as primeiras múmias ricas do Semiárido. "E as mais cafonas", anotará no caderno de campo.
Não estou a frescar, como dizem os nossos invasores europeus espelhos. É a pura verdade alencarina (brega essa palavra!).
É verdade, insisto. Está no campo do fetiche na era "sexualização algorítimica digital" e tem surtado os capitalistas liberais daqui.
Sim! É do lugar do fetiche, diz uma tese que li de Oxford. É uma "ejaculatória visceral que precisa dá vazão ao desejo de satisfação em algo além do terreno".
Mesmo falecido (a), o indivíduo ou a rica tem a "pulsão libídica" de levar para o túmulo o que não consegue desapegar do corpo "como suporte do avaro". É uma viagem, concordo, mas é científico e uma marmota.
E levará da cueca que comprou em Miami, aquela que dá sorte nos negócios e às vezes no amor traidor, à múmia empalhada de um lulu da pomerânia da "patroa". Eles ainda chamam assim a "consorte" e, também, de "dona encrenca" ou "a polícia". Creiam.
É a Fortaleza das novidades fetichistas e fálicas do "macho véi e do hei, mah"
Tem um casal que já tem num nicho de porcelana, cheirando a Chanel número 5 (comum), as camisas da seleção brasileira usadas nas jornadas da família tradicional contra a corrupção na Praça Portugal.
Pai, mãe e os dois filhos crossfiteiros que adoram fazer off road nas dunas do Parque da Sabiaguaba. A filha, uma rebelde, acampou em Curitiba quando "Lulalau" estava no xadrez e roubou o coração dela.
It´s all true. O cemitério terá, de início, três pirâmides gigantes construídas em plataformas suspensas no mar do Ceará.
O campo santo, só acessado de helicóptero ou em barco fúnebre credenciado, ficará a 50 milhas da roda gigante londrina que teremos na nova Beira Mar.
Pois muito bem. Está no projeto que os templos da ostentação fortalezense serão também locus para o turismo e a geração de emprego e renda. Claro, há compadecimento com a choldra.
O empreendimento gerará não sei quantos empregos diretos para coveiros marítimos e guias turísticos que cantarão a rapsódia de luta, trabalho e resiliência da família sepultada na pirâmide. É o trade.
Fortaleza é surpreendente. Numa época já se gabou de ter o prédio de alvenaria mais alto da América Latina - o Excelsior Hotel.
A burguesia fortalezense tem sovaqueira, mas tem dinheiro pra comprar um frasco de Bulgari na Galeries Lafayatte, em Paris
Noutro tempo, o prédio do Português virou o maior símbolo de sonegação e, talvez, de lavagem de dinheiro entre o Ceará e Lisboa (bem a nossa história permanente).
E hoje, temos de agradecer porque a Terra da Luz (outra breguice) tem o primeiro prédio Dubai na história do Ceará. Nunca antes.
Já tivemos "tapis rouge" estendido da incômoda "favela do Campo do América" para o casamento do século no Mansão Macedo.
E o mais novo bafulê, anunciado em meio à pandemia da fome, das mais de 410 mil mortes e da falta de moradia para "ficar em casa", é o edifício que terá um elevador para subir com os carros dos ricos ao céu. "Skydrive".
As justificativas para a necessidade da construção do prédio são lacrativas. Porque facilitará para as "mulheres" descarregarem as compras e os "meninos".
Será um prédio com acessibilidade. Se chegarem noiados por causa de drogas lícitas, os donos do apê amanhecerão na cozinha e dentro do carro.
E, lógico, o carrão poderá ser exibido para as visitas num dos cantinhos dos 350 m² da família. Sim, e a Prefeitura de Fortaleza não poderá cobrar IPTU por esse espaço. Será afanada.
É a Fortaleza das novidades fetichistas e fálicas do "macho véi e do hei, mah".
Os filósofos Cazuza, Tarcísio Matos e Falcão são gênios. A burguesia fortalezense tem sovaqueira, mas tem dinheiro pra comprar um frasco de Bulgari na Galeries Lafayatte, em Paris. E fodam-se os pebas.
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