Repórter especial e cronista do O POVO. Vencedor de mais de 40 prêmios de jornalismo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. É também autor de teatro e de literatura infantil, com mais de dez publicações.
A crônica de hoje é a fotografia de Celso Oliveira. Não precisaria de um texto, não é uma grande legenda. É a história de uma imagem que sempre me impressiona pelo abraço
Na esquina da Rui Barbosa com Torres Câmara está escrito "porque metade de mim é amor e outra metade é você". Recebi um recadinho carinhoso da Fátima dizendo que tinha lembrado de mim.
Também me mandou uma foto linda, na moldura, de um abraço entre um macaco da Amazônia e uma menina do Oiapoque.
Um abraço tão confortante que o macaco encosta o queixo no ombro dela para sentir o afeto da menina. A fotografia me fez fabular.
"Preparei a câmera com foco de 3 metros, era uma Rolleiflex, última foto. Quando ela passa por mim, foi aí que me surpreendeu ser um macaco abraçado a ela"
A imagem, uma felicidade flagrante do fotógrafo Celso Oliveira (@celsoliiveira), tem uma história. A situação foi assim, contou. Eu vi a menina a 15 metros de distância numa bicicleta, mas não era possível ver o que ela estava abraçando.
Preparei a câmera com foco de 3 metros, era uma Rolleiflex 6x6, o filme chapa 12, última foto. Quando ela passa por mim, foi aí que me surpreendeu ser um macaco abraçado a ela.
Tomei um susto e, claro, fiquei feliz com a naturalidade e natureza da menina e do macaco. Eu adoro essa convivência entre seres humanos com animais. Ou entre seres vivos que não estabelecem naipe de inteligência sobreposta.
"Exposta em algum lugar que não se tornasse paisagem e toda vida que eu desse de cara com ela, tivesse a vontade de abraçar ou ser abraçado"
A fotografia está em vários museus, no livro "Brasil sem Fronteiras" e nas mãos de vários colecionadores. Há algum tempo, queria comprá-la para ter por perto aquele abraço entre o macaco e a menina.
Exposta em algum lugar que não se tornasse paisagem e toda vida que eu desse de cara com ela, tivesse a vontade de abraçar ou ser abraçado. Talvez eu quisesse ser o macaco, a menina ou estar no abraço.
Já havia me programado para comprar uma cópia assinada da original, mas um dia recebi o recado que havia uma encomenda na portaria para mim. Passasse por lá. Era "O abraço" de Celso Oliveira.
"Sou apaixonado por essa imagem. É daquelas que queria ter feito, uma das melhores da sua vida"
"Celso, camarada", escrevo por zap. Rapaz, estou feliz e envergonhado com o presente endereçado. Sou apaixonado por essa imagem. É daquelas que queria ter feito, uma das melhores da sua vida. Eu acho.
Não me entenda indelicado, mas queria pagar pela fotografia. Não é justo ganhá-la. Por respeito ao vosso trabalho e ao olhar sensível de sempre. Ele me respondeu que era um presente.
"Não, não". O presente já estava reservado pra você. Um dia, você me retribui com uma do Cocó. Eu irei escolher. Tenho de oferecer uma imagem que abrace tanto quanto a da menina Oiapoque e o macaco da Amazônia. Ou não.
"O primata da fotografia é um macaco-aranha ou coatá preto. É um ser vivo com os mesmo direitos ao mundo, às matas em pé e aos rios voadores"
O primata da fotografia é um macaco-aranha ou coatá preto. É um ser vivo com os mesmo direitos ao mundo, às matas em pé e aos rios voadores. Come frutas, espalha semente. Habitam as florestas da Amazônia e América Central. Antigamente, uns tristonhos viviam presos no Zoológico Sargento Prata em Fortaleza.
E só mais um coisinha. Jornalista sendo presenteado não é coisa comum nem pode ser um hábito. Ainda mais quando o presente é uma obra de arte. No caso aqui, a gentileza é entre dois profissionais da mesma estrada e sem interesse. A não ser o do simples ato de presentear e um abraço.
Celso Oliveira é um amigo. Um incansável da imagem, dos filhos e de Lia. Desde 1975 enxerga o mundo, também, pelas lentes de várias câmeras.
Carlus Campos, gentilmente, cedeu o lugar da imagem de hoje para o fotógrafo.
A crônica hoje é a fotografia. Um abraço e até domingo!
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