Repórter especial e cronista do O POVO. Vencedor de mais de 40 prêmios de jornalismo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. É também autor de teatro e de literatura infantil, com mais de dez publicações.
Sobre o amor, um conto me marcou na semana que se foi. O relacionamento dos outros é mais fácil de fabular. Porque, confessemos, é bom olhar a vida alheia e fofocar nem que seja uma nesguinha com o mais tumular dos confidentes.
Enquanto escrevo isso, divago nas vezes que me separei e as línguas correndo soltas pelas corriolas. Diria, até por Paris e em Lisboa. O mundo é miúdo e o disse me disse é uma nau portuguesa com a velocidade do zap.
Feito um cronista avoado, queria escrever, na verdade, sobre o teste de fogo para o suposto poder de transferência de voto de Camilo Santana (PT). O penúltimo governador do Ceará se desdobra para Elmano Freitas (PT) substituir a preterida governadora Izolda Cela (ex-PDT).
Mas é curioso o desfecho para a administração Camilo, tentar cravar que os sete anos de governo tiveram importância para a vida da maior parte dos cearenses
Quase certo, Camilo será eleito senador. Não é torcida, nunca votei no petista. Sou fã do amor da mãe dele, Ermengarda. Do instinto dela. Como o voto é secreto e sou repórter de um jornal público, as minhas escolhas para o parlamento as deixarei guardadas.
Mas é curioso o desfecho para a administração Camilo, tentar cravar que os sete anos de governo tiveram importância para a vida da maior parte dos cearenses. Por isso, sem cabrestos (me iludo), o petista aposta que os eleitores decidirão contra os candidatos de Bolsonaro e Ciro.
Mas deixemos a política de lado e falemos do amor que me sacudiu na semana. Era bom se a política também tivesse parte com o derriço sincero. Aqui e acolá até passarinha.
Vem ainda aquele bandoneón invasor de corpo e tudo que a gente queria ter escrito, ridiculamente e bonitinho, para alguém e não deu tempo
Pois começo com um choro, talvez eu tivesse mole para me desmanchar. Foi assim quando escutei aquela música besta, "Pra sonhar" (que gosto), do Marcelo Janeci e a voz da Laura Lavieri.
Vem ainda aquele bandoneón invasor de corpo e tudo que a gente queria ter escrito, ridiculamente e bonitinho, para alguém e não deu tempo.
Quando te vi fiquei paralisado / Tremi até o chão como um terremoto no Japão / O vento, um tufão, uma batedeira sem botão / Foi assim, viu, me vi na sua mão...
Pois tomei um susto e uma alegria com um casamento improvisado num quarto do hospital da Unimed, semana passada, entre Jeovah Meireles e Anna Érika
... Largo tudo / Se a gente se casar domingo, na praia, no sol, no mar / Ou num navio a navegar / Um avião a decolar / Indo sem data pra voltar / Toda de branco no altar / Quem vai sorrir? / Quem vai chorar? / Ave Maria, sei que há / Uma história pra sonhar / Pra sonhar...
Pois tomei um susto e uma alegria com um casamento improvisado num quarto do hospital da Unimed, semana passada, entre Jeovah Meireles e Anna Érika. Com padre e tudo. Dez anos ou mais juntos, os dois professores universitários estavam se casando.
Sou amigo de mato do Jeovah e entrevistei uma vez a professora Anna Érika, do IFCE, por zap, em fevereiro de 2020. Na ocasião, sobre a Festa do Munguzá dos indígenas Kanindé de Aratuba. Ela estava no apoio.
Anna Érika, infelizmente, por causa de uma leucemia, morreu na última quarta-feira. E aquilo mexeu comigo e com um bocado de gente
E me falou, ainda, da Festa do Murici e do Bitupitá dos Tremembé, na Barra do Mundaú. Dos festejos ligados a encantamentos (falecimentos) de pajés, de cacicas e a espiritualidades feito o Levantamento da Bandeira de São Sebastião, na aldeia Japuara, do povo Anacé, em Caucaia.
Anna Érika, infelizmente, por causa de uma leucemia, morreu na última quarta-feira. E aquilo mexeu comigo e com um bocado de gente no velório da moça e no abraço chorado com o Jeovah. O amor, às vezes, é ligeiro. Não dá muito tempo pra sonhar.
Saí do velório liquidificando coisas. A morte também é chata, estraga amores. Fiquei com um desses aperreios bestas na alma, na idade, nos encontros e repentes quando o fim golpeia. Não sei como terminar a coluna, não. Perdi o fio, entalei. O que pensei não virou texto. Fica aberto.
A morte também é chata, estraga amores. Fiquei com um desses aperreios bestas na alma, na idade, nos encontros e repentes quando o fim golpeia
Dedico a crônica, incompleta, ao descanso (precoce) da professora e ao conforto de Jeovah e de quem chora ainda. E a todos que faleceram, nasceram ou se curaram na última quarta.
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