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Após 14 anos, João Parahyba reúne sons, ritmos e amigos em novo disco solo
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Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM

Marcos Sampaio arte e cultura

Após 14 anos, João Parahyba reúne sons, ritmos e amigos em novo disco solo

João Parahyba, do lendário Trio Mocotó, detalha gravação do primeiro disco solo após 14 anos
Tipo Opinião
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Fundador do Trio Mocotó, João Parahyba lança disco solo após 14 anos (Foto: Guto Sena/ Divulgação)
Foto: Guto Sena/ Divulgação Fundador do Trio Mocotó, João Parahyba lança disco solo após 14 anos

Primeiro as apresentações: João Carlos Fagundes Gomes é paulistano, tem 75 anos e se encaixa perfeitamente no posto de lenda. Sob o pseudônimo de João Parahyba, ele já tocou com Rita Lee, Milton Nascimento, Vinicius de Moraes, Dizzie Gillespie, Michel Legrand, Marcelo D2, Al di Meola, Cartola, Ivan Lins e muitos e muitos outros. Sua obra mais famosa é a que construiu com o Trio Mocotó, pilar do sambarock que gravou com Jorge Ben discos históricos como "Força Bruta" (1970) e "Negro é lindo" (1971).

Sendo um dos percussionistas mais originais, reconhecidos e requisitados do Brasil, seu currículo inteiro não caberia em um parágrafo. Nem nessa página. Provavelmente nem nas oito páginas desse caderno. Ainda mais que, aos quase 58 anos de carreira, ele segue ativo e acaba de lançar o segundo disco solo. "Mangundi", que sai em streaming e vinil pelo selo Vitrine, traz oito faixas inéditas que combinam groove, molejo, balanço e tudo mais que faz o ouvinte marcar o ritmo com a cabeça. "Na realidade é uma grande síntese do que a gente assimila de música. O brasileiro assimila de um jeito, o europeu de outro. Mas é importante a gente pensar que toda essa problemática política de imigração, de raízes judias, palestinas ou ucranianas no mundo, é tudo a mesma crise", explica provando que sua música, mesmo instrumental, fala de muitos temas.

Do forró com funk ao samba com xaxado, "Mangundi" chega 14 anos depois de "O Samba no balanço do jazz" (Selo Sesc). "Mangundi é uma palavra que eu uso desde criança. Eu escutava o pessoal mais velho, de cidade pequena, falava assim: 'Eu chego em casa, não tem gente para cozinhar, vou na geladeira, pego um pouco de arroz, de feijão, disso, daquilo, coloco na panela e faço um mangundi. Então é uma grande mistura", explica o Comanche, como apelidou Benjor.

O nome explica bem o disco. Com direção artística e arranjos de Jotap Barbosa, que já tocou com Hermeto Pascoal, o disco é uma seleção de ritmos dançantes e contagiantes. "Afrodunja", abre com um solo de berimbau até entrar guitarra, flautas e piano. Já "Bolo de Fubá" é um sambajazz acelerado mescla solos de piano e bateria. Em "Deu Jazz" os instrumentos vão aparecendo em toques minimalistas com a percussão de Parahyba ao fundo, até juntar tudo na segunda parte. Já "Xei-Lá Town" conta com a participação mais que especial de Nereu Gargalo no pandeiro.

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Nereu, Parahyba e Fritz Escovão fundaram o Trio Mocotó no fim dos anos 1960 e se tornaram a sensação da boate Jogral, em São Paulo. Gravaram discos nos anos 1970 que viraram artigo obrigatório para DJs internacionais. Após longo hiato, voltaram a gravar em 2001 no tresloucado e excelente "Samba rock". Já com Skowa no lugar de Fritz, em 2004 veio "Beleza! Beleza! Beleza!". Numa trágica coincidência, Fritz e Skowa morreram em 2024. E agora quem completa o trio é Melvin Santhana, multi-instrumentista que já prestou muito serviço à black music nacional, de Liniker e Jair Rodrigues a Racionais MCs e Sandra de Sá. "Ele foi criado numa família que o levava para dançar samba rock. Desde o pai e o avô que ele faz parte dessa tribo", revela João.

"Mangundi" foi gravado no estúdio Medusa pelo engenheiro de som Janja Gomes, filho de Parahyba que também toca violão do disco. A gravação durou cerca de duas semanas com todos gravando juntos, ao vivo, faixas que ficaram guardadas nos últimos anos. Ao fim, tudo foi mixado por Luis Paulo Serafim, premiado algumas vezes com o Grammy. "De repente tinha um time de superstar para eu me divertir. Isso fez com que o disco tivesse um astral iluminado", comemora deixando claro o que quer da música. "As coisas que a gente faz com carinho, com amor, um dia aparecem, sabe? O Mocotó não tem mentira e eu não faço mentira. Não estou preocupado em gravar um disco por ano, nem fazer coisas mirabolantes. Esse aqui é a cara do João Parahyba".

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Carolina Maia, baterista piauiense, radicada no Ceará
Carolina Maia, baterista piauiense, radicada no Ceará

A lista de Carolina Maia

Cearense de coração, a baterista natural de Teresina indica cinco percussionistas brasileiros que a influenciaram

Sheila E. – Foi uma das primeiras percussionistas que eu vi brilhar com tanta presença de palco. Aquela mistura de virtuosismo, carisma e força foi muito marcante para mim na adolescência, quando comecei a tocar e a procurar outras mulheres instrumentistas. Ela mostra que é possível ser técnica e performática sem perder o conteúdo – uma percussionista gigante que abriu espaço para muita gente chegar com mais coragem e estilo.

Airto Moreira – Sempre me impressionou pela liberdade – o “tocar solto” – e pela personalidade sonora, de timbres mesmo. Ele criou uma forma muito própria de tocar, com instrumentos híbridos, às vezes barulhentos, sempre cheios de intenção. Mas não me atravessaria tanto se o compositor não fosse genial. Levou a percussão e a bateria brasileira para dialogar com o jazz e o mundo, mas sem perder o chão – segue soando profundamente bem onde a brasilidade conversa com o universal.

Simone Soul – É daquelas artistas que tocam o que são. Sua pesquisa se mistura à própria construção pessoal e social, num olhar curioso que vira som. Pesquisa gente, gestos e encontros – e traduz tudo isso em parcerias, em movimento constante. Tem um pensamento musical sofisticado e uma entrega profunda, ainda mais quando está na música dos artistas que acompanha. O trabalho dela com Chico César é um primor. Sou fã.

Cléber Almeida – É um dos caras mais musicais que já conheci. Percussionista de brasilidade intensa, com muita pesquisa de ritmos do Nordeste, ele transita com naturalidade entre percussão e bateria, sempre com muita consistência sonora. No Trio Macaíba se revela compositor, zabumbeiro e cantor, emocionando e sacolejando tudo. Também tem discos autorais de bateria em que estou sempre me inspirando, e acompanha grandes nomes como Fabiana Cozza e a Banda Mantiqueira. Uma trajetória coerente e muito bonita.

Robertinho Silva – O Robertinho tem aquela aura de mestre generoso, né? Ele faz som no kit que está tocando com muita referência, mas com uma graça que é só dele. O som é aberto, vibrante, fresco. Simples, mas cheio de sutilezas. O jovem baterista roqueiro formou o percussionista gracioso. Sempre volto em alguns dos discos que ele gravou por deleite, mesmo. Muito carinho pela música de Bob Silva.

Felipe Adjafre
Felipe Adjafre

Notas musicais

30 anos

O pianista Felipe Adjafre comemora seus 30 anos de carreira com show nesta quinta-feira, 13, às 20 horas, no Theatro Via Sul. Com repertório que passeia por rock, forró e pagode, ele recebe diversos amigos no palco. Ingresso à venda na plataforma Uhuu.

Mesa de Bar

Edinho Vilas Boas e Edmar Gonçalves levam o show "Cumplicidades" ao Cantinho do Frango no sábado, 15, às 19 horas. Reunindo composições próprias e de outros nomes, eles recriam o espetáculo especialmente para o ambiente do bar. Couvert: R$ 40.

Intimidade

O cearense Yuri Eduardo reuniu músicas gravadas na Casa de Vovó Dedé e lança seu primeiro trabalho. "YEDSA" tem oito faixas autorais marcadas pelo tom intimista e sentimental. Participação de Alex Ramon, Eduardo Holanda, Brenna Freire e outros.

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