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Para anunciar que tem coronavírus, Bolsonaro quebra isolamento, tira máscara e insiste no mito
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Para anunciar que tem coronavírus, Bolsonaro quebra isolamento, tira máscara e insiste no mito

Consciente de que está doente, expôs jornalistas à Covid-19
Tipo Opinião
Bolsonaro tirou máscara para que jornalistas vissem rosto dele (Foto: TV BRASIL/AFP)
Foto: TV BRASIL/AFP Bolsonaro tirou máscara para que jornalistas vissem rosto dele

O presidente Jair Bolsonaro é o maior negacionista entre as democracias do mundo. Alinha-se ao sandinismo socialista nicaraguense e ao "último ditador da Europa", Aleksandr Lukashenko, de Belarus, que chegou ao poder cinco anos antes de Hugo Chávez ser eleito e permanece sete anos depois da morte do venezuelano. Nenhuma postura negacionista esteve à frente de um sistema de saúde com tantas mortes. No Reino Unido, Boris Johnson, um conservador, mudou a postura e as ações após ter Covid-19. Nada indica que isso ocorrerá com Bolsonaro.

O presidente brasileiro quebrou o isolamento para informar que está com a doença. Estava de máscara - é o mínimo. Mas, interagiu com pessoas que não sabiam que ele tinha diagnóstico de Covid-19 até lá pelos quatro minutos de conversa. Um absurdo e um desrespeito. Os repórteres aproximavam dele os microfones, depois traziam para junto da boca. A máscara usada por ambos - tantas vezes recusada por Bolsonaro - reduz o risco de contágio, mas não elimina. Não é 100%. Os microfones compartilhados podem ser instrumentos de difusão.

Veja os momentos em que Bolsonaro diz aos repórteres que tem Covid-19 e quando tira a máscara:

Ao comentar o coronavírus, o presidente falou que a doença que já matou 65 mil brasileiros é superdimensionada. Comparou a uma chuva, que “vai atingir você.” Uma chuva que mata 65 mil.

No fim, afastou-se um pouco e tirou a máscara para que vissem o rosto dele, percebessem que está bem.

O presidente vem tendo comportamento temerário e irresponsável desde março. Ciente de que está com a doença, insiste na postura. Expõe trabalhadores à doença. Quer mostrar que não há nada a temer, que a doença não é nada demais. Faz da pior maneira. Nunca quis usar máscara porque quer mostrar que não tem medo. Mas, máscara não é para proteger a si. É, antes de tudo, para proteger os outros.

Bolsonaro terá tratamento melhor que o de 99% da população. Não irá ao posto de saúde, ao SUS, como muita gente recomenda quando políticos adoecem. Duvido que, como Boris Johnson, tire alguma lição que mude sua postura. É capaz de usar a doença como argumento para minimizar a pandemia.

Na conversa com jornalistas, o presidente voltou a insistir nos mesmos mitos que repete desde o início. Que quem precisa se cuidar é quem tem mais de 65 anos e quem tem comorbidade. Para quem é mais jovem, o risco de algo mais grave, segundo ele, é “próximo de zero”.

Nos números só do Ceará, sabe quantas pessoas com menos de Covid-19 de 65 anos morreram até a tarde desta terça-feira? Foram 1.947. Desses, 678 tinham menos de 50. E 295 não tinham chegado aos 40. O número de mortos por coronavírus abaixo dos 30 anos passa de 100. Não é próximo de zero. Falo apenas do Ceará.

Bolsonaro também falou das comorbidades. São elas: asma, diabetes, obesidade, doença cardíaca, renal, neurológica, hepática ou hematológica crônica, entre outras. Estudo da Universidade Federal de São Paulo calculou quantas pessoas estão em grupo de risco no Brasil, por idade ou problema de saúde. São 86 milhões. Mais da metade dos adultos do País.

O presidente fala dos “idosos e quem tem comorbidade” como se fossem um punhado. Repito: são mais da metade da população adulta. Os demais, segundo o presidente, não precisam se preocupar.

Bolsonaro insiste e repete mitos.

Foto do Érico Firmo

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