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Primeiro governo Bolsonaro já acabou e nada ficou no lugar
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Primeiro governo Bolsonaro já acabou e nada ficou no lugar

Tipo Opinião
Bolsonaro aponta para Sergio Moro sob olhar de Paulo Guedes, quando ex-juiz era ministro (Foto: GABRIELA BILO/AE)
Foto: GABRIELA BILO/AE Bolsonaro aponta para Sergio Moro sob olhar de Paulo Guedes, quando ex-juiz era ministro

O governo Jair Bolsonaro que tomou posse em 1º de janeiro de 2019 não existe mais. Seus fundamentos foram demolidos. A Casa Civil tinha Onyx Lorenzoni, remanejado para o Ministério da Cidadania. O secretário-geral da Presidência, Gustavo Bebianno, foi o primeiro ministro a ser demitido, em fevereiro do ano passado. Em março, ele morreu. O secretário de Governo, general Santos Cruz, foi demitido em junho de 2019. O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, pediu demissão em abril deste ano. Dois ministros da Educação foram demitidos. Também dois ministros da Saúde. Hoje está um general como interino. No meio de uma pandemia. Além de outros menos cotados: Gustavo Canuto, demitido do Desenvolvimento Regional em fevereiro passado, mesmo mês no qual caiu Osmar Terra do Ministério da Cidadania. E há Paulo Guedes.

O ministro da Economia não saiu. Mas, a equipe que tocava a pasta ao lado dele gradualmente foi saindo. Guedes usou a palavra exata na terça-feira: "Hoje houve uma debandada? Hoje houve uma debandada". Debandaram nos últimos dois meses: Marcos Troyjo (Comércio Exterior), Rubem Novaes (Banco do Brasil), Caio Megale (Fazenda), Mansueto Almeida (Tesouro Nacional), Salim Mattar (Desestatização) e Paulo Uebel (Desburocratização). A equipe econômica não existe mais.

A espinha dorsal do governo Bolsonaro deixou de existir. Parafraseando Adriana Calcanhoto, nada ficou no lugar. Ministério da Educação não mostrou a que veio. Da Saúde nem titular tem. Tampouco Justiça e Segurança Pública. Quanto ao núcleo Casa Civil - Secretaria Geral - Secretaria de Governo, a qualidade do gerenciamento da gestão diz tudo.

Aquele governo que começou há 20 meses deixou de existir e não há um novo governo no lugar.

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O governo que permanece

Do governo que tomou posse, o que permanece de relevante? Ernesto Araújo e sua condução tão heterodoxa das Relações Exteriores; Ricardo Salles no Meio Ambiente, a mais cabal demonstração de que o motivo para sair não é a má qualidade do desempenho; Marcelo Álvaro Antônio no Turismo, demonstração por sua vez de que ser alvo de denúncias também não é motivo para sair. E tem Tarcísio Gomes de Freitas, cujo trabalho na Infraestrutura é o mais elogiado por supostamente conseguir se blindar das confusões, intrigas e tramoias. Ah, tem também, a Damares Alves. Sobram alguns outros, mas menos relevantes para definir o caráter do governo.

A desilusão dos economistas liberais com o governo Bolsonaro

Os motivos das saídas são diversos, mas eles saem invariavelmente frustrados. Não veem a agenda avançar. Com a pandemia, viram que não irá sair mesmo. Há a razão conjuntural. Alguns perceberam o óbvio para qualquer um que conhece a história de Bolsonaro. Escrevi em 25 de outubro de 2018, antes de Bolsonaro ser eleito: "a história de Bolsonaro não é liberal coisa nenhuma. É estatizante, corporativista, populista, monopolista e contrária a tudo quanto é reforma. Estava ao lado do PT na oposição ao Plano Real. E, quando Lula fez a reforma da Previdência em 2003 e Dilma Rousseff (PT) fez outra em 2012, ele foi contra ambas". Acrescentei: "O liberalismo será preponderante no eventual governo Bolsonaro caso o ministro se sobreponha ao presidente. Bolsonaro pode topar, para agradar o mercado e por não ligar para o assunto".

O governo de Bolsonaro não é tão liberal quanto a equipe econômica e o mercado gostariam. Esperaram isso porque quiseram esperar. Razões não havia.

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