As alianças dos indecisos nas eleições municipais de Fortaleza
Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Heitor Férrer (Solidariedade) já passou perto de ser prefeito de Fortaleza. Em 2012, ele teve chance real de deixar Roberto Cláudio (PDT) fora do segundo turno. E, se vai para a fase decisiva contra Elmano de Freitas, do PT e de Luizianne Lins, era provável que atraísse muitas forças com ele. Em 2014, Cid Gomes (PDT) deixou o Palácio da Abolição e Heitor perdeu o protagonismo de opositor. Em 2016, a campanha foi chocha. Na pré-campanha, ia no mesmo ritmo. Mas, acabou recebendo um apoio de peso: o MDB de Eunício Oliveira. Não sei com qual vigor Eunício entrará na eleição. Em outros tempos, o apoio dele era certeza de financiamento garantido para candidaturas viáveis. Será que Heitor mostrará musculatura?
O MDB era um dos partidos do bloco dos indecisos. Conversava com PT, mas podia ir com Capitão Wagner (Pros). Também indecisos, mas não muito, estavam PSDB e DEM, que acabaram seguindo o caminho que parecia delineado, a candidatura de José Sarto (PDT). Forças que já foram protagonistas em Fortaleza têm papel secundário nessa eleição.
As denúncias sobre candidaturas laranjas em todo o País são graves e precisam ser investigadas. A ocasião em que ocorre a operação da Polícia Federal não é a mais adequada. Obviamente, o inquérito tem seu ritmo e não deve ser pautado pela política. Porém, uma irregularidade que teria ocorrido nas eleições de 2018 e que é conhecida pelo menos desde fevereiro de 2019, seria desejável que a ação não ocorresse no meio das convenções partidárias para as eleições de dois anos depois. Em várias oportunidades, o momento em que ocorreram ações do Ministério Público e da Polícia Federal coincidiram com datas delicadas do calendário político. Não fosse a operação da Polícia Federal - e Capitão Wagner (Pros) é aliado do presidente Jair Bolsonaro - as suspeitas seriam maiores. Intencional ou não, a ocasião da operação não é a ideal. Quero crer que as investigações, após mais de um ano, só agora estavam maduras. Assim sendo, de fato deveriam ocorrer independentemente de calendário. E, independentemente do momento em que ocorre, a investigação envolve fatos sérios.
A investigação se torna fato eleitoral. É talvez a maior arma de que passam a dispor os adversários do Capitão Wagner. Ele tem denunciado, na pré-campanha, supostos superfaturamentos, irregularidades na administração e na política da Prefeitura de Fortaleza. Agora, tem um problema em seu quintal, em seu partido.
A responsabilidade que cabe ao Capitão
Capitão Wagner é presidente do Pros. Na época em que as irregularidades foram tornadas públicas, ele disse que a decisão tinha sido toda da direção nacional. Segundo ele, encaminhou a chapa de candidatos e a direção nacional - que supostamente conhece menos a realidade local - decidiu como repartir o dinheiro. A argumentação é estranha.
A candidata de 47 votos recebeu quase quatro vezes mais verba que Soldado Noélio, ex-vereador eleito deputado estadual pela sigla. Recebeu mais que o próprio Wagner. Recebeu mais que Luís Eduardo Girão, que se elegeu senador pela sigla. E o Pros Ceará não estranhou? Não quis saber o porquê da aposta nessa candidata desconhecida? Não parece muito responsável com o uso de uma verba que é pública.
O Capitão Wagner tem uma responsabilidade maior. Depois que o caso veio à tona, inquérito foi instaurado, não se sabe de nenhuma iniciativa pública do Pros para esclarecer o assunto. Fez alguma averiguação interna? Chamou os responsáveis para esclarecerem o assunto?
Para uma candidatura que tem insistido tanto na ética e na boa aplicação dos recursos públicos, o Capitão terá de explicar quais providências tomou sobre recursos da agremiação que administra e na qual a Polícia Federal ontem amanheceu.
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