Bolsonaro na ONU e a floresta onde fogo não se propaga
Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Bolsonaro também disse que o Brasil respeita "a melhor legislação ambiental do planeta". Tão boa que o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, quer desregulamentar "de baciada" e "passar a boiada".
Mas, o que quero chamar atenção é para outra coisa que ele disse, e vem dizendo. "Nossa floresta é úmida e não permite a propagação do fogo em seu interior". Um disparate. A Amazônia, grosso modo, é composta de dois grandes ecossistemas. Há as áreas inundáveis, sim. Os locais as chamam de várzeas e igapós. E há, também, as florestas de terra firme. A área inundável é estimada em aproximadamente 27% da Amazônia. Cerca de 70% é de terra firme. Floresta úmida, mas não é inundada, tampouco invulnerável a incêndio.
Quer dizer que a terra firme é vulnerável a incêndios e a área inundada se comporta como diz Bolsonaro? Nela o fogo não se propaga? Não é o que indica estudo internacional, liderado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), e publicado em 2017 na revista científica PNAS. Com base em dados de satélites e pesquisa de campo, os pesquisadores mostraram que as áreas inundáveis de várzea são mais vulneráveis a incêndios nas épocas de pouca chuva. Imaginava-se que as zonas mais distantes do centro da Amazônia eram mais suscetíveis, mas os pesquisadores descobriram outra coisa. Quando chove pouco, as zonas que normalmente alagam ficam mais expostas e demoram mais a se recuperar das queimadas. Os estudiosos avaliaram a regeneração após o impacto do fogo na estrutura da floresta e na fertilidade do solo.
Ou seja: nem toda a floresta é inundada. E mesmo a parte alagada é vulnerável a incêndios.
Bolsonaro abriu o discurso afirmando: "O mundo necessita da verdade para superar seus desafios".
Na cruzada do governo Bolsonaro para manter a aparência de normalidade, o Flamengo foi instrumento para pressionar pela volta precipitada do futebol. Alardeou a eficácia de protocolo com padrão europeu. Ocorre que uma coisa é adotar o protocolo numa realidade de pandemia controlada. Outra coisa é retornar ao futebol em junho, como ocorreu no Brasil. As negociações envolveram uma revolução dos direitos de transmissão. O Flamengo já tinha tido até morte de funcionário histórico do clube, Jorginho, massagista desde o tempo de Zico. Teve morte de ex-atleta e de ex-presidente de Conselho Deliberativo. Ontem, o time foi a campo desfalcado de sete jogadores, vítimas de um surto de Covid-19 que não respeitou o exemplar protocolo. A partida quase não foi realizada. O time quase foi expulso do Equador.
Enquanto isso ocorria, o Ministério da Saúde dava aval para a volta do público aos estádios em outubro, com 30% da capacidade. Isso mesmo. Ontem houve a mais patente demonstração no Brasil dos buracos no protocolo de retorno do futebol. Uma das mais impactantes no mundo. E o governo brasileiro, que estimulou e foi sócio das articulações do Flamengo para o futebol voltar o quanto antes, finge que tudo está bem. Que o protocolo está uma beleza. Que um surto não atinge o atual campeão nacional, parceiro do governo pela volta do futebol, que se tornou alvo do próprio movimento.
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