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Passivamente, Fortaleza desmorona
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Passivamente, Fortaleza desmorona

A situação do Farol do Mucuripe, talvez o mais emblemático símbolo de Fortaleza, é uma vergonha para governantes e para o povo
Tipo Opinião
Farol do Mucuripe, símbolo de Fortaleza, caindo de podre, de abandonado (Foto: Aurelio Alves)
Foto: Aurelio Alves Farol do Mucuripe, símbolo de Fortaleza, caindo de podre, de abandonado

 

Fortaleza é uma cidade que não guarda nada. No sábado, o secular casarão dos Gondim foi posto abaixo, aparentemente contrariando o processo de tombamento em andamento, o que impediria intervenções no local. Ontem, um absurdo completo: desmoronou a parte superior do farol velho do Mucuripe, onde ficava a lanterna. Caiu de podre, estragado, deteriorado, abandonado.

É inaceitável, ridículo, revoltante. O que expõe a fotografia de Aurélio Alves, abaixo, é um absurdo completo. Pense aí: qual a edificação de maior valor histórico e simbólico de Fortaleza? Alguma tem mais expressividade que o farol?

Olha, francamente, o farol indo gradualmente abaixo era motivo para revolta da população. Não é possível e não é aceitável. É uma vergonha para o prefeito José Sarto (PDT), para o governador Camilo Santana (PT), para o presidente Jair Bolsonaro — sim, a propriedade é da União. É uma vergonha para todos os governantes e gestores que passaram. É um vexame para nós, como povo, que toleramos isso.

Fico pensando como reagiriam os parisienses se vai abaixo um pedaço do Arco do Triunfo. Ah, é um exagero, você pode imaginar. O Arco Triunfo foi inaugurado em 1836, dez anos antes do Farol. Paris é uma cidade de mais de dois mil anos e Fortaleza começou a ter tentativas de colonização europeia há pouco mais de 400. Será que o significado de uma edificação e outra para as cidades onde estão é tão díspar? Falo proporcionalmente à dimensão de cada uma. Afinal, Paris é um polo cultural planetário. A força no imaginário, a carga contida na indústria cultural são expressivos. Mas, repito, será que o significado do Arco para Paris é, proporcionalmente, tão diferente assim do que significa o farol para Fortaleza?

Você pode dizer que quem vai a Paris precisa visitar o Arco, e paga caro para subir. Pois eu digo que deveria ser programa obrigatório para quem visita Fortaleza ir ao farol do século XIX, construído sobre uma antiga fortificação militar do século XVIII. Hoje, no máximo turistas passam lá a caminho da Praia do Futuro e observam curiosos sobre aquele objeto de nosso desleixo.

Sobre a pergunta que fiz quatro parágrafos atrás, você pode achar que o farol não é nossa edificação mais emblemática. Seria então a Igreja do Rosário, do século XVIII, e que ficou fechada por dias em 2008, e por meses em 2016, por causa dos frequentes assaltos? Em 2019, foi novamente arrombada e furtada. Ou seria o palacete do Museu do Ceará, antiga Assembleia Provincial, na Praça dos Leões, que está fechado há dois anos e à espera de obras? Não é por acaso que o Farol está desabando.

Nem é uma surpresa. Há menos de um mês, o Ministério Público realizou audiência pública e cobrou do governo restauro urgente. A situação estava exposta. Foi noticiada pelo O POVO e outros veículos. O Farol se esfarela diante dos olhos da população e das autoridades.

A situação é uma vergonha, mas não de todos. Moradores do Mucuripe, Serviluz, Vicente Pinzón têm acompanhado a situação e repetidamente denunciado. São valorosos guardiões de um patrimônio que a cidade teima em deixar se esvair.

A segurança do voto em urna

Leitor questionou a coluna de ontem, apontando que o fato de a urna eletrônica ser usada há 25 anos não significa que seja segura. Não, não significa. Nem eu escrevi isso. O que eu escrevi é que, numa democracia, o sistema que serviu para eleger o governante também precisa servir para eleger o sucessor dele. Não existe usar um sistema para chegar ao cargo e depois dizer que não aceita mais. Isso é autoritarismo e é esperteza também. E, no caso de Jair Bolsonaro, acrescentei que ele é ainda menos legítimo para questionar isso tendo passado décadas na Câmara dos Deputados, reelegendo-se sucessivamente e aos filhos, e nunca tendo apresentado projeto para acabar com o voto eletrônico. Ah, mas você pode dizer que ele só descobriu as falhas depois de virar presidente. Não é o caso. Em 2018, ainda deputado, ele falava de fraudes.

Acho cabível debater a impressão de voto, mas definitivamente não a forma de “debate” que quer Bolsonaro, dizendo que, se não for como ele quer, não tem eleição. Ah, outra coisa, se os anos de uso de urna eletrônica não garantem a segurança, as décadas e décadas de voto em cédula mostram que as fraudes proliferavam. Claro, propõe-se outra coisa com “voto impresso auditável”. Parecido com o que há nos Estados Unidos, cujo resultado Donald Trump, assim como Bolsonaro, igualmente questionaram? Ou como no Peru, cujo desfecho se deu agora após muita confusão e acusações?

Foto do Érico Firmo

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