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Algazarra golpista derruba máscara do extremismo bolsonarista
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Algazarra golpista derruba máscara do extremismo bolsonarista

É considerado um avanço que o presidente não questione o resultado da eleição, mesmo que seja incapaz de cumprir o mínimo do protocolo de civilidade. Mesmo assim, Bolsonaro justifica a facção mais radical dos apoiadores, que tumultuam o Brasil por não saberem perder
Tipo Opinião
PRF monitora rodovias no Ceará, que seguem liberadas (Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA PRF monitora rodovias no Ceará, que seguem liberadas

Facções radicais fecham rodovias pelo Brasil e expõem sem disfarces o caráter antidemocrático da direita brasileira mais extremista. O presidente derrotado Jair Bolsonaro (PL), no primeiro pronunciamento após perder para Luiz Inácio Lula da Silva (PT), preocupa-se em justificar esses atos. Questionou apenas os métodos, mas não o conteúdo. Mais que isso, afirmou que protestos pacíficos são bem-vindos. Ou seja, a criatura fez foi incentivar.

Se um movimento pretensamente ordeiro pede medidas autoritárias, ele é violento. Não são bem-vindas manifestações golpistas, como não seriam se fossem racistas, homofóbicas, misóginas ou xenofóbicas.

Bolsonaro reclamou de ser tido como autoritário. Ora, será que é chamado assim porque defendeu a ditadura, pediu reedição do AI-5, é fã de torturadores e contra liberdades individuais elementares, como união civil de pessoas independentemente de gênero? Somaram-se a isso as 44 horas sem se pronunciar após a derrota eleitoral. E, ao se dignar a fazê-lo, não houve qualquer menção a quem recebeu 60.345.999 de votos e foi escolhido pelo eleitor brasileiro para governar. O desdém de Bolsonaro é com o povo.

O silêncio de Bolsonaro não se deve apenas à chateação, à cabeça inchada pela derrota. O vácuo permitiu que proliferasse o golpismo que sempre o rondou.

Ao longo do governo, o bolsonarismo passou a tentar construir uma imagem de defensor da liberdade. Nem eles acreditam nessa conversa, salvo os mais fanáticos e iludidos. Só mesmo quem conheceu Bolsonaro um dia desses para acreditar nisso. É preciso não ter acompanhado a trajetória dele para engolir essa história.

A máscara caiu. Não tem nada de defesa da liberdade. Aliás, observe-se que eles não falam em democracia. A palavra parece banida. Democracia é a forma política da liberdade. Mas, a ideia bolsonarista de liberdade não é democrática. Pelo contrário, querem ser livres para não respeitar a vontade popular manifesta pelo voto. Livres para fechar estradas. Para defender golpe de Estado.

O bolsonarismo é a mais grotesca farsa da política brasileira pós-redemocratização. O autoritarismo mal disfarçado, o fingimento de que defenderiam liberdade, a pantomima desmorona quando o eleitor decide de modo diferente do que gostariam. Grupelhos queimam pneus e fecham rodovias porque ficaram contrariados. Acham que a opinião deles é melhor, mais certa e mais legítima que a dos outros. Aliás, acham a única legítima.

Dessa vez, o golpismo nem apresenta argumentos. Não sistematizaram nem que as urnas foram fraudadas, não dá mais para culpar pesquisas. Não se dão ao trabalho de justificar qual fraude teria ocorrido na votação. Restam os ataques ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Fora isso, é só birra com o resultado da eleição.

Quando se manifestou, Bolsonaro agiu de modo rancoroso, ressentido e pequeno. Podia ter sido pior. Só em não questionar o resultado já é digno de nota, mesmo que ele seja incapaz de cumprir o mínimo da civilidade e das boas maneiras.

O bolsonarismo sempre teve a fisionomia extremista, grosseira, violenta, autoritária. Muitos dos que aderiram prefeririam um governo menos mal-ajambrado. Há aqueles a quem não interessa conturbar a situação institucional. É a situação do empresariado ou de políticos eleitos para mandatos, ou com experiência para saber que na política se ganha e se perde.

Diante dos constrangedores protestos nas estradas, alguns desses já tentam se desvincular daquilo que adubaram ao longo dos últimos quatro anos. No momento em que a face repugnante do extremismo bolsonarista se escancara sem maquiagem, esses mantêm distância sanitária. Já os mais fanáticos ou menos pragmáticos a abraçam sem pudor.

Foto do Érico Firmo

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