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A reforma de Elmano, os sujos e os mal lavados
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

A reforma de Elmano, os sujos e os mal lavados

Pacote de medidas do Governo do Estado agitou os principais vértices da política do Ceará
Tipo Opinião
Wagner tem razão em críticas, mas foi nomeado também politicamente por Roberto Pessoa (Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA Wagner tem razão em críticas, mas foi nomeado também politicamente por Roberto Pessoa

Nesta semana é possível testemunhar o que é, até aqui, a melhor amostra da política cearense pós-eleições 2022. O coquetel é formado por um governo no início, que propõe as primeiras medidas polêmicas, somado a opositores que buscam se posicionar após a derrota eleitoral e, ao mesmo tempo, se diferenciar entre si. Nesse palco é possível observar como se movem três protagonistas das mais importantes vertentes da política estadual, reconfigurada após as eleições: o governador Elmano de Freitas (PT), Capitão Wagner (União Brasil) e Roberto Cláudio (PDT).

Roberto Cláudio criticou o aumento da estrutura governamental no momento em que o Estado fala em cortar gastos, aumentar imposto e pedir empréstimo. Uma crítica justa. E acrescenta: “O pior é que a proposta tem o claro propósito de atender a compromissos políticos com aliados de campanha. Muitos, inclusive, já foram até escolhidos, antes mesmo dos cargos serem criados”. Sim, é verdade. Aliás, duas das secretarias que estão sendo criadas serão ocupadas por deputados pedetistas, correligionários de Roberto Cláudio. Há um terceiro deputado do PDT no governo, em uma secretaria que já existe.

É procedente a crítica que faz RC, e é verdade que parte da expansão se deve a acomodação política. Porém, também é verdade que o prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT), acaba de fazer uma reforma do secretariado que também passou por acomodação política. Não houve criação de órgão, mas houve cargo que passou a ter status de secretário. Os movimentos políticos passaram pelas Regionais, que haviam tido uma grande ampliação de número na transição de Roberto Cláudio para Sarto. Não é como se Elmano estivesse fazendo algo nunca visto por aqui.

Razão pela qual Wagner provocou: “É aquele ditado, muito conhecido pelo povo, que é'o sujo falando do mal lavado”. O capitão ainda destacou que Elmano cria cargos para atender aliados, e olha que nem precisou fazer acordos para o segundo turno. De fato. Ocorre que Wagner acaba de ser nomeado secretário da Saúde de Maracanaú. Uma acomodação evidentemente política. Claro, o cargo já existe, não é uma despesa nova. Não sei se o fato de ser um gasto antigo atenua o uso político da função.

A situação me lembra célebre frase do jornalista americano Henry Mencken: "Na democracia, um partido devota as principais energias à tentativa de provar que o outro partido é incompetente para governar — e ambos conseguem e ambos estão certos". No caso das mútuas críticas, todos estão certos. E errados também.

O papel de novas secretarias

Existe a visão na política de que criar uma pasta específica significa valorizar uma área. Não é. O governo Elmano tem a visão de que haverá uma secretaria para cada política pública. Faz sentido, mas não precisa necessariamente ser assim. Valorizar uma área é dar recursos, peso político, colocar gente qualificada e dar prioridade. Criar uma secretaria não garante isso. Se houver tais condições numa secretaria, a tendência é ao sucesso.

O impacto estimado, R$ 12 milhões, não é uma bobagem qualquer. Algumas das secretarias serão criadas sem autonomia financeira. As contas ficarão vinculadas à Casa Civil. Na prática, nem bem secretarias são, enquanto ficarem assim. Não têm autonomia de fato. O simbólico, na política, é relevante. Mas, precisa se desdobrar na realidade ou vira apenas aceno sem resultado prático.

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