Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Nesta semana é possível testemunhar o que é, até aqui, a melhor amostra da política cearense pós-eleições 2022. O coquetel é formado por um governo no início, que propõe as primeiras medidas polêmicas, somado a opositores que buscam se posicionar após a derrota eleitoral e, ao mesmo tempo, se diferenciar entre si. Nesse palco é possível observar como se movem três protagonistas das mais importantes vertentes da política estadual, reconfigurada após as eleições: o governador Elmano de Freitas (PT), Capitão Wagner (União Brasil) e Roberto Cláudio (PDT).
Roberto Cláudio criticou o aumento da estrutura governamental no momento em que o Estado fala em cortar gastos, aumentar imposto e pedir empréstimo. Uma crítica justa. E acrescenta: “O pior é que a proposta tem o claro propósito de atender a compromissos políticos com aliados de campanha. Muitos, inclusive, já foram até escolhidos, antes mesmo dos cargos serem criados”. Sim, é verdade. Aliás, duas das secretarias que estão sendo criadas serão ocupadas por deputados pedetistas, correligionários de Roberto Cláudio. Há um terceiro deputado do PDT no governo, em uma secretaria que já existe.
É procedente a crítica que faz RC, e é verdade que parte da expansão se deve a acomodação política. Porém, também é verdade que o prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT), acaba de fazer uma reforma do secretariado que também passou por acomodação política. Não houve criação de órgão, mas houve cargo que passou a ter status de secretário. Os movimentos políticos passaram pelas Regionais, que haviam tido uma grande ampliação de número na transição de Roberto Cláudio para Sarto. Não é como se Elmano estivesse fazendo algo nunca visto por aqui.
Razão pela qual Wagner provocou: “É aquele ditado, muito conhecido pelo povo, que é'o sujo falando do mal lavado”. O capitão ainda destacou que Elmano cria cargos para atender aliados, e olha que nem precisou fazer acordos para o segundo turno. De fato. Ocorre que Wagner acaba de ser nomeado secretário da Saúde de Maracanaú. Uma acomodação evidentemente política. Claro, o cargo já existe, não é uma despesa nova. Não sei se o fato de ser um gasto antigo atenua o uso político da função.
A situação me lembra célebre frase do jornalista americano Henry Mencken: "Na democracia, um partido devota as principais energias à tentativa de provar que o outro partido é incompetente para governar — e ambos conseguem e ambos estão certos". No caso das mútuas críticas, todos estão certos. E errados também.
O papel de novas secretarias
Existe a visão na política de que criar uma pasta específica significa valorizar uma área. Não é. O governo Elmano tem a visão de que haverá uma secretaria para cada política pública. Faz sentido, mas não precisa necessariamente ser assim. Valorizar uma área é dar recursos, peso político, colocar gente qualificada e dar prioridade. Criar uma secretaria não garante isso. Se houver tais condições numa secretaria, a tendência é ao sucesso.
O impacto estimado, R$ 12 milhões, não é uma bobagem qualquer. Algumas das secretarias serão criadas sem autonomia financeira. As contas ficarão vinculadas à Casa Civil. Na prática, nem bem secretarias são, enquanto ficarem assim. Não têm autonomia de fato. O simbólico, na política, é relevante. Mas, precisa se desdobrar na realidade ou vira apenas aceno sem resultado prático.
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