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Facções dizem quem pode ou não fazer campanha nos bairros
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Facções dizem quem pode ou não fazer campanha nos bairros

É uma interferência direta no processo democrático. Se as pessoas não podem votar em quem querem, de forma livre, existe distorção na representação. Mas o problema é maior, com infiltração nos espaços de poder
Tipo Opinião
PRESENÇA de facções criminosas, como Comando Vermelho, é marcada em muros pela cidade (Foto: Aurelio Alves/ O POVO)
Foto: Aurelio Alves/ O POVO PRESENÇA de facções criminosas, como Comando Vermelho, é marcada em muros pela cidade

O crime é uma ameaça à democracia e ao sistema político. O POVO mostrou que candidatos a vereador foram abordados por facção criminosa e informados de que não poderiam fazer campanha em determinado bairro. Pessoas que trabalhavam com os candidatos foram procuradas por gente que se dizia integrante do Comando Vermelho. Em depoimentos à Polícia Civil, candidatos narraram a situação e disseram que os criminosos apenas permitiam que um candidato a vereador e um candidato a prefeito fizesse campanha em determinado local.

O advogado de um dos candidatos que teria sido impedido de fazer campanha postou em redes sociais: "Esse ano a política está tão polarizada, que tem vereador fechado com o crime organizado". Candidatos informaram à Polícia terem recebido ordens para fechar comitê.

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"Não fechei (o comitê), porém, não estou fazendo o mesmo trabalho", disse ao O POVO um dos candidatos a vereador, Márcio Cruz (PCdoB). "Porque as pessoas têm medo até de colocar um adesivo nosso”, relatou. O ex-vereador, que tenta retornar à Câmara Municipal, contou que a situação estaria ocorrendo em diversos bairros.

“Pedágio” para fazer campanha

Há relatos em vários lugares de Fortaleza de que as facções cobrando pagamento em dinheiro como “pedágio” para fazer campanha em determinados locais. E se repetem os casos de limitação: mesmo pagando, apenas determinados candidatos podem pedir voto. Organizações criminosas se portam como cabos eleitorais.

Os muitos problemas e riscos

As facções criminosas impedem pessoas de determinadas áreas de terem acesso a serviços públicos em alguns lugares. Se a pessoa é de um local, onde um grupo atua, não pode ir a escola ou posto de saúde no território de uma organização rival. De forma dramática, obrigam pessoas a deixarem casas. Imaginar que não estariam presentes no processo político, com tal grau de interferência no cotidiano, seria ilusão.

Pelo menos desde as eleições de 2018, há informações de que candidatos não podem pedir voto em alguns lugares. De moradores de certas localidades pressionados a votar em certas pessoas, sob pena de retaliação no caso de o resultado nas urnas das proximidades não atenderem às expectativas. De lá para cá, o problema se agravou.

É uma interferência direta no processo democrático. Se as pessoas não podem votar em quem querem, de forma livre, existe distorção na representação política no Poder Legislativo. Até a votação para o Poder Executivo é influenciada. Esse é o problema de origem.

Indo além, as facções querem influenciar a política para ter aliados nos espaços de poder. O que podem fazer, nos mandatos, esses aliados dos criminosos é uma das situações mais sérias.

O POVO já mostrou que há vereadores, secretários municipais e até prefeitos no Ceará investigados por suspeita de envolvimento com facções. Em São Paulo, as autoridades já foram além e já deflagraram operações contra a infiltração de organizações criminosas em prefeituras.

As facções mais organizadas passam a ampliar a atuação para crimes não violentos, como fraudes em licitação. Com o dinheiro movimentado, esquemas sofisticados de lavagem de dinheiro e a presença no poder político, esses grupos têm cada vez mais características de máfia. E com ainda mais capilaridade do que costuma ser comum em organizações dessa natureza.

As autoridades são capazes de proteger o processo eleitoral? Se não têm sido capazes de agir em situações teoricamente mais explícitas. Se não conseguem garantir que a população tenha livre acesso a equipamentos públicos. Se não evitam que pessoas sejam expulsas das próprias casas. Difícil acreditar.

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