Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Se não tiver um intenso trabalho de imagem e presença nas redes sociais, o governante corre o risco de naufragar independentemente da boa administração que eventualmente comande
As transformações pelas quais a política brasileira passou desde a segunda metade da década passada desembocaram numa sociedade bem mais politizada. Isso, na teoria, seria bom. Na prática, há problemas, em parte por essa politização ser muito alimentada por um fluxo de informações, no mínimo, de baixa qualidade — quando não fraudulenta mesmo. De todo modo, o caro leitor provavelmente conhece alguém que não gostava de política 10 ou 15 anos atrás, aquele colega de colégio que passava longe do assunto. E hoje esse sujeito é capaz de defender veementemente um político, ao mesmo tempo em que condena com vigor o adversário. Dá aula sobre atribuição do Supremo Tribunal Federal (STF), papel do Estado, faz avaliação sobre a natureza do nazismo.
Meu ponto não é discutir eventuais virtudes ou problemas dessa realidade. O ponto que abordo é que governar, hoje, é muito diferente do que já foi. No passado, o político que fizesse uma administração que tivesse um impacto positivo na vida das pessoas tinha muito bem encaminhado o sucesso eleitoral futuro. Hoje isso segue muito importante. As eleições municipais, inclusive, mostraram que isso é mais relevante quanto mais perto da população. Todavia, se ficar apenas nisso, se não tiver um intenso trabalho de imagem e presença nas redes sociais, o governante corre o risco de naufragar independentemente da boa administração que eventualmente comande.
Houve época em que o governante tinha certa margem para adotar medidas antipáticas num primeiro momento, se estivesse longe das eleições e se benefícios ficassem evidentes depois. Hoje, a vigilância e repercussão permanentes das redes sociais, as ações do primeiro dia de governo podem ecoar nas urnas.
Desde a redemocratização, o trabalho de comunicação tem muito peso na imagem pública do político. Porém, a eficácia era muito maior quando se tratava da comunicação de quem estava no governo. A propaganda a favor tinha mais efeito que a negativa. O próprio trabalho de Duda Mendonça na eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2002, teve um tom diferente das campanhas de oposição. E o governante que tinha trabalho a mostrar dificilmente era desconstruído pela propaganda adversária. Hoje, a capacidade de demolir a imagem de um político ou um governo a partir das redes sociais e do compartilhamento de informações significa uma transformação da política. E os governantes começam a adotar novas posturas.
O começo de mandato de Evandro Leitão (PT) em Fortaleza demonstra um cuidado diferente na construção de imagem. Ele ataca pontos que eram frágeis na imagem do antecessor, José Sarto (PDT). Foi a canais, unidades de saúde. Adotou a medida marqueteira — ainda que simbolicamente relevante — de reduzir o próprio salário e da equipe.
Não que não houvesse antes. Luizianne Lins (PT) começou a gestão com a ofensiva urbana com o rótulo “Fortaleza Bela”. Roberto Cláudio (PDT) chegou com visita a todos os postos de saúde. A novidade com Evandro é a intensidade e a variedade de ações de um prefeito que precisa estar presente e assim aparecer. É uma nova fase da política — e da comunicação política.
Para além da imagem
Esse novo momento aumenta a importância da comunicação. Porém, não diminui a relevância do desempenho da gestão. Esse é o perigo, a imagem se tornar mais relevante que a realidade objetiva. A campanha do então prefeito, com o perfil “Sarto zueiro” e a juliet — lembra — aparentemente caiu no conto de que as redes e o marketing são mais importantes que a gestão. A comunicação, hoje, é mais importante, mas não é o mais importante. Precisa ter alicerce no trabalho feito.
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