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Uma crise para testar Elmano
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Uma crise para testar Elmano

Camilo Santana, e a diferença de imagem entre quando ele chegou e quando saiu, é exemplo de que crises podem ser oportunidades políticas para governantes. Depende do que fazem diante delas
Tipo Opinião
ELMANO está diante de um dos maiores desafios (Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES ELMANO está diante de um dos maiores desafios

A taxação dos Estados Unidos a produtos exportados pelo Brasil é um enorme teste para o Brasil, mas também um desafio em particular ao Governo do Ceará. O Estado tem o maior nível de dependência do mercado americano no comércio exterior. Muitos dos principais setores exportadores cearenses não foram incluídos nas exceções abertas por Washington.

Elmano de Freitas (PT), até aqui, enfrentou cenário bem mais favorável que o do período de Camilo Santana (2015-2022), que passou por seca, recessão na economia e impeachment de aliada na Presidência da República e entrada de um adversário. Na saúde, a administração anterior pegou um surto de sarampo no começo e, no fim, passou pela pandemia de Covid-19. Não é que o atual governo não tenha tido crises. Principalmente na segurança pública. Mas, tragicamente, essas têm sido rotina desde o começo da década passada, quando a situação saiu do controle no segundo mandato de Cid Gomes (2011-2014). A situação, Elmano reconhece, segue muito ruim nessa área, mas já foi pior. É bom nem falar alto, mas o número de mortes violentas está um pouco menor e não houve motim nem onda de ataques em massa de facções. Excluída a situação crônica da violência, a tributação sobre exportações para os EUA é provavelmente o maior teste político para a gestão estadual até agora.

O pacote aprovado na Assembleia é o centro da política. A conferir os efeitos que terá. De todo modo, a capacidade do Estado de solucionar ou mesmo atenuar o problema é limitada. Precisará, portanto, de muita interlocução federal. Não é muito diferente, também, do que se passa na segurança. Porém, no caso das ações de Donald Trump, mesmo o limite do Governo Federal, até aqui, é no máximo atenuar o impacto.

Mesmo assim, o impacto econômico cairá na conta dos dirigentes políticos e os setores atingidos esperam respostas.

A gestão Camilo Santana, e a diferença de imagem entre quando ele chegou e quando saiu, mostram que crises podem ser oportunidades políticas para governantes. Depende do que fazem diante delas. A forma como se portam é um aspecto relevante.

Bolsonaro e a taxação do aço em 2019

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) antes de ir para prisão domiciliar, vinha dizendo que, se ele fosse presidente, o Brasil não sofreria as sanções aplicadas por Donald Trump. Isso de realidades alternativas e multiverso são coisas de filme da Marvel. A gente não sabe como seria nessa realidade paralela, mas é bem possível que, por interesses políticos em comum, realmente Trump agisse de forma diferente caso o ex-presidente estivesse hoje no poder. Ele citava a situação de 2019, quando os Estados Unidos anunciaram taxação sobre o aço brasileiro. Diante das tratativas entre governos, a situação foi revertida. Esse é o relato de dele, mas essa é apenas parte da história.

Em 2018, Trump, em primeiro mandato, impôs cobrança de 25% sobre exportações de aço de todos os países, e de 10% sobre alumínio. Alguns países entraram numa lista de exceção. O Brasil pediu para ser incluído e foi atendido. Nessa época, o presidente era Michel Temer. Foi criado na época um esquema de cotas. Era possível vender até um limite proporcional à média do que havia sido exportado em anos anteriores. Em 2019, já com Bolsonaro no poder, Trump acusou o Brasil de desvalorizar o real para estimular exportações. Com isso, ele ameaçou restaurar as taxas adicionais sobre aço e alumínio brasileiros. Foi aí que o ex-presidente relatou que falou com ele e o convenceu a não sancionar o País naquele momento.

Ocorre que, no ano seguinte, em agosto de 2020, os Estados Unidos reduziram em cerca de 80% as cotas de exportação brasileiras. Em outubro do mesmo ano, Trump elevou a tributação sobre importação de alumínio do Brasil de 15% para 145%, ao reclamar de práticas supostamente desleais das empresas brasileiras. Dessa vez, não teve conversa ou ligação que desse jeito.

As restrições e cobranças extras seguiram em vigor e o governo brasileiro na época nem protestou, para não prejudicar a campanha de reeleição de Trump, quando ele foi derrotado. As medidas contra exportações foram revogadas só em 2022, ainda com Bolsonaro presidente no Brasil e com Joe Biden à frente da Casa Branca.

Foto do Érico Firmo

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