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A oportunidade que Trump propicia ao Brasil
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

A oportunidade que Trump propicia ao Brasil

O momento em que a direita brasileira se torna, mesmo circunstancialmente e de forma distorcida, defensora dosdireitos humanos abre possibilidades de tentar tirar o estigma sobre o tema
Tipo Opinião
RELATÓRIO do governo Trump serve a fins políticos (Foto:  Chip Somodevilla/AFP)
Foto: Chip Somodevilla/AFP RELATÓRIO do governo Trump serve a fins políticos

Como parte da campanha nos Estados Unidos empreendida por Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o Departamento de Estado produziu um inacreditável relatório com duras críticas aos direitos humanos no Brasil. Trata-se de peça partidária, usada para proteger aliados e atacar adversários políticos. Considera que a situação nessa área piorou na Europa, mas melhorou em países como El Salvador. Já é uma audácia um país que está fazendo o que faz com imigrantes se achar no direito de avaliar a postura do mundo sobre o assunto.

Não que o Brasil não tenha problemas nessa esfera. Há muitos, inclusive no Ceará. Alguns deles são mencionados no documento, como em relação às mortes provocadas por policiais. São citados os estados de São Paulo e Roraima, ambos com governadores bolsonaristas. Mas poderia citar praticamente qualquer estado.

O Ceará tem problemas graves, inclusive no sistema prisional e até — ou principalmente — no socioeducativo, onde ficam adolescentes.

O relatório foi comemorado por conservadores brasileiros, como mais uma investida do governo Donald Trump e pressão extra em favor do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Mas é aí que, entre tantos prejuízos causados pela ação da família, está uma boa oportunidade de reposicionar essa discussão por aqui.

O lugar do discurso sobre direitos humanos

No ano passado, escrevi que a pauta dos direitos humanos estava derrotada no debate público. Políticos, para se viabilizar, passaram a evitar o tema. Tornou-se um problema eleitoral, quando não um risco à própria segurança. O momento em que a direita brasileira se torna, mesmo circunstancialmente e de forma distorcida, defensora da causa e das condições para os presos abre possibilidades a serem aproveitadas de discutir o assunto de forma mais ampla. Quem sabe tirar o estigma sobre o tema.

Não é tarefa simples. Grande parte da geração que colocou o tema na ordem do dia no enfrentamento à ditadura militar e aprofundou as discussões nas décadas de 1980 e 1990 não está mais em atividade na política ou está envelhecida. A renovação não supriu quantitativamente o espaço.

Sempre houve resistência ao tema, mas a explosão da criminalidade neste século fez recrudescer o medo. Com ele, o sentimento até de ódio que se passou a manifestar em relação a quem afirma que alguém que cometeu crimes ainda é um ser humano e tem direitos.

O campo de esquerda também passou a abraçar a ideia do punitivismo, quando associado à pauta identitária. Então, a receita conservadora de penas cada vez mais extremas e tratamento implacável passou a ser vista como solução para casos de homofobia, racismo ou feminicídio, por exemplo.

O espaço até existe, mas nem sei quantas pessoas estão dispostas a tentar encampar hoje um reposicionamento no debate público sobre o tema que é um marco divisório da civilização.

A cara de Eduardo

Quando foi divulgado o relatório dos Estados Unidos, Eduardo Bolsonaro publicou no Xuiter: “Denunciar violadores de direitos humanos é uma obrigação de todo ser humano, apenas ditadores consideram isso crime”. Não sei se já tinha visto tanto cinismo, tanta petulância, tanta desfaçatez. O sujeito de uma família que viveu de debochar dos direitos humanos. Que defendeu AI-5, ditadura, torturador. Devia fornecer para a marcenaria, com tanta cara de pau.

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Um dia desses, Jair Bolsonaro teve autorização para ir de casa ao hospital por causa de crise de soluços. Está correto. Mas imagina como alguns aliados do ex-presidente não reagiriam se outro detento tivesse permissão para sair da prisão por causa de soluços.

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