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Ciro Gomes projeta o futuro por caminhos que já percorreu
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Ciro Gomes projeta o futuro por caminhos que já percorreu

Ele deverá voltar ao partido pelo qual se elegeu governador, com o mesmo objetivo de 35 anos atrás
Tipo Opinião
CIRO Gomes informou que deixará o PDT (Foto: João Filho Tavares)
Foto: João Filho Tavares CIRO Gomes informou que deixará o PDT

Ciro Gomes deixa o partido no qual permaneceu por mais tempo. Embora tenha havido críticas públicas e atritos profundos nos bastidores, é uma saída menos atribulada do que a das outras legendas mais relevantes na trajetória dele: PSDB, PPS e PSB.

Ele ficou muito insatisfeito pela adesão pedetista aos governos do PT no Ceará e em Fortaleza. Base de Lula a legenda já era, muito a contragosto dele. Agora o alinhamento existe em todos os lugares que mais importam para Ciro. Nunca se colocou empencilho às críticas dele às administrações nas quais a sigla está representada, mas é mais coerente mesmo ele seguir outro rumo.

O PDT deu muito espaço a Ciro, principalmente no Ceará. Ele concorreu a presidente duas vezes. No Estado — isso quem diz é Cid Gomes — o partido poderia ter lançado candidatura ao governo com apoio de Camilo Santana e Lula, mas abraçou a opção de Ciro por uma indicação diferente: Roberto Cláudio e não Izolda Cela. A derrota foi tremenda e o partido rachou. A maior parte dos políticos com mandato saiu. Ficaram Ciro e o que restou do grupo. Fortaleza era a maior capital do PDT no Brasil. José Sarto foi para a reeleição e perdeu de forma contundente. Depois de tantos revezes, é de se compreender que a cúpula tenha buscado uma repactuação. Não sei quantas eleições o ex-ministro esperava que o partido perdesse por ele.

O destino de Ciro dado como certo é o PSDB, de onde saiu há 28 anos. O objetivo mais provável é disputar o Governo do Ceará, pelo qual se elegeu justamente pela sigla e de onde ele saiu há 31 anos em busca do projeto nacional. Não está descartada uma quinta eleição presidencial, mas hoje o mais factível parece ser buscar reconstruir o grupo pelo berço político.

Anistia para condenados e pena de morte para quem nem foi julgado

O deputado federal André Fernandes (PL) usou emenda parlamentar para comprar armas de fogo para a Polícia do Ceará. Ele disse esperar que policiais matem "muitos bandidos". Falou mais: irá condecorar policiais que mais tirarem a vida de traficantes e membros de facção criminosa.

Não me parece lá muito cristão, mas sei lá, hoje há igrejas com cada concepção diferente. O pai dele, deputado Alcides Fernandes (PL), que agora quer ser senador, foi pastor e relatou ter dito a fiéis que orou muito pela morte de Lula, mas não funcionou. Quando veio a repercussão, ele não sustentou. Argumentou que falava de "morte política". Sem que antes houvesse qualquer referência nesse sentido.

No trabalho policial, é possível que pessoas acabem sendo mortas, mas eu duvido que os profissionais corretos, éticos e conscientes do dever de servidor público na área de segurança saiam de casa com objetivo de matar uma pessoa. Jamais pode ser uma meta. Surpreende em particular por vir de um cristão e que tem voto de religiosos.

André Fernandes defende anistia a condenados por crimes contra a democracia. Entre os quais está, de forma confessa, um plano para assassinar autoridades. Gente que foi julgada aos olhos do mundo. Sobre o estímulo à letalidade policial, quem definirá quem é traficante e membro de facção? Eles serão julgados? Terão direito a defesa? Porque para os aliados políticos condenados, André reclama de cerceamento de defesa e julgamento injusto. Ao mesmo tempo, defende a lei do faroeste, onde a rua é a primeira e última instância? Não vê risco de vidas de inocentes serem tiradas?

Numa campanha eleitoral lá na frente, esse tipo de coisa será cobrada. Tem sido comum, quando precisa do voto majoritário, político aparecer com a cara mais compungida para dizer que errou, era jovem e imaturo e se arrependeu. A verdade é que esse é André Fernandes, convicto. Está em ato parlamentar consciente. Vejamos se sustenta em campanha majoritária.

E os aliados?

Figuras de história na política cearense hoje paparicam André Fernandes. Precisam dele. O que será que pessoas com a estatura de Tasso Jereissati, Ciro Gomes e Roberto Cláudio acham de condecorar o policial que mais matar?

Se bem que, outro dia, Ciro arranjou um jeito de elogiar até a crítica que André fez a ele.

Foto do Érico Firmo

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