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Microplásticos, macroproblemas: Chile, exemplar
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Jornalista, divulgador científico e professor da Universidade Federal de Rondonópolis. É doutor em ecologia pela Universidade Autônoma de Madrid, Espanha

Fabio Angeoletto meio ambiente

Microplásticos, macroproblemas: Chile, exemplar

.Nenhuma empresa pode distribuir sacolas plásticas, independentemente de seu porte, hipermercados ou mercadinhos de bairro
Tipo Opinião
Presidente do Chile, Gabriel Boric (Foto: PEDRO PARDO/AFP)
Foto: PEDRO PARDO/AFP Presidente do Chile, Gabriel Boric

Escrevo de Santiago do Chile. Viajei à capital chilena para lançar o livro "Ecology of Tropical Cities" na "Universidad Adolfo Ibañez". No campus, emoldurado ao fundo pela Cordilheira dos Andes, vejo Santiago, mais abaixo, coberta por um manto gris de poluição. Meu anfitrião, o professor Cesar Gonzalez Lagos (autor de um capítulo do livro, sobre evolução biológica em cidades), me explica que, como nas cidades brasileiras, os automóveis são a principal fonte de contaminantes atmosféricos.

Na minha conferência na universidade, ouço da plateia que os desafios ambientais de Santiago são similares aos das cidades brasileiras: poluição atmosférica e o acesso desigual à natureza urbana e aos seus benefícios são questões urgentes no Chile. Como no Brasil, as taxas de natalidade são baixas, a população envelhece rapidamente, as aposentadorias são risíveis e não há, ainda, um conjunto de políticas para uma velhice digna. Percorri Santiago de carro, com colegas da universidade, desde suas periferias até o centro. Novamente, as semelhanças: há as periferias de cimento e tetos de lata, e há também as periferias verdes, de condomínios privados com casas que podem custar três milhões de reais (ou mais).

Há, entretanto, uma diferença notável. Somos uma constelação de quase 6.000 cidades, pequenas, médias, grandes, metrópoles e cidades rurais. Esse conjunto, coalescendo em não em um, mas em vários processos de urbanização. No Brasil temos cidades de porte médio crescendo em área e população mais rapidamente do que grandes cidades, como o Rio de Janeiro. 25% dos brasileiros vivem em cidades médias. Como evitar ali que repitamos os mesmos erros que cometemos nas cidades grandes? No Chile, 40% da população orbita a Região Metropolitana de Santiago. Obviamente os problemas estão concentrados aqui - o que faz da capital um laboratório muito interessante para estudos sobre sua ecologia, e para a aplicação desses conhecimentos em políticas ambientais.

Frequentando supermercados na capital, descubro que os clientes não recebem sacolas plásticas para suas compras. Uma lei, de âmbito nacional, que proíbe a distribuição de sacolas plásticas descartáveis, foi promulgada em 2018. Nenhuma empresa pode distribuir esse tipo de sacola, independentemente de seu porte, hipermercados ou mercadinhos de bairro. Elas nem sequer podem comercializar sacolas plásticas, como ocorre, por exemplo, na Inglaterra, onde os clientes têm a opção de poluir, desde que estejam dispostos a pagar alguns centavos de libra por unidade. Os microplásticos liberados por essas sacolas, cujo tempo de uso é de 25 minutos, são um macroproblema à saúde humana e à biodiversidade. O Chile enfrenta esse desafio. O Brasil, não.

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