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O que era difícil ficou mais difícil
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

O que era difícil ficou mais difícil

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O episódio da tramitação das matérias que tratam da reforma da previdência municipal, nas primeiras semanas de funcionamento da Câmara, acabará sendo importante ao processo de arrumação das bancadas para a legislatura que se estende pelos próximos quatro anos, a contar desde 1º de janeiro. Uma dúvida que havia, e em certa medida ainda há, é sobre o comportamento que terão os três vereadores do PT - Guilherme Sampaio, Larissa Gaspar e Ronivaldo Maia - quanto à recém-iniciada gestão de José Sarto. E as primeiras conclusões não parecem boas para o prefeito pedetista.

De certa forma, deu-se um atropelamento político à costura por um entendimento que coloque a bancada do PT numa linha de neutralidade, diante do entendimento de que parece impossível levá-la à base oficial de apoio a Sarto. O pacote que trata da política previdenciária dos servidores municipais, e em especial a forma como tudo foi conduzido, lançou os petistas à linha de frente das reações contrárias. Guilherme Sampaio, um dos que mais tensiona no partido por um posicionamento oposicionista, esteve entre as vozes que mais fortemente reagiram ao pacote chegado, de surpresa, ao Legislativo.

Configura-se aquela situação, que Sarto tanto gostaria de evitar, da existência de duas oposições fortes e barulhentas a importuná-lo, uma pela direita e outra pela esquerda, da qual fariam parte também os dois representantes do Psol na Casa - Gabriel Aguiar e Adriana do Nossa Cara. Até é possível dizer que numericamente insuficiente para impedir que as coisas possam avançar pelo voto dentro da Câmara, mas, na perspectiva de mobilização da sociedade em torno das pautas, em volume político suficiente para gerar muito barulho e desconforto.

A notícia é péssima, numa perspectiva de médio prazo, também para o governador Camilo Santana, tão interessado quanto o prefeito José Sarto, ou até mais quando se olha para os objetivos políticos próximos de cada um, numa boa relação entre seus correligionários e a gestão de um aliado em Fortaleza. A primeira prova envolveu um tema já normalmente explosivo e que, no processo de condução, tentou fazer valer uma prática que não costuma gerar simpatias, aquela história de "passar o trator". O resultado é que aquilo que andava difícil, em termos de aproximação do PT com o PDT em Fortaleza, pode se tornar inviável.

Um cearense na CCJ

O deputado federal André Figueiredo (PDT), líder da Oposição na Câmara, encontrou-se com o colega governista Heitor Freire e provocou-lhe a se candidatar à presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), já que a ideia é que seja um representante do partido dele, o PSL. "Terá meu voto", garantiu, lembrando a tentativa hoje de emplacar a ultrabolsonarista Bia Kicis, do Distrito Federal.

Do radicalismo à conversa

Pode ter sido uma brincadeira, até porque tudo isso aconteceu entre risos de ambos, mas chama atenção as mudanças de atitude de Heitor Freire, um bolsonarista raiz lá atrás e que hoje foi extraído das rodas de conversa do grupo mais fanaticamente ligado ao presidente. Desde quando foi acusado lá atrás de vazar uma conversa com o "mito" que o deputado largou-se, ou foi largado, do radicalismo.

Camilo na lista de Lula

Ainda a voz que indica para onde as coisas vão e deixam de ir no PT, o ex-presidente Lula deu uma entrevista ao site Uol, na semana, e citou, de novo, o nome do governador cearense Camilo Santana como uma das boas alternativas do partido para a disputa presidencial de 2022. Quer dizer alguma coisa, mas existe o problema de convivência com os humores internos aqui no Ceará que nem sempre batem com o dele. Haveria necessidade de resolver isso antes.

À direita do PSDB

Dos cinco votos da bancada cearense contra a prisão do deputado federal Daniel Silveira (PSL/RJ), na sessão da última sexta-feira, a que pode ter gerado alguma surpresa foi a de Danilo Forte, do PSDB. Seu nome estava entre os cinco que pressionaram a opção "não", apesar da orientação partidária no sentido contrário. A verdade é que o tucano, um ex-militante de esquerda, reviu muitos dos seus conceitos ideológicos nessa sua volta à Câmara.

O "trabalhismo" em crise

Outro voto que contrariou orientação partidário o do deputado Pedro Bezerra, do PTB, neste caso, porém, com consequências já anunciada. A opção dele foi por votar "sim", quando o partido recomendou que a prisão fosse rejeitada. Inclusive, Daniel Silveira, a caminho de ser expulso do PSL, já tem convite de filiação de Roberto Jefferson, o "dono" da sigla (desculpem a palavra) trabalhista, caso isso realmente aconteça.

A bola está quicando

O caso Pedro Bezerra pode se complicar mais, nas instâncias internas, pelo fato dele ser hoje o presidente estadual do PTB. Já está anunciado que haverá retaliação e, inclusive, que, no caso cearense, o comando muda já a partir da próxima segunda-feira. Aliás, no ano passado Jefferson já tentou tirar a sigla das mãos da família Bezerra, mas esbarrou na força histórica do pai de Pedro, Arnon. Não perderá essa chance, certamente.

 

"Estamos passando a mão num ato irregular de quem deveria proteger a Constituição"

Capitão Wagner, deputado federal cearense líder do Pros na Câmara, ao defender o voto pela anulação da prisão do colega Daniel Silveira (PSL) determinado pelo STF. Ele garante que no mérito, defenderá uma punição do parlamentar quando do debate no que considera o foro correto, que é o Conselho de Ética da Casa. 


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