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A chave do problema nunca esteve com a empregada doméstica
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

A chave do problema nunca esteve com a empregada doméstica

O caso do ministro da Economia, Paulo Guedes, e do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que mantêm parte de seu patrimônio no exterior, evidencia retrocesso no combate à corrupção
Tipo Opinião
Ministro da Economia, Paulo Guedes (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil Ministro da Economia, Paulo Guedes

A era Bolsonaro, mesmo que os seguidores mais fanáticos recusem a ideia, vai deixando como marcas, a cada episódio novo que acumula, retrocessos expressivos nos avanços do combate à corrupção que o País experimentara no acumulado de anos sob regimes democráticos. É emblemática, nesse sentido, a situação que envolve no momento o poderoso ministro da Economia, Paulo Guedes, e o estratégico presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Duas posições que se baseiam na credibilidade para serem cumpridas na plenitude de suas necessidades, critério mandado às calendas quando se descobre que os dois, mesmo depois de irem para o governo comandar a política econômica do País optaram por manter parte do dinheiro que lhes pertence protegido das nossas incertezas e dificuldades. Um escândalo, não há outro sinônimo para isso, considerando que amvos sairam bastante beneficiados de todo o processo.

O discurso montado para amenizar o caso, de forças que tentam preservar o time econômico do que já se admite como desastre administrativo mais amplo do governo Bolsonaro, parte de uma verdade para ajudar a sustentar uma mentira. O fundamento considerado é que abrir uma offshore no exterior, mesmo em paraíso fiscal, não configura crime desde que esteja tudo declarado à Receita Federal, exatamente como aconteceu nos casos de Paulo Guedes e Campos Neto. As contas já existiam quando eles aceitaram ir participar do governo e é a partir deste ponto mesmo que o problema começa porque o correto teria sido fechá-las e internalizar o dinheiro. Não fazendo-o quando das posses respectivas, ambos deixaram o campo para a discussão que está posta sobre o conflito de interesses que a situação criou. Isso é muito evidente.

A tese está sendo levantada por gente simpática a Guedes e Campos mas não se sabe sequer se tem apoio do Palácio do Planalto. O silêncio oficial é absoluto e constrangedor, como se o governo não entendesse necessário explicar as razões de suas duas vozes principais da política econômica, gente de interferência direta sobre o humor do mercado, terem ignorado lei, códigos e condutas para manterem o dinheiro que lhes pertence a salvo da bagunça que eles próprios ajudam a criar com suas ações e erros. Por exemplo, ambos atuaram dentro de uma política que desvalorizou a moeda nacional em cerca de 40% desde a posse de Bolsonaro.

Sabe-se agora que por trás daquele sorriso largo de Guedes ao comemorar a nova realidade de dólar valorizado havia ganhos pessoais que podem ter chegado a R$ 14 mil por dia. Para um País onde um ministro, em outro governo, antes se viu obrigado a deixar o cargo ao ser flagrado pagando R$ 8,00 por uma tapioca, registra-se alguns passos atrás quando diante de um episódio que envolve volume de recursos muito maior e um caso ainda mais complexo, a sociedade se aquieta e as autoridades calam.

O encontro do novo partido com a velha política

Foi grande, de fato, o evento que marcou ontem o surgimento do União Brasil, sigla partidária que nasce da fusão entre DEM e PSL. Agora, que ninguém apareça falando em renovação, novas práticas ou algo do tipo, considerando a concentração de políticos profissionais e tradicionais que se observou ontem em Brasília. Gente que junta muito tempo de vida pública, mesmo aqueles mais novos, como Antonio Carlos Magalhães Neto, que começou muito cedo e por isso hoje é dado como "experiente". Quanto à situação do controle partidário no Ceará, ficará mesmo com o Capitão Wagner, mesmo que isso não tenha sido ainda anunciado, porque tem maior capital político do que Chiquinho Feitosa, que presidia antes o DEM e também demonstrou interesse. A indicação importante nesse sentido é que o Ceará, com o próprio Capitão Wagner, constou na lista de 12 unidades nos quais se acredita em candidatura competitiva aos governos locais.

Ouça podcast Jogo Político | Os desafios do União Brasil para se manter um superpartido

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