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OAB e a eleição que nunca termina
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

OAB e a eleição que nunca termina

Tipo Opinião
3001gualter (Foto: 3001gualter)
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O clima na OAB do Ceará é de "segundo turno", com as feridas ainda abertas do processo eleitoral do ano passado que levou à reeleição de Erinaldo Dantas como presidente da seccional para mais três anos de mandato. No olhar de alguns, este é o pano de fundo da briga do momento em torno da forma como se dará o processo de escolha dos indicados às duas novas vagas de desembargador abertas pelo Tribunal de Justiça para preenchimento pelo quinto constitucional. A gestão atual justifica mudanças de última hora, com a retirada de uma etapa de consulta direta aos advogados para começar a formar as duas listas de candidatos, alegando a pandemia e seus sinais mais recentes de recrudescimento com o surgimento de uma nova variante, enquanto a turma da oposição acusa "manobra antidemocrática" para tirar o direito de participação da classe.

O processo em si é complicado e talvez interesse menos ao leitor, especialmente àquele que não tenha carteira da OAB, entendê-lo nos seus detalhes mais técnicos. Há uma disputa que já chegou ao âmbito da justiça acerca do respeito, ou falta dele, ao que seria o regramento que define os passos da caminhada interna que leva à escolha dos nomes, especialmente, como já citado antes, no ponto em que se buscaria ouvir o sentimento de uma maioria. A suspensão da etapa da consulta geral à classe dá origem a toda confusão do momento, considerando-se, até agora, insatisfatórias as justicativas que relacionam a decisão ao quadro real de pandemia. O argumento básico é que já no final do ano passado, em novembro, aconteceu o processo de votação que permitiu ao atual grupo renovar seu mandato e ele foi presencial, por determinação do reeleito presidente, quando poderia, alega-se, ter optado pelo sistema remoto sem qualquer prejuízo.

Enfim, como parece normal para um ambiente ocupado por profissionais que vivem a interpretar a letra da lei, cada um com sua convicção, há uma disputa acontecendo no campo jurídico e no estágio em que se encontra, já até com decisão rejeitando um pedido de paralisação tomada em primeira instância, pelo juiz federal Luis Praxedes Vieira da Silva, as chances maiores são de a caminhada seguir no ritmo ditado pelo comando da OAB local. Ou seja, o pleno escolhe seis candidatos, dentre os que se habilitarem à disputa e cumprirem uma série de rígidas exigências prévias, encaminha sua lista ao Tribunal de Justiça, que afunila mais, deixa a relação com apenas três nomes dentre os sugeridos e a encaminha ao governador para a escolha final. Ritual que precisará ser cumprido duas vezes pela circunstância de um caso em que duas vagas foram abertas.

O papo é chato mesmo e parece só interessar a quem é advogado ou milita na OAB, quando a gente olha apenas para o cenário visível. Acontece que na parte invisível, registra-se uma disputa de poder e os personagens envolvidos são em geral expressivos e de peso público, troca-se cotoveladas jurídicas de altíssimo nível nos agitados bastidores da Ordem. Nas conversas que teve nos últimos dias para tentar entender o que acontece, naquilo que há além do que os discursos, ações, sentenças e recursos permitem perceber, a coluna foi apresentada a vários nomes que estariam em campanha para entrar na lista inicial e a partir daí se incluir nos processos de depuração até a chegada à mesa de Camilo Santana. Aliás, nome e sobrenome muito presentes às conversas, mesmo que sem colocar voz à disposição e não necessariamente estar inteirado do que acontece, inclusive pelo fato de sequer advogado ser. Sua formação é no campo da agronomia.

PT aqui, lá e acolá

Um dos discursos mais animados da plenária dos antialiancistas do PT do Ceará, na noite da última quinta-feira, transmitida pelas redes sociais, foi do militante Prudente Filho, um dos mais revoltados com a ideia de o partido abrir mão de candidatura própria ao governo para atender mais uma vez ao desejo dos Ferreira Gomes. No ponto mais entusiasmado da fala, mandou ver: "Esse baitola (referindo-se a Ciro) tem três por cento dos votos, não pode mandar no PT!". Faltou alguém repreendê-lo na hora pelos termos agressivos e, inclusive, homofóbicos.

Ciro Gomes(Foto: Aurélio Alves)
Foto: Aurélio Alves Ciro Gomes

Enquanto isso, Ciro...

Nem ai para a gritaria petista, Ciro Gomes voltou a atacar Lula sem dó na semana. "Um traidor da causa", definiu em entrevista na própria quinta, dia da tal plenária, "que vendeu o País aos banqueiros", acusou, e que "promoveu renúncia fiscal de salmão e de filé". Nas contas acumuladas que apresenta, os R$ 330 bilhões gastos com programas sociais na era lulista seriam quase uma esmola diante "dos R$ 4 trilhões e 88 bilhões" transferidos no mesmo período "para os banqueiros, agiotas oficiais do Brasil". Depender dele, definitivamnte, pode desmontar o palanque conjunto no Ceará.

Narcelio Limaverde(Foto: O POVO)
Foto: O POVO Narcelio Limaverde

A política não mereceu

Repórter iniciante pude acompanhar de perto uma parte da trajetória de Narcélio Limaverde como deputado estadual, no seu único e produtivo mandato, integrando a então combativa bancada do PMDB da legislatura que foi de 1987 a 1990. Poucos terão passado pela Assembleia com a mesma capacidade de defender ideias e com elegância semelhante para expressá-las durante os debates. De verdade, a política não fez por merecê-lo e há muito sentido em sua decisão de abandoná-la, tomada por ele muito tempo atrás.

Abraçados a uma ideologia

Sem novidades, o médico oftalmologista Hélio Angotti Neto, que está secretário de Ciência, Tecnologia, Insumos e Inovação do Ministério da Saúde e que assinou a triste nota técnica que aponta "eficiência" da hidroxicloroquina e "ineficiência" das vacinas contra a covid-19, recebeu solidariedade total da colega cearense Mayra Pinheiro, que também integra a equipe da pasta. Quanto à infeliz e inexplicável tabela até já foi abandonada, porque era uma mentira grande demais para ser sustentada, mas a quase obsessão por defender o tal tratamento preventivo segue vivo e firme entre eles.

Com vírus, sem povo

No vizinho Piauí, a Câmara de Vereadores de Teresina decidiu funcionar a portas fechadas no mês de fevereiro, sem acesso do público, porque a variante Ômicron invadiu de maneira impressionante a Casa e, sem escolher ideologia ou filiação,. espalhou o vírus entre servidores e vereadores. Neste último caso, pelo menos quatro anunciaram-se com covid, assustando o presidente Jeová Alencar (MDB) e levando-o a suspender por completo, pelo menos até o fim do próximo mês, a circulação de pessoas pelo prédio do Legislativo.

O ex-agitador das massas

Uma análise pessoal rápida do que aconteceu sexta-feira com o desafiador gesto do presidente Bolsonaro de ignorar intimação do ministro Alexandre de Moraes, do STF, para depor na Polícia Federal no inquérito em que é acusado de vazar investigação sigilosa. O ato é, em si, grave, mas a aparente calmaria geral na reação mostra, por um lado, que ele (Bolsonaro) perdeu a capacidade de apaixonar e deve se preocupar com isso; de outra parte, o que parece é que a parcela que tenderia a protestar decidiu apenas esperar que o dia 2 de outubro chegue para começar a se livrar do problema.

"Ao colocar em primeiro lugar uma disputa eleitoral, o Brasil caminha para jogar a educação pelo ralo" Confederação Nacional dos Municípios (CNM), no trecho mais duro de nota pública de crítica ao índice de reajuste de 33,24% para o piso salarial dos professores, considerando-o insustentável para as prefeituras e alegando que a decisão decorreu da prevalência das ambições políticas sobre interesses reais no desenvolvimento do País. O nome não é citado, mas o ataque tem endereço claro: presidente Jair Bolsonaro

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