Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
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Estamos saindo de uma das mais caóticas pré-temporadas eleitorais da política do Ceará. Pobres de nós, obrigados a manter o público atualizado sobre os movimentos das forças políticas, num contexto em que a situação modificava-se de maneira frenética e intensa como efeito de um jogo de bastidores observado, neste 2022, em ritmo que não encontrará paralelo em outro momento histórico. E olhe que não costumam ser mesmo fases tranquilas e marcadas pela estatibilidade.
Pois bem, conforme determina o calendário parece que os times estão definitivamente montados. Há ainda algumas brechas legais que tornam possível uma mudança extemporânea de nomes ou situações, mas, diante do trabalho que deu para cada aliança fechar sua equação o esperado é que não tenhamos mais novidades, já considerada a situação nova de ontem com a renúncia de Renata Almeida à vaga de vice na chapa encabeçada pelo PT. O que dá pra dizer no balanço final que apresentam os palanques a serem comandados pelo Capitão Wagner (União Brasil), por Roberto Cláudio (PDT) e por Elmano Freitas (PT), aqueles que parecem prontos para polarizar a disputa pelo governo do Ceará? O mais suscinto a dizer é que a situação de hoje não recomenda que se descarte qualquer hipótese das tantas que é possível levantar a partir do cruzamento dos três nomes em relação à perspectiva de votos de cada um.
Talvez haja condições de considerar improvável, desde agora, que tenhamos uma definição em primeiro turno. Já uma grande reversão nas expectativas iniciais que se tinha em relação à disputa estadual, considerando que até uma fase determinada das discussões o previsto era que tivéssemos dois grandes blocos, um deles juntando todo o governismo, do PDT ao PT, enquanto um outro concentraria a força de uma oposição à direita. Ou seja, a tendência clara era de que quem conseguisse chegar à frente em 2 de outubro, entre estes, apresentaria votos suficientes para liquidar a fatura sem a necessidade de uma nova rodada de votação.
A verdade é que tudo o que aconteceu nos últimos meses e dias, em conversas que aconteciam a toda hora, para todo lado, em meio a acordos rompidos, ignorados ou refeitos, uma disputa meio insana por apoios e anúncios, honra pouco a política. É uma fase que passou, enfim, e agora cada qual que faça seu cálculo, comemore aqui uma investida bem sucedida, lamente ali o insucesso de uma outra tentativa, mas também se deve cobrar alguma preocupação de mostrar planos de governo, projetos políticos com início, meio e fim. Por enquanto, nada disso apareceu, mesmo naqueles casos em que a candidatura está construída há mais tempo e já se poderia apresentar algo de mais concreto como ideia de solução para os problemas que esperarão o futuro governador.
O momento de privilegiar convescotes e articulações ficou para trás. A etapa que se inicia exige que cada campanha apresente sua avaliação do cenário, coloque em debate as soluções e meios que sugere para manter as coisas no rumo, tratando-se dos que representam o governismo, mesmo divididos em dois caminhos, ou, como deve ser o caso do oposicionista Capitão Wagner, para fazer as correções de rota necessárias. Acabou a brincadeira, esse é resumo da história.
"O crime não ficará impune. Ao mesmo tempo me solidarizo com os familiares e amigos do vereador Franzé do Hospital"
A recusa inicial de Mônica Oliveira ao convite para representar o MDB na chapa liderada pelo petista Elmano Freitas, assumindo a vice, está na origem do problema em que se transformou o preenchimento da vaga. A má acolhida ao nome de Renata Almeida, que terminaria renunciando ontem depois de atacada nas redes sociais de maneira violenta, inclusive com referências a um "passado bolsonarista", mostra que a escolha precisa ser mesmo muito cuidadosa. O perfil já se tem, contrapondo-se bem aos adversários, e a busca segue sendo, prioritariamente, por uma mulher que de fato represente uma novidade política. Mônica, para quem não ligou o sobrenome à pessoa, é a mulher de Eunício Oliveira.
O clima é de um certo alívio na campanha do Capitão Wagner com o desfecho das longas conversas para escolha final de sua melhor opção para vice. O anúncio do ex-deputado federal Raimundo Gomes de Matos foi muito bem recebido diante das alternativas iniciais colocadas, numa lista que incluía a mulher e a nora de Acilon Gonçalves, presidente estadual do PL, ao qual cabia a indicação. O problema, no caso, é que as opções estavam colocadas apenas pela condição de nora ou mulher do político ao qual estava entregue a missão de conduzir o processo que levaria ao nome adequado. Argumento, convenhamos, frágil demais como justificativa para uma decisão de tal grandeza.
O repentino aparecimento do empresário Amarílio Macedo no cenário eleitoral, como candidato ao Senado pelo PSDB e na chapa do pedetista Roberto Cláudio, tem sido saudado nos últimos dias como uma das boas notícias de 2022. Mesmo que as chances de êxito dele sejam bastante reduzidas, diante da força que apresenta Camilo Santana na briga pela única vaga que estará em disputa, entendendo-se que sua simples presença é garantia de um debate de melhor nível e focado no que é a essência do que se espera daquele que se habilita a representar o Ceará pelos próximos oito anos. Agora, convenhamos, se chance real houvesse Tasso Jereissati, que o indicou como candidato, não abriria mão de ir ele próprio para a briga.
Aliás, não passou batido um ponto da composição final da chapa majoritária do PDT: nenhuma mulher fez por merecer ocupar qualquer das cinco vagas disponíveis, consideradas, já, as duas suplências de senador. O anunciado é que o primeiro suplente de Amarílio Macedo será o Doutor Cabeto, cabendo a segunda suplência ao empresário Régis Medeiros. Num contexto em que o Capitão Wagner opta por uma mulher como candidata, Kamila Cardoso, e no qual Camilo Santana leva na sua chapa as companhias de Augusta Brito e Janaína Farias. Aparentemente um erro dos pedetistas, já acusados de terem rifado Izolda Cela como candidata à reeleição ao governo por razões de gênero.
A ala bolsonarista, que lá atrás andou falando grosso e mostrando disposição para brigar por vagas na chapa majoritária da oposição, querendo impor o nome do Inspetor Alberto para o Senado, por exemplo, no final das contas conformou-se com a solução de composição apresentada. Mesmo que, no frigir dos ovos, aquela turma raiz no apoio ao presidente da República, que está com ele desde sempre e seguirá ao seu lado até o final, certamente, tenha sido absolutamente ignorada. Não emplacou ninguém e o Capitão Wagner pôde, como era sua intenção, montar todo o palanque em atendimento aos seus interesses e estratégias.
Parece triste constatar isso, mas o simples fato de o presidente Jair Bolsonaro (PL) ter ido às suas redes sociais para lamentar a morte do comediante e apresentador Jô Soares, mesmo que num texto cheio de coisas dispensáveis e equivocadas - "apesar de sua ideologia etc etc" -, já é suficiente para sentirmos alguma evolução institucional da parte dele. É lembrar que passou incólume a perda para o País de artistas do tamanho de Aldir Blanc, João Gilberto, Rubem Fonseca, Beth Carvalho, pelo simples fato de que nenhum deles admirava o presidente ou seu governo. Um contrassenso absoluto para quem diz lutar tanto em defesa da liberdade de expressão e de opinião das pessoas.
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