
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
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O assunto do momento na política cearense é, não há jeito, a briga entre os irmãos Ferreira Gomes. Para usar um termo mais apropriado, "o desentendimento", considerando que verificam-se declarações controladas e silêncios administrados sem, ainda, uma marca de ataques abertos de uns contra os outros. Os personagens envolvidos, em especial os ex-governadores Ciro e Cid, justificam, pelo tamanho de cada um, o barulho que está criado.
No entanto, é uma manifestação nos últimos dias do terceiro irmão e mais novo deles, Ivo, que dará base inicial à abordagem que a coluna propõe para a crise no clã que de alguma forma está presente aos principais fatos políticos cearenses dos últimos 35 anos, pelo menos. Disse ele, que é atualmente o prefeito de Sobral: "O pior: eles ainda não aprenderam". Uma avaliação importante porque, no essencial, indica uma perspectiva de incerteza para o grupo em termos de futuro na medida em que expõe uma falta de capacidade de Ciro, alvo principal da crítica, de reconhecer erros cometidos e pensar os passos seguintes absorvendo-os como lições. Quando elas existirem.
É flagrante, e a boa advertência de Ivo veio nesse sentido, a incapacidade demonstrada por Ciro Gomes, com o grupo que lhe segue fiel e próximo no Ceará, de fazer uma leitura fria do que aconteceu. De verdade, as urnas foram cruéis com ele, dando à candidatura presidencial que liderou minguados 3,05% dos votos nacionais, quadro agravado pelos parcos 6,8% de cearenses que cravaram seu nome. Para se ter ideia do que representa este último dado, o pedetista havia sido a opção de 40,9% dos seus conterrâneos na tentativa imediatamente anterior, quatro anos atrás, de chegar ao Palácio do Planalto.
Cid é poupado na crítica porque, reconheça-se, busca um comportamento diferente desde quando o processo de disputa pelo poder chegou ao fim. Tem sido até mesmo humilde, considerado o padrão Ferreira Gomes, aceitando que a última eleição deixou recados que precisam ser captados e processados, inclusive como estratégia de sobrevivência do grupo. É uma questão de inteligência política, que o fígado da parte que segue querendo briga parece impedir que prevaleça no debate interno que a situação alimentou.
Caberia a Ciro, Cid, Ivo, e os líderes pedetistas importantes agregados, como Roberto Cláudio, José Sarto, Evandro Leitão e André Figueiredo, para citar apenas os mais simbolicamente representativos, ter feito uma reflexão mais profunda entre eles sobre o que aconteceu no ano eleitoral de 2022 e, principalmente, identificar os por quês. Haveria necessidade de um mergulho do grupo em seus próprios problemas antes de voltarem à superfície para o realinhamento de rota que a performance desastrosa impõe que seja feita.
Era o momento de fazer a lavagem de roupa suja dentro de um contexto interno, evitando-se que as razões de economia doméstica ganhassem destaque, como terminou acontecendo, criando a situação inconveniente que os obriga a olhar para trás numa hora em que o ideal seria que estivessem olhando para frente.
"Nosso processo está tendo um desfecho feliz para o PDT"
Segue firme a resistência do governador Elmano de Freitas (PT) a qualquer ação mais drástica contra aliados de até outro dia por conta das tensões com o PDT. Assim é que gente que se diz ligada a Ciro Gomes e Roberto Cláudio continua ocupando cargos na gestão estadual, mesmo que não falte pressão para que as substituições aconteçam. A lista está pronta e chegará às mãos de Elmano assim que ele a solicite, caso o faça, porque ainda há esperança de que as condições voltem ao normal de antes.
Era inevitável e até entendo que a iniciativa se dá meio fora do tempo, no sentido de vir atrasada. O presidente da Assembleia, Evandro Leitão (PDT), comanda amanhã o encontro da mesa diretora com os líderes partidários para tratar do ambiente e da necessidade de uma convivência mais sadia entre colegas de mandato, mesmo que eventualmente adversários da política. Boa sorte para ele, mas a tendência não é de melhora no clima considerando que cada dia que passa representa mais um avanço em direção à próxima temporada eleitoral. E, a gente sabe, as disputas locais costuma ser muito mais quentes.
Secretária estadual de Educação, Eliane Estrela mandou o recado a quem de direito: considera-se pronta para uma aventura eleitoral em 2024, caso assim o queiram Camilo Santana e Elmano de Freitas. Traduzindo, dispõe-se a disputar a prefeitura de Crato, sua terra, como representante local das forças governistas. A professora não tem filiação partidária, atualmente, mas admite já existirem conversas adiantadas com o PT, não por coincidência, o partido de Camilo e Elmano.
O corpo fala e, na política, às vezes grita. A imagem colhida em Brasília, na quinta-feira, do encontro do governador petista Elmano de Freitas com a bancada federal cearense para tratar da reforma tributária mostra, na hora da pose para o flash, Iuri do Paredão de sorriso largo, parecendo à vontade, e, ao mesmo tempo, André Fernandes, seu colega de PL, de cara fechada, amarrada, sem qualquer esforço de esconder o incômodo com aquele gesto protocolar de aceitar um convite, afinal, de quem governa o Estado onde mora o eleitor que o levou à Câmara.
Caso o PT leve mesmo adiante a ideia, hoje prevalecente, de ter candidatura própria à prefeitura de Fortaleza em 2024, deve-se esperar uma confusão interna bem ao estilo do que é marca do partido. A deputada estadual Larissa Gaspar é clara em dizer que está na briga e a linha do discurso parece clara: uma opção ao mesmismo. Recado mais direto impossível de que o petismo precisa mostrar que vai além de Luizianne Lins, ex-prefeita duas vezes e candidata outros tantos, na capital cearense.
O Ministério da Educação, comandando pelo cearense Camilo Santana, deu por encerrado o processo de consulta acerca da reforma do plano nacional de ensino médio que encontrou encaminhado pela gestão anterior. Nos próximos 30 dias promete analisar tudo que foi dito acerca do assunto e apresentar um relatóro conclusivo. O problema é que existe um movimento pela esquerda, de especialistas influentes alinhados com o governo, que pressiona para que o MEC ignore, simplesmente, tudo que encontrou. Camilo parece que vai comprar a briga.
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