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José Guimarães, a Câmara e o futuro
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

José Guimarães, a Câmara e o futuro

Os movimentos do deputado federal José Guimarães são calculados, porque precisam ter foco nos resultados que o governo espera para já e, ao mesmo tempo, não pode perder de vista o projeto pessoal dele de disputar o Senado daqui a três anos e meio
Tipo Análise
1607gualter (Foto: carlus campos)
Foto: carlus campos 1607gualter

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Foi um semestre duro para o petista cearense José Guimarães, que é o líder do governo na Câmara dos Deputados. Inclusive pelo ponto em que seus planos de longo prazo exigem uma permanente atenção com as bases aqui no Estado para tornar viável a ideia de disputar uma vaga ao Senado quando chegar a temporada eleitoral de 2026. Acontece que foram seis meses, estes primeiros do atribulado primeiro ano de volta ao poder, tensos e complicados além da conta.

Guimarães comemora o resultado final, avalia que o time de líderes governistas, incluindo ele, deu conta das missões entregues, mas admite que houve momentos bastante desafiadores. Aprovar a PEC da reforma tributária até nem aparece como a tarefa mais difícil, pelo menos nas anotações do parlamentar cearense, embora seja a vitória mais justificadamente comemorada do período.

Deputado Jose Guimarães, líder do governo na Câmara(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Deputado Jose Guimarães, líder do governo na Câmara

Qual teria sido, então? Para José Guimarães, problema mesmo foi a ameaça real que houve de anular o redesenho feito pelo presidente Lula e equipe para a estruturação organizacional do seu governo. Deu muito trabalho, talvez nem percebido na sua dimensão concreta pelo pouco destaque que o assunto teve no noticiário, conter a disposição que havia na Câmara de deixar a Medida Provisória caducar, impondo ao Palácio do Planalto uma derrota que seria séria.

Lula, se isso acontecesse, teria que fazer a coisa funcionar com a ideia de máquina administrativa que herdara de Jair Bolsonaro, onde não havia espaço para ministérios do Trabalho, da Previdência, da Cultura, do Planejamento, dos Direitos Humanos, de Igualdade Racial, enfim, seria um outro governo. Sem contar o preço político alto que se pagaria diante de uma derrota em algo tão básico quanto, simplesmente, conseguir do Congresso aval para estruturação da equipe considerando as novas prioridades que se estabelecem. Um feito (negativo) que seria inédito.

Os eventos de 8 de Janeiro, com aquela invasão maluca e despropositada do Congresso, do STF e do Palácio do Planalto, nem entram com nota de destaque no balanço do líder na Câmara. Já se tinha como certo que, nesse campo, do enfrentamento político, o início de governo seria de difícil travessia e até mesmo que alguns momentos de tensão máxima se registrariam. É o que se deu naquela data, saindo de controle mesmo apenas a instalação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, que não estava nos planos, embora se dê hoje o quadro como contornado a partir de uma mudança de estratégia que levou o bloco governista a exercer controle sobre a investigação. É como se considera que a coisa está hoje.

Os movimentos do deputado federal José Guimarães são calculados, como dito inicialmente, porque precisam ter foco nos resultados que o governo espera para já e, ao mesmo tempo, não pode perder de vista o projeto pessoal dele de disputar o Senado daqui a três anos e meio. No caminho há ainda a disputa nos municípios, ano que vem, e o parlamentar enfronha-se nas articulações que tentam montar um xadrez eleitoral que garanta o máximo de acordo entre os aliados. Tanto é assim que para encontrá-lo estes dias, a partir de sexta-feira pelo menos, só mergulhando interior adentro para acompanhar sua frenética agenda de contatos e reuniões que olham para 2024 prestando muita atenção em 2026. Tudo, sem esquecer que dia é hoje.

O erro do acerto

Há quem considere que o MEC do cearense Camilo Santana errou na estratégia ao anunciar, da forma que o fez, a suspensão do tal programa de escolas cívico-militares que o governo Bolsonaro deixara de herança. Considera-se que a iniciativa morreria por ela própria, mas a decisão de fazer barulho com a medida teria atiçado o bolsonarismo, ao ponto de merecer pronta resposta de governadores que, de olho nos conservadores, decidiram manter seus programas estaduais, sendo que a decisão do Ministério permitia isso sem qualquer problema.

Ciro, o comentarista

O ex-presidenciável pedetista Ciro Gomes distribui hoje o primeiro texto na newsletter que está lançando, ao custo mensal de R$ 20,00 para quem assiná-la. É uma forma de ele manter uma certa evidência no cenário político, a despeito do pífio desempenho eleitoral no ano passado de sua candidatura presidencial, também lhe permitindo, a depender da quantidade de gente que atrair, uma renda para cobertura de despesas pessoais. As performances nas urnas tornam a cada vez menos atrativas as palestras remuneradas do político brasileiro que, ele próprio gosta de dizer, é uma pessoa sem posses.

Transposição, de novo

Assistiu-se nos últimos dias a mais uma "inauguração" da transposição das águas do São Francisco no Ceará. Estava lá a vice-governadora cearense, Jade Romero, ministros, parlamentares e políticos do Cariri, enfim, aquele roteiro de sempre e que, cá entre nós, já cansou. O ideal é que se resolva os impasses eventuais, caso possível, em silêncio e sem festa, a obra funcione na imensa utilidade que dela se espera e o benefício enfim chegue à comunidade, o que realmente interessa. O que houver além disso, é só fumaça e aquele cansativo jogo político.

Evento de acionamento do novo sistema de bombeamento EB3 em salgueiro com a presença da vice governadora Jade Romero e do ministro Waldez Goes(Foto: José Wagner/ Governo do Ceará)
Foto: José Wagner/ Governo do Ceará Evento de acionamento do novo sistema de bombeamento EB3 em salgueiro com a presença da vice governadora Jade Romero e do ministro Waldez Goes

A obra e o deputado

Para informar direito, feito o desabafo: na última quinta-feira, dia 13, um evento com a vice-governadora Jade Romero e os ministros Waldez Góes, da Integração Nacional, e Paulo Pimenta, das Comunicações, além de uma penca de outros políticos cearenses e pernambucanos, recolocou em operação o sistema de bombas da Estação de Bombeamento 3 (EBI-3), com perspectiva de beneficiar 7,6 milhões de pessoas em todo o Nordeste. Uma fofoquinha para fechar o assunto: o deputado federal Yuri do Paredão, do PL de Jair Bolsonaro e de André Fernandes, estava lá, lépido, fagueiro e feliz.

Aliados, novo e velhos

O movimento do governador Elmano de Freitas (PT) para consolidar o PSD como aliado, criando a secretaria de Proteção Animal e acomodando nela o deputado federal Célio Studart, pode alterar as peças do jogo sucessório de Iguatu. A suplente que assume na Câmara, Eliane Braz, é vereadora e casada com o prefeito afastado, Ednaldo Lavor, cujo grupo torna-se mais forte para a eleição suplementar ou até para a disputa regulamentar do próximo ano. O detalhe: sua oposição local é feita pelo MDB e pelo PT, ou seja, é briga toda de gente da base. Isso não costuma terminar bem.

O bolsonarismo agradece

O senador cearense Luiz Eduardo Girão (Novo) prestou mais um serviço ao movimento do qual diz não fazer parte com evento político que propôs e comandou sexta-feira em Brasília. Audiência pública realizada pela Comissão de Segurança Pública, a partir de proposta sua, transformou-se em palco livre de choros (literalmente, em alguns casos) e cobrança de um tratamento humano para quem está preso por envolvimento com a bagunça de 8 de janeiro, além de um conjunto vazio de denúncias de abusos e ilegalidades. O "bolsonarismo" agradece, mas o político cearense insiste que não o integra, apesar da confluência das pautas em quase 100 por cento. Na verdade, tirando a parte das armas como posição antagônica, sobra o quê?

 

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