
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
A sorte sorriu para o PDT do Ceará dando-lhe perspectiva numa das fases mais desafiadoras de sua existência. Dispor de uma figura como Flávio Torres para comandar a nau em meio à tempestade política que teima em não ir embora é um fator de tranquilidade diante dos tempos difíceis que se arrastam desde, pelo menos, a campanha eleitoral de 2022. Trata-se de um filiado com todos os predicados que se considera necessários àquele que receber a tarefa, como é o caso, de juntar os pedaços e tentar recolocar a coisa nos eixos dentro de uma sigla política que tem história mas andou negligenciando-a em nome da prioridade ao crescimento sem critério.
O partido volta às mãos de um pedetista histórico, mais do que isso, um "brizolista" autêntico. Diga-se em favor do presidente estadual licenciado, André Figueiredo, que também ele tem sua vida pública toda vinculada à sigla, desde quando surgiu como um dos expoentes do núcleo da Juventude. A vantagem que Flávio Torres tem sobre ele, além dos 22 anos a mais de vida, já um fator diferencial, é que seu foco pode estar voltado 100 por cento para os interesses do partido, não há qualquer outro objetivo paralelo que lhe divida, até justificadamente, a atenção. André Figueiredo, lembremos, está no quinto mandato como deputado federal.
A verdade é que a falta dessas amarras tem permitido ao experiente político e veterano pedetista se comportar com liberdade absoluta. Como não tem vocação para o autoritarismo, antes pelo contrário, Flávio Torres abusa da sinceridade em suas falas e nas ações públicas para acelerar o processo de volta das coisas ao leito normal no ambiente pedetista. Diz da bagunça administrativa que encontrou, não usa meias palavras para advertir aos deputados que quem sair vai comprar uma briga judicial e, olhando para frente, já encontra formas de avisar aos envolvidos, sem confrontá-los, que qualquer movimento estratégico-eleitoral que vise aproximação com o bolsonarismo deve excluí-lo.
O quadro, no geral, demonstra-se muito mais complexo do que faz parecer o espírito relaxado que Flávio Torres decidiu empreender ao seu novo mandato interino. Até porque, convenhamos, não é que a limpeza ideológico-programática está feita por critérios e ficou apenas a turma de laços históricos, os que são realmente identificados com as causas pedetistas etc. Parte dos que seguem filiados apresenta o mesmo compromisso com as bandeiras partidárias que os que saíram ou estão saindo, ou seja, nenhum. Quase nenhum, tudo bem.
Certo é que não se trata da primeira vez que ele corre para socorrer o PDT cearense, com a diferença de que em crises anteriores recebia delegação do próprio Leonel Brizola para colocar a coisa em ordem. No quadro de agora seu nome surge como resultado natural de ser quem é e o fato de não ter planos eleitorais deixa-o à vontade para fazer o que considera necessário.
Agora, arrisca começar a ser um incômodo caso as estratégias eleitorais estejam colocadas, em determinada circunstância, à frente do esforço que ele comanda de reorganizar internamente o partido. É evidente que, na cabeça dele, nem todo acordo é válido para o objetivo traçado de sair forte das urnas. Mesmo quando se fala da prioridade zero pedetista para 2024, que é manter o controle político-administrativo de Fortaleza. Lembra da história, lá atrás, de não contar com ele para qualquer aproximação com os bolsonaristas?
Acerta-se a data, mas com certeza o ex-presidente Jair Bolsonaro virá muito brevemente ao Ceará. Em contato permanente com o presidente estadual do PL, Carmelo Neto, ele ajuda, a distância, em algumas decisões que são tomadas acerca do cenário de participação do partido nas eleições municipais de outubro próximo. A ideia é fazer muito barulho quando a visita acontecer, naquela linha de apresentá-lo como um contraponto, em termos de popularidade, ao sucessor Luiz Inácio Lula da Silva, que alegam não poder sair à rua pelo clima hostil que enfrentaria. Uma bobagem, se querem minha opinião, desmentida pela realidade.
Sobre isso, aliás, uma informação que há de preocupar o Capitão Wagner em relação aos seus planos em Fortaleza para 2024: Carmelo e Bolsonaro já decidiram que o PL terá candidato em Maracanaú. Na forma como se movimentam os bolsonaristas, em que tudo tem a ver com tudo, será difícil que um eventual problema que se observe numa disputa não interfira na realidade de outra. Em português claro, uma conversa sobre segundo turno na Capital pode se tornar mais difícil em função de um eventual problema que se observe no influente município onde Wagner segue secretário de Saúde, com previsão de deixar o cargo já no próximo mês para se dedicar à pré-campanha.
Quem avança firme nos seus planos para 2026, quando mira uma disputa ao Senado, é o empresário Chiquinho Feitosa, presidente do Republicanos no Ceará. Foi decisiva sua atuação no processo que teve desfecho na semana, com a entrega da executiva cearense do Solidariedade a George Lima, oficializando a sigla dentro da base do governo Elmano de Freitas. Avalia-se, até, a possibilidade de a sigla lançar candidato em Fortaleza para assumir aquele papel de linha auxiliar do PT e focar as críticas na gestão pedetista. Isso, claro, materializando-se o projeto Evandro Leitão 2024.
Por falar em candidatura do PT à prefeitura de Fortaleza, Waldemir Catanho precisará usar como nunca suas qualidades de equilibrista, no melhor sentido político do termo, para conciliar os interesses em jogo (inclusive os dele) no papel de articulador político do governo. Fez isso ao participar de evento de Luizianne Lins na semana, dizendo que tem lado e defendendo a deputada como candidata, ao mesmo tempo em que afirmando ainda acreditar possível um acordo para pacificar as coisas. Sabemos nós, ele mais do que eu, até, que não é o cenário que o horizonte de hoje nos permite vislumbrar.
O périplo do presidente Lula pelo Nordeste durante a semana, trazendo-o ao Ceará, a Pernambuco e à Bahia, sinaliza o forte interesse dele de exercer sua influência nas disputas eleitorais que estão acontecendo no ano, especialmente nas capitais. Os discursos foram muito políticos, em todas as agendas cumpridas, embora, nesse aspecto, a passagem por Fortaleza tenha deixado a marca da ausência da pré-candidata (e deputada federal) Luizianne Lins, queixando-se de ter sido barrada em ocasião anterior pelo cerimonial do Ministério da Educação. Por Camilo Santana, traduzindo.
É muito confusa a estratégia do governo Lula no debate, que ele teima em manter vivo, da desoneração da folha de pagamento para 17 setores da economia. Para além do mérito da matéria, que não será tratada aqui. O problema: quando houve votações no Congresso, quatro vezes, deputados e senadores mostraram uma maioria incontestável pela renovação da Medida Provisória. Inclusive, no meio disso, derrubando um veto presidencial. A ideia de editar nova MP para fazer valer sua visão é afrontosa, piora o clima com os parlamentares, gera instabilidade nos setores da economia atingidos, enfim, prejudica a governabilidade que se busca todo dia nesse País ainda tão dividido pelas ideologias.
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