
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
O assessor político do Palácio da Abolição designado para tratar da delicada relação com prefeitos e líderes municipais no dia-a-dia, Artur Bruno estará sujeito a muitos outros constrangimentos iguais àquele que enfrentou na última quarta-feira, em Quixelô, a 344 km de Fortaleza. Aliás, a experiência acumulada ao longo dos vários mandatos parlamentares e no tempo de governo lhe permite ter noção do tamanho do problema que lhe espera diante do desafio de atravessar a temporada eleitoral que se aproxima sem arranhar a base de sustentação política que dá tranquilidade ao governador Elmano de Freitas para tocar sua gestão.
Para quem não sabe do que se trata, durante a inauguração de uma quadra no município do Centro-Sul, Artur Bruno, instalado no palanque central entre os deputados Marcos Sobreira (PDT) e Agenor Neto (MDB) - que disputam o voto na região num ambiente de pouca cordialidade -, prendeu a respiração quando viu o prefeito quixeloense Adil Jr (PSB) - aliado de Sobreira e inimigo de Agenor - começar a atacar o parlamentar emedebista por uma alegada ausência de trabalho seu em favor do município. Por razões políticas, segundo o irritado orador.
Deu-se o que é esperado numa hora dessa: Agenor tentou intervir, chegou a tocar no prefeito como que pressionando pelo direito de respondê-lo em tempo real, a turma do deixa-disso entrou em ação, vaias e aplausos dividiram o ambiente, enfim, o único saldo que se pode entender positivo de tudo é que se conseguiu levar a cerimônia até o seu final. Afinal, o que interessava de verdade era que o equipamento fosse entregue à comunidade, o que aconteceu.
Artur Bruno? Permaneceu impassível, meio assustado na versão de quem acompanhou a coisa mais de perto, e, com certeza, lá com ele mesmo imaginando quantas situações semelhantes há potencialmente espalhadas pelo Ceará. São muitas e o quadro exige um mapeamento cuidadoso, inclusive para definir onde a presença do próprio governador deve ser evitada a partir de agora e pelo menos até que a poeira eleitoral baixe.
Reconhecidamente, Bruno é um político jeitoso. Diz estar instruído por Elmano para manter as portas de seu gabinete no Abolição abertas para todos os prefeitos, sem olhar se faz parte da base ou engrossa a oposição, se é aliado ou adversário etc. Orientação, adianta, reforçada para a fase eleitoral do calendário. A opção dos governos cearenses, este e praticamente todos os que o antecederam mais recentemente, tem sido por evitar qualquer tipo de oposição sempre que possível e colocar todo mundo sob seu frondoso guarda-chuva, o que obriga a gerar convivência entre correntes políticas que não conversam entre si nas suas bases, pelo contrário, lá se digladiam. Em tempos normais parece possível lidar com a situação sem atropelos, só que entramos na fase excepcional de disputa pelo poder municipal, quando as regras de civilidade enfrentam mais dificuldades para prevalecerem.
O evento de Quixelô foi um primeiro aviso e, entre mortos e feridos, entende-se que todos escaparam. A turma da Abolição vai precisar viver uma aflição por vez para, fechadas as urnas, calcular o saldo das perdas e danos que ficaram pelo caminho. Até porque, compreende-se que sair totalmente incólume é impossível.
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Circula forte nas redes sociais um material direcionado à turma do futebol. Em termos simplificados, a mensagem é: "Quem é Leão não vota em Evandro Leitão", referindo-se ao processo eleitoral de 2024. Como imagem de acompanhamento do material, reforçando-o, uma foto de 2013 do então presidente do Ceará Sporting, que deve ser o candidato do PT à prefeitura da capital, ao lado do jogador Arlindo Maracanã, do Sampaio Correa, logo após o clube maranhense eliminar o Fortaleza da série C, frustrando, naquele momento, o sonho do acesso. O esforço de tirar voto do petista por esse caminho já entrou em campo, havendo dúvidas de que funcione numa campanha majoritária. Minhas, no caso.
Começou a corrida dos partidos que apresentarão candidaturas majoritárias em Fortaleza para conseguirem mulheres capazes de oferecerem às chapas a cara de uma diversidade que existe apenas para inglês ver. Definido que apenas homens disputarão a prefeitura, como está desenhado, que agora se continue com o mesmo critério de fazer as escolhas certas, na perspectiva de quem as fizer, independente do gênero. O que se vê, ao contrário, é uma decisão inicial de ir atrás de uma representante do sexo feminino como perfil básico inicial, o que não costuma dar certo. É ruim até para o segmento que se pretende "homenagear", já que a competência assume uma posição secundária como argumento definidor.
Convenhamos, depõe contra alguém que detenha a condição de pessoa pública a partir de sua atividade política, exercendo mandato popular ou não, ter contra si uma decisão que lhe impõe deixar de atacar uma adversária política com termos do tipo "cortesã", "organizadora de farras" ou "assessora para assuntos de alcova". Ciro Gomes já tem idade (faz tempo) para adotar um comportamento mais controlado nas suas críticas contra quem divirja pelas ideias ou ações, não fazendo sentido que acumule tantas condenações e, menos ainda, que tente justificá-las como resultado de sua coerência e sinceridade. Há como ele questionar Janaína Farias, atualmente ocupando o mandato de senadora com as licenças de Camilo Santana e Augusta Brito, sem atacar-lhe a honra e partir para o lado pessoal. Em tempo: a decisão que tenta por freio na língua de Ciro é da juíza Patrícia Vasques Coelho, da 12ª Vara Cível de Brasília.
Aliás, o cearense Luiz Eduardo Girão (Podemos), pega o problema pelo lado errado ao ignorar por completo o conteúdo das agressões baixas de Ciro Gomes contra sua colega de Congresso e focar no que considera desvio de finalidade da Advocacia Geral do Senado ao notificar uma rede de comunicação local sobre o assunto para que evite continuar reproduzindo a tal entrevista. Pode ser que tenhamos um problema nesse ponto, até concordo que sim, mas, adentrando na reação do parlamentar é estranho que ele passe ao largo do teor agressivo e baixo das declarações que dão origem à crise, furtando-se de gesto de solidariedade à pessoa atacada.
A oposição ao prefeito Ivo Gomes (PSB), em Sobral, torce pelo ministro (e senador) petista Camilo Santana na "briga" que se estabeleceu pelo futuro da ex-governadora e atual secretária-executiva do MEC, Izolda Cela. Ivo e o irmão, senador Cid Gomes, redobram esforços para convencê-la a assumir o desafio de uma candidatura, convictos de que sem um nome forte para defender a continuação as chances de a oposição finalmente ganhar são reais e grandes. Ela recebeu o prefeito em sua casa, outro dia, para uma longa conversa na qual foi apresentada a situação e se apelou por um "sim" ao convite. Camilo, para lembrar, defendeu que Izolda permaneça em Brasília e claro, o fato está sendo explorado, por exemplo, pelo deputado Oscar Rodrigues (União Brasil), provável candidato, que espalhava pelos corredores da Assembleia na semana que o ministro já ganhou a parada. Não é (ainda) verdade.
Está acontecendo aquilo que se sabia que iria acontecer. O brutal assassinato do vereador Erasmo Morais (PL), no Crato, esquenta o cenário político no município caririense, gera desdobramentos que somente uma investigação rápida e séria conseguirá estancar e a dedicado ao assunto, até pelo fato de um deputado, Aloísio Brasil, aliado da vítima, denunciar vir sendo ameaçado. Pelo sim, pelo não, espera-se tendência é que a próxima campanha eleitoral seja tomada pelo tema segurança pública. Sem contar que contamina outros espaços de discussão, como a Assembleia Legislativa, que teve parte do seu tempo na semana que as autoridades já tenham oferecido a necessária proteção ao parlamentar e que ele a tenha aceito. Triste, mas necessário.
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