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Quem influencia os deputados, de verdade
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Quem influencia os deputados, de verdade

É o que aponta o Anuário do Ceará 2024/2025, que será lançado no dia 1º de julho e traz a lista dos deputados com mais capacidade de influência
Tipo Análise
2306gualter.jpg (Foto: carlus campos)
Foto: carlus campos 2306gualter.jpg

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O Anuário do Ceará 2024/2025 soltou sua esperada lista de influências nos nossos ambientes políticos. Confesso gostar bastante da metodologia pelo que ela expõe de verdade quando se busca localizar quem de fato apresenta capacidade de ter a voz ouvida pelos pares, aqueles que efetivamente participam com protagonismo das grandes decisões tomadas num espaço que define nossas vidas em muitos momentos. Concentrei meu olhar sobre a Assembleia, para localizar quem é realmente considerado na hora das escolhas pelos nossos deputados.

É significativo que o presidente atual, Evandro Leitão (PT), apareça como o mais influente, citado por 31 colegas de Assembleia. A cadeira onde ele está sentado ajuda a explicar o resultado, mas não é, isoladamente, a razão principal da citação feita pelos deputados, considerando-se, inicialmente, que os votos são secretos. Ninguém estará exposto pelas escolhas de nomes que fizer entre 46 alternativas diante de si, lembrando-se que cada um cita três e que o voto em si próprio é proibido.

Também a lembrança em torno do líder do governo guarda uma certa relação com a capacidade que ele naturalmente precisa apresentar de resolver problemas que lhe chegam, encaminhados em geral por figuras que precisa liderar na defesa da gestão que ali está para proteger. Claro que não se chega aos 18 votos, como acontece no caso de Romeu Aldigheri (PDT), apenas pelo fato de estar no posto, tem uma ação que precisa ser desenvolvida ao ponto de merecer a lembrança dos colegas. Inclusive porque há enfrentamentos e a missão também atrai antipatias, porque nem todas as teses abraçadas integram aquilo que se pode chamar de pauta positiva.

Apesar disso, parece evidente que a aproximação com o poder rende mais no campo positivo do que gera perdas. Terceiro mais lembrado e líder do bloco governista puxado pela bancada do seu PT, Diassis Diniz teve 10 citações porque há visibilidade imediata do ponto em que está, mas também porque age com protagonismo. Mesmo quando o tema tem força para render desgaste, porque a boa vida não é marca inerente ao situacionismo, aliás, como demonstra o momento tenso no campo da segurança pública.

No bloco seguinte, com 8 votos, dá-se a primeira presença de voz oposicionista através do deputado Sargento Reginauro (União Brasil), até surpreendendo porque aparentemente existem outros nomes com mais força midiática na turma do contra. Uma minoria bastante barulhenta na Assembleia. O que confirma que há um modo próprio das coisas se moverem no parlamento, não necessariamente confirmada pelas ruas, que a pesquisa do Anuário apresenta o grande valor de captar.

Aponte-se que o governista (e petista) Fernando Santana registra a mesma quantidade de citações do parlamentar oposicionista. Vou recomendar ao leitor que veja a lista completa no quadro abaixo de todos que foram lembrados e com qual intensidade numérica, entendendo a informação embutida nela como de importância para saber os níveis de influência real que cada um tem para as discussões e decisões que são tomadas naquele ambiente fundamental para nossas vidas. Aviso importante: não tem a ver com potencialidades eleitorais ou coisa que valha.

O lançamento do Anuário do Ceará 2024-2025 acontece na segunda-feira, 1º de julho, e a publicação celebra, como tema de capítulo especial dessa edição, os 70 anos da Universidade Federal do Ceará (UFC). O evento, para convidados, reunirá autoridades, acadêmicos e representantes de diversas instituições locais e nacionais.

RANKING DE INFLUENCIA ALECE(Foto: CRISTIANE FROTA)
Foto: CRISTIANE FROTA RANKING DE INFLUENCIA ALECE

A política como ela será

A campanha ainda não começou no calendário, mas na vida real já domina com força o ambiente político, especialmente considerando o que acontece nas redes sociais. O colunista, que sequer participa de qualquer dos grupos existentes por ai cuja ideia é possibilitar uma sinergia ideológica (se é que me entendem) recebeu em seu whatsapp um meme com objetivo de vincular negativamente a imagem do deputado Evandro Leitão (PT) ao incêndio no plenário da Assembleia ainda enquanto as labaredas eram atacadas por bombeiros e voluntários. O que chama ainda mais atenção é a qualidade técnica do vídeo, ou seja, dá para imaginar que existe uma equipe pronta para dar vida às coisas assim que a oportunidade surja. Teremos uma campanha animada, definitivamente.

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O fogo pode apagar o fogo

É paradoxal, mas verdadeiro. O sinistro que deixou marcas de destruição impressionantes no plenário da Assembleia poderá ajudar no esforço que algumas forças internas já vinham fazendo para serenar um pouco os ânimos no parlamento e evitar que a tensão das campanhas nas ruas seja levada para as sessões. Como já existe uma prática consolidada de realizar reuniões remotas e não haverá prejuízo aos debates e às votações (excetuados alguns casos raros que exigem o encontro presencial), gente experiente com acúmulo de mandatos parlamentares, e que previa debates muito acalorados, considera que pelo menos o risco de confronto físico deixa momentaneamente de existir. Não é nada não é nada, é alguma coisa.

Muito partido, nenhum nome

A oposição mostra volume e tenta se organizar para fazer frente ao projeto de reeleição do prefeito de Barbalha, Guilherme Sampaio (PT), que deve chegar forte à campanha eleitoral. Especialmente com os apoios destacados que terá do ministro Camilo Santana e do governador Elmano de Freitas, além do presidente Lula. Um problema: quem será o candidato? A realidade mostra que com os principais líderes - ex-prefeitos Argemiro Sampaio e Rommel Feijó - fora do jogo, porque inelegíveis, não há quem se imponha para tarefa numa aliança que somaria nove partidos, muita coisa. O discurso do bloco, porém, é que exatamente por haver muita alternativa boa a decisão está sendo difícil, esperando-se que a dúvida esteja dirimida na próxima sexta-feira, quando o anúncio do escolhido deve ser feito.

É inteligente usar a força

Está tomada a decisão no âmbito do estadual governo de encarar as consequências do endurecimento da política em relação ao crime organizado. A ordem do governador Elmano de Freitas (PT) ao novo secretário da Segurança Pública, Roberto Sá, é de não retroceder. O anúncio de prioridade inicial às ações de inteligência não pode impedir, avisou ele, uma atenção plena também com a necessidade de resposta imediata ao que aparecer como desafio. Por exemplo, espera-se reação rápida aos eventos criminosos dos últimos dias em Viçosa do Ceará e no Barroso, em Fortaleza, com o registro de duas chacinas. De qualquer forma, na conversa ontem com o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, por precaução já se deixou acertado um reforço federal, caso a situação exija.

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Autonomia pra quê? Pra quem?

A democracia brasileira expõe certa disfuncionalidade com essa história do Banco Central. Alguém eleito com 60 milhões de votos, que se submeteu a uma disputa eleitoral das mais intensas da história, está impedido de criticar uma autoridade hierarquicamente abaixo de sua posição, que alguém antes dele escolheu para estar ali numa decisão monocrática, porque há uma ideia santa de que a autonomia da instituição não pode ser tocada. Ainda mais quando este "intocável" se sente à vontade para fazer declarações que agitam o tal mercado, ente invisível que se decidiu que não pode ser incomodado, ou que faz movimentações de cunho político, com direito até a insinuação de que aceitaria ministério em governo a ser montado pela oposição àquele que está hoje no poder. É uma situação que exige ajuste para o mais breve.

 

Foto do Guálter George

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