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Os climas depois das pesquisas
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Os climas depois das pesquisas

Últimos levantamentos indicam, como síntese possível, que se a eleição acontecesse hoje não teríamos como apontar os favoritos reais à participação no segundo turno da disputa pela prefeitura de Fortaleza
Tipo Análise
1509gualter.jpg (Foto: carlus campos)
Foto: carlus campos 1509gualter.jpg

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As últimas pesquisas eleitorais, com especialidade a mais recente do Instituto Datafolha, contratada pelo O POVO, confirmam algumas teses, colocam outras em xeque, trazem novos elementos, mas, no que é fundamental, indicam, como síntese possível, que se a eleição acontecesse hoje não teríamos como apontar os favoritos reais à participação no segundo turno da disputa pela prefeitura de Fortaleza. Sim, segundo turno, porque quem especular com vitória direta em 6 de outubro, baseando-se no que há de informação pública disponível e no que se pode sentir nas ruas, estará blefando. Por natural que pareça como discurso de campanha.

Conversei, desde a sexta-feira, com algumas figuras ligadas às campanhas e é perceptível a compreensão de que está tudo realmente em aberto. Naturalmente que há muito otimismo entre aqueles próximos às candidaturas de André Fernandes (PL) e Evandro Leitão (PT), na mesma linha em que no entorno do Capitão Wagner (União Brasil) e de José Sarto (PDT) se busca demonstrar preocupação com o novo quadro sem passar a ideia de que a coisa entrou no ritmo da irreversibilidade. Aliás, de um e de outro lado o interesse comum, nas manifestações de tom oficial, é sempre de demonstrar certa racionalidade com o que há hoje e, especialmente, com o que reserva o amanhã.

Numericamente quem aparece à frente no Datafolha, em situação de empate técnico com o Capitão Wagner, é o deputado federal André Fernandes. No entanto, captando-se a intensidade do otimismo, onde prevalecem os otimistas, é em torno de Evandro Leitão que está localizada a melhor expectativa com o que está por vir, pela fé de que o potencial de transferência de voto de Camilo Santana e do presidente Lula parece ainda longe de ser explorado na sua totalidade. Há, inclusive, quem imagine possível que o petista apareça numa primeira posição, mesmo que em situação de empate técnico com outro candidato, já numa das próximas pesquisas a serem divulgadas. Faz sentido, mesmo que talvez prevaleça aqui uma ansiedade meio desmedida que pode ser prejudicial e capaz de frustrar expectativas em relação ao momento esperado para aquilo que se tem convencimento de que acontecerá.

No núcleo próximo a André Fernandes o clima também é de muita festa, nesse caso alguns expressando, já, uma expectativa sincera de que uma vitória em primeiro turno está ao alcance. Até está, mas parece muito pouco provável diante do cenário ainda muito embolado, com quatro segmentos políticos fortes e consistentes dividindo o fortalezense em partes, numa situação em que as chances de migração de um bloco de eleitores em direção a outro candidato se apresenta bastante difícil. Alguém dirá, e a ideia tem circulado por ali nos últimos dias, que na eleição de 2022 ninguém (além do próprio comitê do então candidato petista) apostava numa vitória de Elmano Freitas já na primeira volta, mas ela aconteceu. A diferença agora é que são dois concorrentes num ritmo forte de crescimento, portanto, dificilmente um deles conseguirá se desgarrar por completo dos outros ao ponto de abrir uma vantagem absoluta, como aconteceu naquela ocasião.

E o clima nos entornos do Capitão Wagner e de José Sarto, qual seria? De preocupação, claro, mas, conversando-se com figuras relevantes das duas estruturas políticas, o sentimento verdadeiro é de que há tempo suficiente para conter avanços adversários, onde isso se faz necessário, ou de recuperar espaços onde houve perda de apoio na fase de campanha mais recente. Razão pela qual há, em ambos, atenção mais concentrada na leitura dos números para localizar o que cada estratégia pede na perspectiva de direcionar energia no rumo certo. São três semanas ainda, tempo suficiente para fazer as correções necessárias, desde que, como passo inicial e urgente, os erros cessem. Especialmente no caso do prefeito e seu projeto de reeleição, eles parecem mais facilmente detectáveis e há sinais de que a "limpeza" começou. Vejamos o que dirão os próximos números.

Ivo conserta o erro de Ivo

Ivo Gomes, prefeito de Sobral, até agiu rápido e forte para conter a crise que se instalou a partir de uma situação que chamou de erro, pelo qual pediu desculpas públicas: a conta da água estava sendo entregue nas casas e endereços comerciais do município junto com a taxa do lixo. Ou seja, para que o fornecimento de um não fosse cortado era necessário que o morador pagasse também pelo outro serviço.

Claro que caiu mal, a repercussão estava sendo direta sobre a campanha de Izolda Cela, sua candidata à sucessão, e, por isso, sobrou para o presidente do Saae, Gustavo Weyne, demitido do cargo. Com direito a auditoria para ver se as contas do órgão estavam certas, se houve abusos nas cobranças, desvios etc, buscando-se transferir para o ex-assessor uma responsabilidade, na origem do problema, que era da gestão. Imaginava-se que estava tudo precificado, no aspecto político, mas a realidade se impôs.

Tempo quente em Sobral

Por falar de Izolda Cela e Sobral, a expectativa era de que o anúncio de sua escolha como candidata à prefeitura remeteria a uma campanha tranquila e sem sobressaltos. Especialmente porque veio junto a pacificação com o PT local, que inclusive indicou o companheiro de chapa dela, Paulo Flor, isolando a oposição em torno do grupo dos deputados Oscar e Moses Rodrigues (pai e filho), do União Brasil, o primeiro dos quais foi escolhido como candidato.

Uma expectativa que não se materializou, no sentido literal, inclusive, como demonstra o episódio de violência de ontem que resultou em agressão física contra o ex-prefeito Veveu Arruda, que é marido dela. A ex-governadora não está tendo vida fácil e, claro, conta com ajuda da gestão de Ivo Gomes, que quer dar sequência, no aspecto da estrutura e também evitando criar problemas que resvalem na sua campanha. Como aconteceu neste caso da taxa de lixo e, no comitê dela, espera-se que a ação rápida do prefeito tenha sido suficiente para conter os danos, não sendo possível evitá-los de todo.

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Ainda sobre tempo quente

Alguns lembrarão do candidato à prefeitura de Iguatu que fez sucesso nas redes sociais com o registro em vídeo de uma queda natural que sofreu ao tentar descer de um veículo em ato de campanha. Acidente puro e, apesar da verdade bruta exposta nas imagens, Augusto Correia Lima, nome da fera, correu a vender a versão de que havia sido vítima de um atentado. Coisa tão engraçada que gerou bom engajamento, outras peças eleitorais posteriores, quase que uns esquetes de humor, resumindo, a figura fez sucesso e espalhou alegria nas redes sociais.

A justiça eleitoral acabou com a farra, sexta-feira, e indeferiu o registro dele, que tenta disputar o comando da cidade do Centro Sul, localizada a 360 km de Fortaleza, pelo partido Mobiliza. Sua última chance, agora, é que o Tribunal Superior Eleitoral refaça a decisão tomada pelo juiz local e já confirmada pelo TRE. Enquanto isso, na base do sub judice, o bacana continua a animar uma briga política que, entre os que participam dela para valer, mostra-se a cada dia mais quente. E não falo do calor abrasante da agradável terra, por onde este colunista chegou ao mundo.

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Os votos do desembargadores

Quem torcia por um processo tranquilo na sucessão de Abelardo Benevides como presidente do Tribunal de Justiça começa a se preocupar de verdade. O desembargador Raimundo Nonato Silva Santos, hoje à frente do TRE, anunciou-se candidato, já apresenta planos e, por exemplo, promete como prioridade um ataque firme ao problema da morosidade tão reclamada pela sociedade. Seu corpo-a-corpo junto aos colegas desembargadores, outros 53, já começou na base, diz ele, "do diálogo e da harmonia".

Ou seja, a tendência é que o TJ cearense, após sequência de sucessões acertadas na base dos consensos internos, volte a experimentar uma situação de disputa. Lembrando-se que o atual vice-presidente do TJ é o desembargador Heráclito Vieira, que, de público, mantém silêncio quanto aos planos, se os tem, de subir um degrau na hierarquia para atingir o topo do poder, valendo destacar o papel discreto que tem cumprido na gestão atual. Tão discreto, acrescente-se, quanto eficiente. A eleição acontecerá dia 10 de outubro próximo, conforme edital já publicado pelo comando atual.

O Cariri que espera Lula

Estão mais fortes os sinais de apelo vindos do Cariri em direção à cúpula petista, em Fortaleza, no sentido de intensificar o esforço de convencimento do presidente Lula sobre a importância de uma vinda dele ao Ceará ainda no primeiro turno para fortalecer algumas candidaturas. O que se imagina é que isso acontecendo naturalmente o Juazeiro do Norte entraria na agenda, por sua importância política e pela influência que teria o ministro Camilo Santana na definição das prioridades.

Lembre-se que ele é o maioria avalista da candidatura de Fernando Santana, seu concunhado, inclusive, e há uma preocupação com o fato de o petista não estar conseguindo mobilizar a militância por si, devido à performance pessoal abaixo da esperada.

Uma maior presença de Camilo na campanha vai acontecer, apesar de o planejamento inicial ter sido prejudicado pelo problema de saúde que enfrentou nos últimos dias, mas há um convencimento de que a injeção extra para animar a reta final na luta para derrotar o atual prefeito Glêdson Bezerra (Podemos) viria mesmo com uma passagem de Lula pela cidade. É difícil que o Padre Cícero possa ajudar no caso porque há demandas do outro lado por atender no sentido contrário.

E o Rio de Janeiro hein?

Chama atenção o quadro político no Rio de Janeiro, mais uma vez, pelo seu aspecto negativo, quase jocoso. Dois ex-governadores enfrentam sérias dificuldades no reinício de vida pública a que se propuseram em 2024, após amargarem prisões, processos e acusações várias, disputando respectivamente uma pequena prefeitura e uma vaga em Câmara de Vereadores, ambos os casos no Interior do estado. Um deles é Luiz Fernando Pezão (MDB), que registrou candidatura à prefeitura de sua pequena Pirai, na região Sul do Rio, o que significaria uma volta ao começo de sua caminhada na vida pública. O outro é o polêmico Anthony Garotinho (Republicanos), hoje um bolsonarista de carteirinha e que tenta uma vaga no legislativo de Campos, terra natal dele e que tem como prefeito atualmente seu filho e correligionário, Wladimir Garotinho. Quem pode barrar os projetos dos ex-governadores fluminenses é a justiça, que, nos dois casos, já indeferiu os registros devido à presença dos seus nomes na lei da Ficha Limpa. Mais rolos políticos para Brasília, via TSE, resolver no âmbito da justiça eleitoral.

 

Foto do Guálter George

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