
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
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Há hipocrisia em ataques recentes feitos ao governo do Ceará, considerada a sua cúpula política, pelo que se entende como escolha errada de prioridades. O exemplo da semana diz respeito à mobilização de gente grande no poder local, em movimento liderado pelo influente secretário da Casa Civil, Chagas Vieira, em favor da conterrânea Renata Saldanha na disputa pelo prêmio principal do Big Brother Brasil 25 - ganha por ela, inclusive. Coisa inocente, tanto quanto inútil.
Porém, hipocrisia oposicionista à parte, é tempo de o pessoal acordar para uma realidade muito desafiadora para quem está no lugar da política contemporânea cearense no qual as grandes decisões são tomadas. Mesmo que seja injusto, e irreal, cobrar dos governantes que eles dediquem 100% do tempo e da atenção aos problemas que de fato afligem o dia a dia do cidadão, deve-se entender, de outra parte, que qualquer desvio de prioridade deve acontecer em tempo rápido e da forma mais sutil possível. Ao ponto de, como medida ideal, não ser percebida em determinadas circunstâncias.
A impressão que há nas ruas, e não sei se é uma situação captada nos gabinetes oficiais na dimensão exata, é de que temos uma sociedade cada vez mais assustada, para pegar um tema específico, com um cenário de segurança pública muito distante daquele que se tem como adequado. O crime organizado, através das tais facções, envia recados ousados aos quais o Estado não tem conseguido responder com força suficiente para devolver a tranquilidade ao cearense.
Seria injusto dizer que nada acontece de positivo. Pelo contrário, há ações feitas, em curso e anunciadas, que tentam reagir às provocações dos criminosos, só que o resultado prático segue ainda a alguma distância do que seria necessário. A objetividade dos números não permite que se conteste as melhorias nas estatísticas da violência nossa de cada dia, mas é importante que isso chegue à sensação das pessoas. Algo que não se deu ainda e que precisa ser considerado na equação completa, sempre.
Tem-se a impressão de um certo deslumbramento, vez em quando, no seio dos detentores atuais do poder local. Talvez pelo embalo da vitória eleitoral de 2024 em Fortaleza, com Evandro Leitão (PT), que, se mal interpretada, arrisca gerar um sentimento conclusivo equivocado de que "tudo se pode".
Por mais espetacular que o resultado tenha sido, realmente, diante das circunstâncias de uma candidatura adversária forte (André Fernandes, do PL, no 2º turno), enfrentando uma oposição unida como raras vezes acontece e em meio a um cenário político de País que parecia desfavorável.
Um quadro de dominação política conjuntural é muitas vezes enganoso e, erroneamente administrado no seu limite, pode levar a caminhos equivocados. Vitórias eleitorais não necessariamente indicam satisfação absoluta de quem vota com quem está no poder e o fato de um mesmo grupo abarcar tantos espaços, como acontece hoje no Ceará, exige uma interpretação inteligente para não determinar escolhas enganosas, capazes de gerar arrependimentos futuros.
Em coisas básicas, como a definição dos temas mais leves que devem mobilizar concentradamente seus líderes em dado momento, ou, olhando a coisa com mais profundidade, no debate de fundamento estratégico na política e na administração. É uma reflexão.
No que diz respeito à "feira" em que se transformou o espaço da UTI do hospital particular onde o ex-presidente Jair Bolsonaro está internado em Brasília desde o dia 12, chama atenção que o Conselho Regional de Medicina tenha decidido atuar apenas agora para colocar ordem nas coisas.
A decisão do ministro Alexandre de Moraes de mandar notificá-lo ainda no leito hospitalar tem a ver, exatamente, com o espetáculo diário que o próprio paciente protagonizava, nas redes sociais e na imprensa, sem os cuidados e os controles que, por protocolo, as áreas costumam determinar.
Espera-se que de tanta coisa errada, desde o começo, não acabe sobrando apenas para a oficial de justiça que ali esteve cumprindo sua missão profissional e, ao contrário dos demais registros de contato com Bolsonaro, adotava os cuidados mínimos normalmente exigidos. Por exemplo, usando máscaras.
Há gente incomodada no Tribunal de Justiça do Ceará com o comportamento adotado mais recentemente pelo desembargador Raimundo Nonato, em manifestações acerca do que considera quadro crítico da segurança pública cearense, desconsiderando que, da posição na qual está localizado, faz parte da solução que a sociedade espera de quem ocupa funções públicas em nome do Estado.
O magistrado tem feito falas descuidadas acerca da situação, como aconteceu recentemente ao reclamar que "o Estado legal foi engolido pelo estado criminoso". Constatação do tipo pode fazer o cidadão comum, esperando-se das autoridades, caso dele, ação e disposição para enfrentar o quadro e revertê-lo. Candidato derrotado à presidência da Corte, recentemente, talvez ele precise modular melhor as palavras.
Tem tudo para ser animada a convenção estadual que o PSB realiza neste domingo, dia 26, em Fortaleza. Como é costume de o senador Cid Gomes aproveitar tais momentos para declarações reveladoras, há uma expectativa forte de que seu discurso encaminhe a ideia real de que seu grupo, que não necessariamente representa o que pensa o partido, projeta para o ano decisivo de 2026.
Pode ser também uma chance de observar se procedem as especulações de que as relações políticas dele com o ministro Camilo Santana, do PT, já não estariam no mesmo alinhamento de até um tempo atrás. Aos esquecidos, um lembrete: hoje é aniversário dele, Cid.
Outra figura que gera expectativa no evento partidário do dia, observado o tamanho que passou a ter dentro dele, é o deputado estadual Romeu Aldigheri, presidente da Assembleia Legislativa. Com nome também citado na extensa lista de pré-candidatos ao Senado na aliança governista, o político trabalha com vários cenários e pretende escolher o que melhor lhe convir na hora certa. Pode ser candidato à reeleição, se o apoio à continuação na presidência lhe for apontada como uma espécie de garantia; pode disputar cadeira na Câmara Federal, já que tem o sonho pessoal de ocupar o vácuo político deixado pelo tio Vicente Arruda; ou, finalmente, admite disputa por uma das duas vagas de senador, como resultado de um amplo acordo. Eu apostaria na primeira alternativa, dentre as três.
Firme na intenção de lutar pela inclusão de seu nome na chapa majoritária da aliança governista em 2026, como candidato ao Senado pelo PT, o deputado federal José Guimarães cumpriu agenda movimentada nos últimos dias no Cariri.
A disputa partidária interna, que escolhe novos dirigentes em julho próximo, também esteve na pauta dos encontros que o levaram, na sequência, a Mauriti, Salitre, Araripe e Barbalha. O parlamentar, que é ainda líder do governo Lula na Câmara, não se sente atingido nos seus planos eleitorais futuros por qualquer movimento novo entre os vários interessados nas duas vagas em disputa pelas várias forças aliadas ao governo estadual.
Avançaram, de verdade, as conversas do ex-prefeito Roberto Cláudio com figuras nacionais da linha de decisão do União Brasil. O que aconteceu no ano passado, durante o segundo turno das eleições de Fortaleza, é muito determinante da fluidez das conversas agora, porque os eventos da época serviram para zerar diferenças que até então se entendia insanáveis.
Especialmente com o ex-vereador e ex-deputado Capitão Wagner, de uma trajetória marcada por críticas ao (ainda) pedetista e àquilo que representava politicamente. É acertar os detalhes, definir os papéis dedicados a cada um no arco oposicionista em relação à próxima aventura eleitoral e partir para os anúncios.
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