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Sinais de uma democracia enferma
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Sinais de uma democracia enferma

O grave, do que tem acontecido em tempos recentes, é que a opção pela violência física cresce como caminho de muitos dos que ocupam mandatos populares, ou seja, já não estamos mais falando apenas de agressões verbais
Gilvan da Federal já se envolveu em várias polêmicas (Foto: Reprodução/vídeo)
Foto: Reprodução/vídeo Gilvan da Federal já se envolveu em várias polêmicas

Acumulam-se os exemplos de intolerância política dentro dos parlamentos brasileiros. Seja no Congresso, em assembleias estaduais ou Câmaras de Vereadores, tornaram-se quase diários os episódios nos quais a disputa de ideias no campo retórico é substituído pelo ataque pessoal, puro e simples, contra aquele com quem há divergência. O grave, do que tem acontecido em tempos recentes, é que a opção pela violência física cresce como caminho de muitos dos que ocupam mandatos populares, ou seja, já não estamos mais falando apenas de agressões verbais.

Os deputados federais Gilvan da Federal (PL) e Lindbergh Farias (PT) serão usados como personagens-símbolos da situação acima relatada, já que, na Câmara, andaram muito próximos de resolver suas diferenças políticas no braço. Aconteceu na última terça-feira, dia 29 de abril, durante uma audiência da Comissão de Segurança Pública, tomada pelos bolsonaristas, que tinha como destaque a presença do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski. Uma coisa dos tempos bárbaros, que deveria envergonhar a uma sociedade civilizada.

 

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Foto: carlus campos 0405GUALTER.jpg

Gilvan da Federal, que carrega no nome político a instituição à qual pertence originalmente (é da Polícia Federal), talvez seja apenas o que mais de extravagante a legislatura atual oferece ao País. Acumula situações nas quais demonstra absoluta falta de espírito democrático, ao ponto de estar próximo de enfrentar uma punição sugerida pela mesa diretora da Câmara, que propôs ao Conselho de Ética uma suspensão de seis meses no seu mandato. Uma ação firme isolada contra ele, embora não sendo suficiente para resolver o problema, pode, pelo menos no Congresso, servir de advertência a outros que tentam diariamente conturbar o ambiente com atitudes intolerantes a qualquer visão contrária.

O certo é que o Brasil já teve outros momentos de disputa concentrada entre duas forças políticas diretas, diferenciando-se apenas que não existia um objetivo expresso de eliminar o outro como objetivo central, como acontece hoje. Entre 1994 e 2014, para recorrer ao exemplo mais recente disponível, com muitos personagens ainda vivos e na ativa, PT e PSDB brigavam duramente pelo voto do brasileiro, nem sempre as práticas eram as recomendáveis, mas seus candidatos ganhavam e perdiam sem que o cotidiano das pessoas fosse transformado nesse espaço de disputa alimentado o tempo todo pelo ódio recíproco. Ninguém precisa gostar de ninguém, basta respeitar.

Quase que os dois parlamentares protagonizam uma briga corporal, algo que somente não aconteceu porque colegas mais prudentes se interpuseram entre eles para evitar o espetáculo grotesco que estivemos muito próximos de assistir (e vivenciar, no caso dos dois). Fosse uma situação isolada até se poderia aceitar como algo suportável diante do momento bagunçado da nossa política, mas, ao contrário, transformou-se no normal dos parlamentos brasileiros, o que contraria até o sentido etimológico da palavra. Exemplos quase diários espalham-se Brasil afora, quase que o tempo todo.

É uma situação que expõe a democracia, como ambiente da convivência entre contrários que deve simbolizar, caminhando para a morte caso não aconteça uma reação de suas forças representativas - à direita, à esquerda e ao centro. É necessário ressaltar que o fenômeno guarda alguma relação com o crescimento recente do conservadorismo, já que é marca de alguns dos seus expoentes mais vistoso a preferência por um estilo de pouco respeito com os adversários, até sendo violento quando conveniente. O Gilvan da Federal, citado acima, é uma expressão viva disso.

Calma Secretário, calma

Nem sempre a agilidade do secretário Chagas Vieira, da Casa Civil, se reverte em boas reações à artilharia pesada e frequente da oposição. É ruim, por exemplo, a parte de suas respostas aos ataques do Capitão Wagner (União Brasil) nas quais tenta desqualificá-lo, ironicamente, chamando-o de "candidato eternamente derrotado". Se há algo que não diminui a figura do político em questão é o fato dele ter disputado várias eleições, independente de ter ganhado ou perdido. Seria útil alguém do entorno do Casa Civil do Abolição, que pareça capaz de se fazer ouvir, advertir ao secretário. Entra-se numa eleição para ganhar ou perder, alias, o governador Elmano de Freitas sabe disso com seu histórico de derrotas, que em nada o diminui.

O favoritismo balança?

Começam a surgir pesquisas eleitorais sobre 2026, por mais que muitas vezes existam desconfianças justificadas com os institutos locais, indicando que a vida de João Campos (PSB) pode não ser tão tranquila quanto ele mesmo imaginava na sua caminhada rumo ao governo de Pernambuco. Há outros sinais de que a atual ocupante do cargo, Rachel Lyra, que acaba de trocar o PSDB pelo PSD, organiza sua vida, e a própria gestão, para chegar ao período eleitoral com chances de reeleição. Claro que o atual prefeito de Recife vai calibrar bem sua decisão de renunciar ao cargo, algo que uma candidatura no próximo ano exigiria, adequando-a à realidade do momento, que hoje segue lhe sendo favorável.

A solução do Ceará

Uma das vozes influentes do União Brasil local, em contato permanente com o presidente da executiva nacional, Antonio Rueda, o deputado federal Danilo Forte adianta que o Ceará não será problema nos acordos políticos e eleitorais a serem fechados a partir da federação recém-criada com o PP. "Pelo contrário, seremos solução", disse à coluna, não enxergando dificuldade para, mais adiante, um acerto que garanta um nome forte para brigar pelo governo do Ceará em 2026. O robusto fundo eleitoral que estará à disposição, cita ele, certamente influenciará numa escolha que assegure competitividade ao grupo. Quanto à dificuldade que pode representar o fato de os progressistas serem hoje aliados do governo de Elmano de Freitas, segundo o parlamentar, "será resolvido com o tempo, tenho certeza"

RC reforça a lista

Os movimentos recentes de Roberto Cláudio insinuando-se disposto a ser o candidato da oposição no Ceará são bem vistos por Danilo Forte, que, no entanto, não o crava como escolhido desde agora. "Temos excelentes opções", diz, citando, além do Capitão Wagner, o prefeito de Juazeiro do Norte, Glêdson Bezerra (do Podemos), e o deputado federal Moses Rodrigues, seu correligionário. Para ele, o mais importante hoje é consolidar na cabeça do cearense a ideia de que chegou o momento de uma alternância no poder, tirando-o das mesmas mãos às quais esteve entregue nos últimos 19 anos.

 


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