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O governismo dá sinais de que quer briga
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

O governismo dá sinais de que quer briga

As críticas fortes de Eudoro Santana contra Ciro Gomes e a troca de farpas abertas com o prefeito de Juazeiro do Norte, Glêdson Bezerra, fatos que marcaram a semana, simbolizam a mudança de status no ambiente político
Tipo Opinião
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1412gualter.jpg (Foto: carlus campos)
Foto: carlus campos 1412gualter.jpg

A articulação governista fez seus cálculos e concluiu ter chegado a hora de não deixar mais ataque sem defesa, após um tempo de acompanhamento cuidadoso, em silêncio, dos torpedos que vinham da oposição. As críticas fortes de Eudoro Santana contra Ciro Gomes e a troca de farpas abertas com o prefeito de Juazeiro do Norte, Glêdson Bezerra, fatos que marcaram a semana, simbolizam a mudança de status no ambiente político.

No caso da decisão de ir pra cima de Ciro há um cuidado extra adotado porque falta certeza de que o movimento será compreendido pelos irmãos que seguem aliados, no caso, o senador Cid Gomes, a deputada Lia e o ex-prefeito Ivo. Nenhum deles, é sabido, sente-se confortável ao ouvir alguém falando mal de Ciro, por mais que divirjam de suas posições e, em especial, de suas recentes conclusões negativas sobre o momento do Ceará.

É sempre necessário lembrar que Lia Gomes, por exemplo, faz parte do governo Elmano de Freitas, como secretária das Mulheres, o que a transforma em partícipe do que Ciro Gomes tem chamado de "desastre administrativo" que acontece no Ceará. Claro que Eudoro, do alto dos seus 89 anos e com uma história de vida pública a respaldá-lo, não precisaria pedir autorização dos familiares do seu ex-aliado para, na verdade, defender-se de acusações continuadas feitas contra ele. O alvo é o filho, Camilo Santana, mas o nome do experiente político tem aparecido frequentemente nos ataques de Ciro às práticas políticas contra as quais diz estar lutando hoje.

Acontece, concluiu-se, que a hora é boa para fustigar Ciro Gomes diante do momento de fogo amigo, inclusive com decisão já tomada pelo PL de abandonar a aliança que se tenta formar em torno do seu nome como candidato de oposição ao governo do Ceará. O tucano segue calado diante das críticas e ataques dos bolsonaristas que precederam o anúncio de abandono do barco, puxadas pela ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, e ficará feio se aparecer agora respondendo a Eudoro, o que demonstraria uma "coragem" seletiva, de conveniência.

Da mesma forma que as críticas de Elmano de Freitas a Glêdson Bezerra atenderam a um sentido estratégico. Afinal, trata-se de uma das figuras oposicionistas que devem exigir atenção especial para 2026, mesmo que pareçam pequenas as chances de o nome dele constar na urna, sequer como vice. O ataque inicial de Elmano e a entrada depois na briga de Chagas Vieira (secretário da Casa Civil), que andou trocando mensagens ofensivas com o prefeito via redes sociais, são resultado de uma leitura de que o político caririense tem potencial para criar algumas complicações eleitorais, da posição em que esteja. Pelo fato de ser uma liderança do interior, de onde se espera, no Palácio da Abolição, que venha a vitória no próximo ano.

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A síntese de tudo é que, de maneira definitiva, a política atropelou o calendário e já antecipou 2026. Com o governo assumindo a ofensiva, o que parece novidade, talvez imaginando estar diante de uma chance de gerar dúvidas entre potenciais opositores quanto à conveniência de levar adiante um projeto que andou experimentando revezes importantes nos últimos dias. No entanto, ainda falta uma leitura mais conclusiva do que exatamente representa o silêncio recente de Ciro Gomes, havendo quem a considere, inclusive, sinal de que ele está disposto a sacrifícios para viabilizar-se candidato com apoio de todas as oposições.

A justiça quando é justa

Presidente da Comissão de Políticas Judiciárias pela Equidade Racial no Tribunal de Justiça do Ceará, o desembargador André Costa comemora os resultados do mutirão de julgamento e impulsionamento de processos. Foram, até novembro, 539 impulsionados e 653 prioridades, o que deu liderança nacional ao Judiciário local, fruto, diz o magistrado, "de um trabalho coletivo, coordenado e comprometido" da gestão e dos servidores envolvidos. E complementa: "Priorizar o combate ao racismo, preconceito, discriminação, intolerâncias raciais e religiosas, (apoiar) ações afirmativas, cotas raciais e heteroidentificação é uma forma eficaz de garantir direitos e de fazer justiça".

Os cuidados de Eunício

À medida em que o tempo passa vai ficando mais claro o incômodo do deputado federal Eunício Oliveira, do MDB, com o tratamento que recebe da aliança governista nas conversas sobre a formação da chapa majoritária. Pré-candidato ao Senado, ele tem dito que se acha escanteado nas conversas e até já ameaça pular fora do barco, sinalizando para a oposição em alguns movimentos. A questão, para ele, é que também lá pode enfrentar dificuldades para ser acomodado na posição que reivindica. Lembremos que o parlamentar administra um certo trauma da campanha de 2018, quando disputava reeleição como candidato a senador e mistérios observados na reta final lhe impuseram uma inesperada derrota. Na época, para Luiz Eduardo Girão.

A oposição "do bem"

Gabriel Aguiar, do Psol, claro que busca se afastar do tipo de oposição que fazem os bolsonaristas e aliados, mas a cada dia se comporta menos como base da gestão Evandro Leitão (PT). Sua última crítica ao prefeito que ajudou a eleger, um ano atrás, diz respeito à escolha de grama artificial para a Praça do Ferreira. Menos mal que Leitão, mostrando capacidade de absorver uma crítica que entenda de boa fé, já sinalize com a possibilidade de rever a situação e voltar com grama natural para o espaço público.

Cadeira, na prática, vazia

Sabe-se lá o que vai fazer a Câmara dos Deputados para atravessar os próximos 13 meses, com uma eleição no meio, tendo um presidente de mesa diretora apto a cumprir apenas formalidades a partir de agora. A caneta estará lá à disposição de Hugo Mota (Republicanos-PB), a cadeira que ele tanto preza, também, mas o fato é que a semana trágica, com erros sucessivos na condução dos trabalhos, tirou o seu poder real. Sem dar indicações de que tem capacidade de reverter o cenário que lhe é desfavorável no tempo que resta de mandato.

O avanço de mais uma casa

Moses Rodrigues, o deputado federal do União Brasil que já anunciou voto em Elmano de Freitas enquanto seu partido avança nas conversas com a oposição, consolidou na semana sua aproximação com o petismo cearense. Relator do novo Plano Nacional de Educação, em Comissão Especial instituída na Câmara para tratar do assunto, ele foi objeto de fartos elogios do ministro Camilo Santana pelo texto final que conseguiu aprovar estabelecendo as principais estratégias para o decênio 2025/2035. Parte daquelas palavras elogiosas do influente líder petista, claro, embutiam interesse eleitoral de ter o parlamentar no palanque governista e, por consequência, bagunçar o ambiente oposicionista. O constrangimento, por enquanto, é administrado de maneira silenciosa por figuras como o Capitão Wagner e Roberto Cláudio.

O apoio está mais caro

A situação do deputado federal Júnior Mano (PSB), quanto ao projeto de disputar o Senado na próxima eleição, complicou-se um pouco mais (se isso é possível) a partir da última sexta-feira. O aparecimento do nome dele nas anotações da ex-assessora de Artur Lira investigada pela Polícia Federal, Mariângela Fialek, abre um novo capítulo na novela que o envolve com suspeitas de malfeitos com dinheiro oriundo das tais emendas parlamentares. A cada evento novo o custo de sustentar a indicação fica mais caro para o senador Cid Gomes, principal padrinho político da pré-candidatura.

 

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