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Aprendendo a amar
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Psicoterapeuta sistêmico com especialização em Psicologia Transpessoal e Psicoterapia Somática Integrada. Viveu na Índia onde se aprofundou em diversas abordagens terapêuticas e de meditação. Fez cursos e supervisão em Constelação Familiar com Bert e Sophie Hellinger e foi o introdutor da Constelação no Ceará; Ashara atende individualmente e ministra cursos de formação em Constelação em diversas cidades do Brasil. Veja mais: www.ashara.com.br

Guilherme Ashara comportamento

Aprendendo a amar

Queremos muito amar e ser amados, mas não queremos ser vulneráveis. Mas como amar sem sentir? Então, arriscamos nos abrir novamente para o outro, com a esperança que o amor nos salve.
Tipo Análise
A vulnerabilidade é um dos passos para o amor  (Foto: Travis Grossen/Unsplash)
Foto: Travis Grossen/Unsplash A vulnerabilidade é um dos passos para o amor

O caminho de volta ao amor nos obriga a retornar ao estado de vulnerabilidade. Porém quando pensamos em vulnerabilidade normalmente queremos fugir dela. Nem pensamos em nos tornar vulneráveis. A identificamos com fraqueza e insegurança. Daí termos uma verdadeira aversão à ideia de nos tornarmos vulneráveis.

Uma definição de vulnerabilidade que encontrei na internet: “é a qualidade de ser exposto à possibilidade de ser atacado ou prejudicado, seja fisicamente ou emocionalmente”. Quando pensamos sobre ser atacado ou prejudicado, claro que não queremos isso para nós.

Porém, vulnerabilidade é muito mais que isso. É o estado de ser sensível, maleável, receptivo e inocente. É um estado de tremenda abertura à vida e ao outro. Éramos vulneráveis quando viemos ao mundo. Quando pequenos o mundo todo nos tocava e éramos maravilhados pela vida.

Krishnananda e Amana Trobe em seu livro "Learning Love" (Aprendendo a Amar), escrevem: “Quando crescemos aos poucos perdemos esse estado de sensibilidade. A alegria e a inocência se vão. Perdemos a nossa espontaneidade, e frequentemente nos tornamos cautelosos e desconfiados.”

Por que nos afastamos da nossa sensibilidade, da nossa vulnerabilidade? Qual a ligação da vulnerabilidade com o amor?

Na nossa infância e até mesmo dentro do útero já sentimos o quanto o mundo pode ser temeroso e violento. Experimentamos na nossa primeira infância muitos conflitos dos nossos pais, violências domésticas, separações, abusos, críticas, bullyings.

A vida prática já nos mostra que pode nos ‘atacar’ ou nos ‘prejudicar’ antes mesmo de darmos a primeira respiração. Como a criança nos primeiros 7 anos de vida é fundamentalmente emocional, ela é como uma esponja, absorve todo que acontece no seu meio.

Tudo isso implica que a criança precisa criar camadas de proteção para sobreviver a esse ‘mundo cão’. Ela inconsciente e intuitivamente vai encontrando maneiras de como se adaptar a esse mundo desconhecido e perigoso.

No início essas couraças serviam como estratégias de sobrevivência, mas agora as utilizamos para evitar sentir o incômodo, a dor e o medo. Fica claro que quando evitamos sentir, nos afastamos das outras pessoas. Como também nos afastamos de nós mesmos.

Se evitamos sentir, temos que nos proteger de quem quer se aproximar mais intimamente do nós. Essa é a razão pela qual não sentir significa não amar. Se evitamos a vulnerabilidade não podemos nos aproximar de ninguém, consequentemente não podemos amar ninguém.

E essa é toda a dor do amor. Queremos muito amar e ser amados, mas não queremos ser vulneráveis. Mas como amar sem sentir? Então, arriscamos nos abrir novamente para o outro, com a esperança que o amor nos salve. Mas a dificuldade vem quando o outro também está se permitindo amar mesmo sabendo que esse amor possa fazê-lo sofrer novamente.

O caminho de volta ao amor, ao lar interior tem três camadas principais. A primeira camada - e a mais interna, é onde mora o amor incondicional. É a nossa essência. Ela guarda toda as nossas qualidades essenciais - como amorosidade, alegria, entusiasmo, vitalidade e confiança.

Aos poucos a vida ‘nos obriga’ a sermos fortes e duros, então perdemos a amorosidade. Nos ‘provam’ que a vida é seria, então perdemos a alegria, o riso. Somos criticados quando vivemos intensamente, então nosso entusiasmo e vitalidade se esvaem.

Encobrindo a camada da essência temos uma camada de feridas. Nas palavras de Krishnananda e Amana “Lentamente, nossa inocência é perdida, nossa confiança se torna desconfiança, nossa espontaneidade se transforma em medo e prudência. Perdemos a maior parte da nossa vitalidade e nossa convicção se torna dúvida”.

Nessa camada reside a nossa ‘criança ferida’. Imagine uma criança de dois, três, quatro ou cinco anos sendo espancada, julgada, abusada, incompreendida, traída, não apreciada ou rejeitada. Como você acha que essa criança se sente.

Pare um pouco e olhe a si mesmo. Se você sente algum desses sentimentos e dores é porque você ainda carrega essa criança ferida dentro de você. Ela suplica que você a olhe, a acolha, a ame. Só assim pode se iniciar um processo de cura.

Por causa das feridas, dos medos e inseguranças construímos uma terceira camada - a camada de proteção - para encobrir esses sentimentos dolorosos.

Para reencontrar o amor precisamos aos poucos caminhar para trás. Precisamos nos desarmar e perceber que somos seres sensíveis e vulneráveis. Temos que criar coragem para sentir e acolher as nossas feridas e dores. E finalmente podemos voltar para o ‘Jardim do Éden’. Um espaço interno que deixamos provisoriamente, mas que continua nos esperando. Lá encontramos o autoamor, a confiança, a beleza, a criatividade e a alegria de viver.

Namastê!

 

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