Associações militares sob a mira da CPI receberam R$ 127 milhões em uma década
Henrique Araújo é jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Articulista e cronista do O POVO, escreve às quartas e sextas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades e editor-adjunto de Política.
Associações militares sob a mira da CPI receberam R$ 127 milhões em uma década
Entre 2010, ano de início da contagem feita pelos parlamentares, e julho deste ano, as entidades militares sob a mira da CPI receberam R$ 127.780.818,30 em seus caixas (valor já corrigido com base na taxa do IPCA de agosto de 2021)
Associações militares investigadas pela CPI do Motim receberam R$ 127 milhões em uma década. A informação consta de documentos já encaminhados pela Secretaria do Planejamento e Gestão do Estado (Seplag) à comissão da Assembleia Legislativa do Ceará (AL-CE), que apura repasses das entidades e possível uso político desses valores.
Uma das hipóteses dos deputados estaduais que integram o colegiado é que parte desse dinheiro tenha financiado paralisações de policiais e bombeiros militares em 2011 e 2020, quando o motim voltou a se repetir.
Entre 2010, ano de início da contagem feita pelos parlamentares, e julho deste ano, as entidades sob a mira da CPI receberam R$ 127.780.818,30 em seus caixas (valor já corrigido com base na taxa do IPCA de agosto de 2021). Considerando o valor nominal - sem a correção inflacionária - o montante é de R$ 101.798.917,48.
Essa verba é oriunda de contribuição de militares cearenses descontada ainda na folha de pagamento do Estado. Conforme legislação, contudo, esse quantitativo não pode se destinar a qualquer finalidade expressamente política, mas apenas recreativa, principal razão de existência das entidades.
Em 2011, ano do primeiro motim de militares do Ceará, as associações foram beneficiadas com R$ 5.913.528,94, cifra que passaria a R$ 8.092.277,44 no ano seguinte – um aumento de 36,84%.
Os grêmios só registrariam novo crescimento significativo nos repasses em 2016, também ano eleitoral, assim como havia sido 2012, na esteira do qual lideranças da categoria se lançaram em disputas eleitorais. Uma das mais importantes foi o então candidato a vereador, Capitão Wagner, hoje deputado federal e pré-candidato ao Governo em 2022.
Naquele ano (2016), militares destinaram R$ 13.192.967,31 para as entidades, contra R$ 10.467.087,37 recebidos um ano antes (2015). Um aumento de 26,04% no ano da eleição municipal.
Mas foi em 2019, véspera do motim da PM, que as entidades atingiram ponto máximo de arrecadação: R$ 17.697.861,64. Foi o maior repasse anotado na década para esses grupos.
Já em 2020, esse repasse sofreria uma queda brusca, passando para R$ 10.604.350,37 – uma perda de R$ 7.093.511,27, ou 40% de perda de receita.
Pela primeira vez na década, o total de recursos recebido foi inferior ao contabilizado no ano imediatamente anterior. Esse derretimento de receita se seguiu à paralisação dos PMs, que começou em 18 de fevereiro de 2020, ainda no início do ano. Os repasses são calculados mês a mês, até dezembro.
Entre as suspeitas da CPI do Motim, está a possibilidade de que uma fração desses repasses tenha ajudado a impulsionar a paralisação de PMs no Ceará.
Além dos documentos que demonstram financiamento e movimentação bancária, deputados também analisam registros de imagem e vídeo de protestos realizados por militares no entorno da Assembleia Legislativa, dias antes da deflagração do motim.
Membros da CPI cogitam que o valor repassado às entidades pode ser ainda maior. Os parlamentares examinam os dados e estudam caminhos antes de definirem as primeiras convocações da comissão, que devem começar a partir de meados de outubro, com aprovação de requerimentos.
Valores recebidos pelas associações de militares do CE (atualizados pelo IPCA Agosto de 2021)
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