Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
A estratégia é clara: federalizar ao máximo a disputa eleitoral em Fortaleza, projetando o presidente da Assembleia como integrante do "time do Lula e do Elmano"
Presente ao ato de Evandro Leitão (PT) no último domingo, 8, o ministro Camilo Santana (Educação) definiu a campanha do aliado à Prefeitura em termos nacionais, ou seja, a plataforma do petista se vincula à gestão de programas do Governo Federal, a exemplo - nas palavras do próprio chefe do MEC - do "Minha casa, minha vida, do Bolsa Família, do Mais Médicos, do Farmácia Popular e do Pé-de-Meia". A estratégia é clara: federalizar ao máximo a disputa eleitoral em Fortaleza, projetando o presidente da Assembleia como integrante do "time do Lula e do Elmano" e deslocando o campo do debate para uma confrontação de projetos já contrastados em 2022 e da qual o petismo saiu vencedor. A ver se a aposta nessa "desmunicipalização" do pleito de 2024 pode se efetivar. A pouco menos de 30 dias do 1º turno, as próximas rodadas de pesquisas devem redesenhar os planos de cada postulante.
A força dos jingles de André
Sem tanto tempo de TV quanto Evandro, o deputado federal e candidato do PL André Fernandes tem inegavelmente um trunfo nesta eleição: a força dos seus jingles de campanha. Até agora, o bolsonarista parece ser o único entre os postulantes ao Paço que, na hora de preparar o seu cardápio de músicas, levou em consideração um elemento crucial: o potencial das redes sociais, notadamente do TikTok. É lá sobretudo onde o concorrente tem nadado de braçada, com o sucesso dos cortes e sem que nenhum dos seus oponentes consiga lhe fazer frente. Convenhamos: goste-se ou não do parlamentar, as peças têm aquela capacidade de grudar à primeira audição, produzindo engajamento e mobilizando eleitores para além de sua base mais fiel, o que é, ao cabo, a finalidade de toda obra do tipo, principalmente numa corrida cujas distâncias entre candidatos não deve ultrapassar dois pontos percentuais.
Capitão Wagner no ataque
Estão no ar os primeiros sinais de que a semana que começa demarca uma etapa mais agressiva da campanha. Pelas redes, por exemplo, Capitão Wagner lançou uma blitz contra Sarto, Evandro e André, a quem ele associou, pela ordem, as imagens de uma mala de óculos, um poste correndo e um barbeador chorando - abaixo dela, a frase "Acabou o recreio". Supõe-se que, de agora em diante, o ex-secretário adote postura mais firme, sob risco de sofrer um processo de "moronização". Para tanto, Wagner tem de calibrar discurso e gestos: nem tão paz&amor nem tão hostil, de modo a incorporar um capital que Ricardo Nunes (MDB) vem tentando explorar em São Paulo. Lá, o prefeito usa como tática a tese segundo a qual as melhores chances de vitória de Guilherme Boulos (Psol) estão exatamente contra Pablo Marçal (PRTB). Guardadas as proporções, esse é precisamente o entendimento do entorno de Evandro Leitão, qual seja, o 2º turno ideal seria um enfrentamento contra André Fernandes.
"Megacarreata" e outros exageros
A disputa em Fortaleza transcorre lastreada numa terminologia superlativa. Já não se faz mais carreata - o que, por si, é excessivo -, mas "megacarreata", uma excrescência se se pensar no péssimo exemplo que os aspirantes a prefeito/vereador acabam por dar aos munícipes a quem pedem o voto. Afinal, trata-se de evento no qual se desrespeitam todas as normas de civilidade numa metrópole, das leis de trânsito (pessoas transportadas na traseira de caminhonetes) à legislação ambiental (poluição sonora). É como se a campanha consagrasse a suspensão de todo regramento urbano, instituindo salvo-conduto para descumprimento do que está previsto em lei. O agravante é que os próprios gestores/postulantes se encarreguem de normalizar a balbúrdia.
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